Decisão sobre Lula atrapalha planos de Ciro Nogueira no Piauí
Lula em palanque no Piauí, na condição de candidato, é tudo que o senador não quer.
A decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular as condenações do ex-presidente Lula (PT) na Lava Jato e torná-lo elegível novamente produz reflexos em vários cenários políticos. Ainda é cedo para se fazer projeções sobre eventual sucesso eleitoral do lulismo em 2022, visto que o antipetismo no país é muito forte e a polarização pode, eventualmente, acabar favorecendo o espectro bolsonarista.
Porém, independentemente do desfecho na cena nacional, a volta de Lula ao jogo político já representa um balde de água fria nos planos de alguns caciques nos estados. No Piauí, a presença de Lula na campanha de 2022, sobretudo como candidato, é tudo que o senador Ciro Nogueira (Progressistas) não quer. Ainda que Lula não tenha êxito em eventual candidatura a presidente, é inegável a força política dele nos rincões do Piauí e do Nordeste.
Ciro Nogueira se elegeu senador duas vezes, em 2010 e em 2018, usando o nome de Lula em suas campanhas. Antes das eleições de 2018, ele disse que o petista “foi o melhor presidente da história do Brasil, principalmente para o Piauí e para o Nordeste”. Hoje aliado de Jair Bolsonaro e opositor do governador Wellington Dias (PT), Ciro trabalha para ser candidato em 2022, mas não contava, a essa altura, com a possibilidade de Lula disputar o Palácio do Planalto.
Crítico do governador do Piauí e do PT desde que rompeu politicamente com a gestão estadual no Piauí e se aliou a Bolsonaro, Ciro ainda não comentou publicamente e nem fez postagem sobre a decisão que coloca Lula no páreo. Ainda ontem (8), o senador foi procurado por este colunista para tecer algum comentário sobre a decisão de Fachin e consequentemente sobre o restabelecimento dos direitos políticos de Lula, mas não respondeu.
Um palanque com Lula candidato a presidente e um aliado de Wellington Dias candidato a governador impõe, e muito, dificuldades no caminho de Ciro. Por mais que os defensores do senador tentem espalhar essa lógica ao contrário, todos sabem que não é o que ele pensa. Além disso, seria a primeira vez de Ciro num confronto direto com o PT, partido que ele nunca gostou, mas que sempre foi aliado nos últimos anos.
Também seria a ocasião inédita para os petistas, com o impulso de Lula e Wellington, descarregarem um acumulado de descontentamentos com a postura que Ciro adotou com o PT, desde quando abandonou Dilma Rousseff em 2016 e foi decisivo para derrubar a petista do Planalto. Os petistas nunca gostaram de Ciro e nem ele dos petistas, mas mantinham o casamento porque um dependia do outro no Piauí.
Se Lula conseguir manter os direitos políticos ativos até 2022 (o que pode não acontecer) e for candidato a presidente, o senador piauiense tem motivos para se preocupar com a viabilidade do seu projeto de poder no Piauí. Isso se ele permanecer do lado de Bolsonaro até lá, afinal de contas, Ciro Nogueira é Ciro Nogueira. Todos sabem que o senador não pestaneja na hora de pular de um barco caso este apresente sinais de que pode afundar.