Coluna Ponto de Ruptura

Thiago Trindade

O fim do futebol tradicional? Kings League lota estádio e vira febre entre jovens

Com Neymar campeão, Kaká no palco e estádio lotado, Kings League mistura futebol e show, desafia a CBF e conquista a geração Z com regras ousadas

20 de maio de 2025 às 15:28
7 min de leitura

Um campo escuro com luzes de LED. Regras dinâmicas. Estrelas como Neymar, Kaká e craques da internet lado a lado com ídolos aposentados. Plateia jovem, conectada, vibrando como se fosse final de Copa do Mundo. Não, não estamos falando de videogame. Estamos falando da Kings League Brasil, uma revolução silenciosa que está chacoalhando a estrutura do futebol tradicional.

Criada na Espanha pelo ex-zagueiro Gerard Piqué e trazida ao Brasil com apoio de celebridades e ex-atletas, a Kings League mistura entretenimento, futebol raiz e uma pegada totalmente digital. A final realizada no Allianz Parque, em São Paulo, reuniu cerca de 40 mil pessoas — crianças, famílias, influencers e fanáticos — numa atmosfera mais próxima de um show da Anitta do que de um jogo da Série A.

Neymar comemora vitória do time Furia FC. Ele é um dos presidentes. Você pode ainda não ter ouvido falar nesse time mas é questão de tempo.

Show de luzes, gramado preto e cartas na manga

Quem esperava um jogo comum, encontrou um espetáculo audiovisual. A Kings League apostou pesado no design de experiência: o gramado escuro, as luzes dramáticas, os efeitos sonoros, as câmeras dentro de campo e a edição em tempo real fizeram parecer uma final da NBA com pegada de eSports. O jogo virou entretenimento de alto nível.

Gramado escuro, telões, shows musicais. A imersão mais parece que você faz parte de um jogo de video-game.

Mas não é só estética. As regras também foram atualizadas: as partidas duram dois tempos de 20 minutos, os técnicos podem usar "cartas especiais" que mudam o jogo — como retirar um adversário por dois minutos ou dobrar os gols por um tempo. Tudo pensado para manter o público ligado do início ao fim. E funcionou.

Neymar, Kaká e os bastidores que brilham

Um dos pontos altos da final foi ver Neymar no comando da FURIA FC, que se consagrou campeã da temporada. O craque parecia mais à vontade do que em muitos momentos com a camisa da seleção — cercado por influenciadores, mascotes e uma massa jovem de fãs que o vê mais como ídolo digital do que como atleta clássico.

Kaká e Neymar se abraçam após Final do campeonato. Não só ele está envolvido. Cafu, Romário e vários influencers já fazem parte do entorno do evento.

Kaká, marcou presença e mostrou que o futebol do futuro ainda tem espaço para ídolos do passado — mas agora como figuras midiáticas, apresentadores, técnicos ou "presidentes virtuais" das equipes.

A geração Z já escolheu seu campeonato

Com transmissões ao vivo nas plataformas digitais, produção de conteúdo pensada para TikTok e Instagram e uma estética que lembra jogos eletrônicos, a Kings League mira diretamente na geração Z — jovens que cresceram no digital, vivem conectados e buscam intensidade. Eles não têm paciência para os 90 minutos burocráticos da maioria dos jogos da CBF. Querem dinamismo, emoção, narrativa. E a Kings entrega tudo isso.

Estádios lotados e a comemoração. Estamos presenciando a nova forma de fazer futebol?

Enquanto isso, a CBF patina em crises internas, decisões judiciais, greves e falta de conexão com o torcedor. Clubes lutam para manter o público nos estádios, e os gramados brasileiros seguem vazios em muitos campeonatos estaduais.

"Reinventaram o futebol para as novas gerações. A molecada está louca, mais fanáticos e torcendo mais que jogo da seleção",

comentou em rede social o publicitário e designer Erich Shibata,um dos nomes mais renomados da atualidade no setor criativo, após assistir à final da Kings League. Para ele, o modelo tem tudo para se consolidar como o novo entretenimento esportivo global.

O Ponto de Ruptura

O futebol brasileiro, outrora paixão nacional e produto cultural exportado com orgulho, parece hoje assistir passivamente à construção de uma nova linguagem do esporte — mais conectada, mais ágil, mais emocional e, sobretudo, mais inteligente em termos de engajamento. Enquanto a CBF briga com ela mesma nos tribunais, tenta apagar incêndios com a liga e toma decisões políticas sem ouvir o torcedor, uma liga independente criada por um ex-jogador em Barcelona faz o que o Brasil deveria ter feito há 10 anos: reencantar o público jovem.

A Kings League não é apenas um campeonato. É um conceito. Ela transforma o jogo em espetáculo e o espectador em protagonista. As cartas táticas, os microfones abertos, as transmissões com linguagem de TikTok, os bastidores dramatizados em tempo real e a fusão entre futebol, streaming e celebridade criam algo novo: um ecossistema de entretenimento que não exige fidelidade clubística — exige atenção. E atenção, hoje, vale mais que camisa.

A pergunta que se impõe não é “será o fim do futebol tradicional?”. A pergunta é: o futebol brasileiro está preparado para deixar de ser o centro das atenções? Porque enquanto os cartolas discutem direitos de transmissão como se estivéssemos em 2002, jovens de 15 anos estão aprendendo a amar o esporte através de influenciadores, avatares e plataformas que nem existiam quando o Brasil foi penta.

Neymar — o último grande símbolo do futebol brasileiro como conhecíamos — já entendeu. Saiu do campo, vestiu a camisa de presidente e emprestou sua imagem à próxima geração. E talvez isso diga mais sobre o futuro do jogo do que qualquer coletiva da Seleção.

Futebol não vai morrer. Mas talvez mude tanto que alguns clubes, dirigentes e até torcedores fiquem para trás sem nem perceber que o jogo já recomeçou. E com regras novas.


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