Quatro meses após crime, mãe de Janaína Bezerra desabafa: “Não temos mais vida”
A jovem era estudante de jornalismo e foi brutalmente assassinada dentro da Universidade Federal do Piauí (UFPI) em janeiro deste ano.
“Ser mãe me trouxe o medo de morrer”. Essa é uma das frases mais impactantes ditas e pensadas por mulheres que se tornaram mães. Mas e quando uma mãe perde o próprio filho? Quanto de dor e angústia ela sente? Isso é o que vive diariamente dona Maria do Socorro, mãe da estudante de Jornalismo Janaína Bezerra, de 21 anos, estuprada e assassinada durante uma calourada na Universidade Federal do Piauí (UFPI) no dia 27 de janeiro deste ano.
Foto: Eduardo Amorim/Lupa1
Em entrevista ao Lupa1 nesta quarta-feira (24), a mãe da jovem relembrou os momentos de alegria em que passou ao lado da filha. Emocionada, dona Socorro contou que não aceita a forma como Janaína foi assassinada. O acusado Thiago Mayson, 28 anos, segundo a polícia, cometeu violência sexual contra a vítima morta e ainda fez imagens do corpo enquanto esteve com a jovem.
“Eu não me conformo com a tortura. Quando a pessoa morre de acidente é uma coisa. Mas a forma que minha filha foi morta, eu não aceito. Eu peço muito a Deus, porque já me deu vontade de cortar os meus dois pulsos. Só que eu penso nas minhas outras duas [filhas] e meus netos. Deus me deixou duas, por isso. Mas já me deu vontade”, conta a mãe da estudante.
Foto: Eduardo Amorim/Lupa1
Em uma casa simples, modesta e cheia de amor, era comum ver a estudante escrevendo poesias, onde dizia ansiar pelo futuro. Janaína era a primeira da família a cursar o ensino superior e vendia alguns produtos para concluir a graduação.
“Anseio o que o futuro tem para mim\ mais ainda o que penso ter no presente\ instante\ no ministério das dobras em que o destino dá\ ou arranca\ parecendo que foi meu algum dia do passado\ aponto pela hora que ele me devore por um enigma mal decifrado\ no momento me vivo e vivendo me viro\ as vezes me retiro\ na pausa, me celebro\ e vejo\ e vou\ com os pulmões arfando ao encontro do que me esperava”,escreveu nas redes sociais.
Reprodução/Redes Sociais
“Eu pensei que ela iria me enterrar, mas eu enterrei a minha filha”
Dona Socorro relatou ao Lupa1 que achava que a filha iria lhe enterrar, mas os papéis se inverteram e acabou acontecendo o contrário. De acordo com ela,jamais imaginaria que um dia fosse perder uma filha tão jovem. Com lágrimas no olhar, ela pede por justiça.
Foto: Eduardo Amorim/Lupa1
"Arrancou um pedaço de mim. É uma dor muito grande. Esse caboclo [Thiago Mayson] estragou uma família. Minha família está destruída. Nós não temos mais vida, não temos mais Janaína. Janaína não vai mais voltar, ela está ao lado do senhor. Eu quero justiça”.
Janaína Bezerra sonhava alto e sempre dizia para a mãe que terminaria o curso de Jornalismo para tirar ela daquela situação. "Eu vivia sofrendo e trabalhando, então esse era o sonho dela".
"Eu confiava muito nela"
Ainda durante entrevista, dona Socorro conta que sempre confiou na filha e que ela era da UFPI para casa. Gostava de dormir e estudar, esses eram os prazeres que Janaína desfrutava em vida.
"Ela uma grande mulher, uma poeta. Ela não gostava de falar nada para ninguém, ela contava só para a gente. Ela sempre dizia 'mãe, vai dar tudo certo'. Era assim a nossa vida, uma ajudando a outra, eu ajudava ela e ela me ajudava", finaliza.
Campanha
Desempregados e passando por dificuldades financeiras, os pais da estudante Janaina Bezerra estão fazendo uma campanha para conseguir se manter. A família disponibilizou a chave PIX 86994157434, em nome de Maria Socorro Nunes Silva, mãe de Janaína.
Confira a matéria especial do Lupa1
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