Coluna Ponto de Ruptura

Thiago Trindade

Cerveja ou símbolo de status? A verdade amarga por trás da Heineken no Brasil

Heineken chega a R$ 20 no Piauí e custa R$ 8,90 no Maranhão. Impostos e marketing explicam disparidade nos preços da cerveja

23 de maio de 2025 às 17:04
5 min de leitura

Heineken, no Piauí, virou símbolo.

Mais do que sabor, ela entrega status. É a cerveja do festival, do camarote, da balada. Do “close certo” no Instagram.

A marca consegue vender um status primordial mas o custo com os impostos fica alto no bolso do piauiense.

E isso tem um preço que o brasileiro paga com gosto, mesmo quando o bolso reclama.

A demanda não cai, mesmo quando a garrafa bate o dobro do valor que custa em outros países. A explicação? Marketing bem feito e vaidade bem explorada.

O retrato de um absurdo cotidiano

Você entra num restaurante em Teresina, pede uma Heineken long neck, e ela chega gelada. Preço? R$ 13,90. Se optar por uma de 600 ml, o valor pode ultrapassar R$ 20,00.

Os preços variam. Atravessar a ponte e chegar em Timon-MA ja mostra outra realidade.

Agora atravessa a Ponte Metálica. Em Timon, cidade vizinha no Maranhão, depósitos de bairro vendem a mesma Heineken 600 ml por R$ 8,90, muitas vezes entregue na porta de casa, no gelo.

O que muda entre uma margem e outra do rio? Quase nada — além da política tributária, da lógica de distribuição e da forma como o consumo é encarado. A diferença de preço escancara mais do que economia: revela um sistema que cobra caro até pelo que deveria ser simples.

A margem de lucro que sobra é pequena, e se a gente não cobrar mais caro, o imposto engole. O cliente até reclama, mas não vê que quase metade do valor vai pro governo.

Relatou um proprietário de bar em Teresina.

No Piauí, o imposto pesa ainda mais

O ICMS sobre bebidas alcoólicas no Piauí chega a 27%, um dos mais altos do país. Isso sem contar o IPI, PIS e Cofins — que, somados, fazem com que a carga total supere os 50% do valor final da cerveja.

Além disso, a logística de distribuição no estado encarece ainda mais o produto, especialmente em cidades do interior onde o frete é repassado direto para o consumidor.

O problema não é só a carga tributária, mas a forma como ela é distribuída. O consumidor paga mais do que deveria, especialmente em produtos que fazem parte do cotidiano. É um sistema que penaliza a base da pirâmide.

Avaliou, sob reserva, um especialista em consumo ouvido por esta coluna.

Heineken no Brasil x no mundo

País/Estado

Preço médio Heineken 600ml

Piauí (bares)
R$ 17,90
Maranhão (depósitos)
R$ 8,90
São Paulo (supermercado)
R$ 9,50
Bahia (praias)
R$ 18,00
Rio de Janeiro (turismo)
R$ 22,00
Alemanha
R$ 4,30 (long neck)
Argentina
R$ 2,30 (long neck)

O preço da Heineken no mundo

A Heineken é uma das cervejas mais consumidas globalmente, mas seu preço varia muito conforme o país — influenciado por impostos, poder de compra, produção e distribuição.

Tendências globais:

  • Mais caros: Emirados Árabes e Qatar têm preços altíssimos por conta das leis severas sobre álcool. Nova York também está no topo.
  • Moderados: Na Europa, uma long neck de 330ml varia de US$ 1 a US$ 2 em supermercados.
  • América do Norte e Central: EUA, Canadá e México giram em torno de US$ 2,50 por 330ml.
  • Mais baratos: Gana chegou a vender por US$ 0,83, Caracas (Venezuela) por US$ 0,70. Parte da Ásia e da África segue com preços bem abaixo da média global.

E o Brasil nessa história?

O Brasil é um mercado estratégico para a Heineken. A marca é vista como premium, mesmo sendo produzida localmente. Segundo relatórios internacionais, o real desvalorizado impacta a receita em euro da empresa, mas o preço em reais segue firme — ou seja, o brasileiro paga mais em moeda local, mesmo quando a receita líquida global cai.

Além disso, o crescimento no volume de vendas, especialmente no segmento sem álcool, fortalece o posicionamento da marca no país. E isso mantém a estratégia de preço elevado: quem quer status, paga.

A lei da demanda? De folga.

Mesmo custando mais do que no país onde nasceu, a Heineken segue firme no topo de vendas.Ela se transformou em um bem simbólico de consumo aspiracional.

Não se bebe apenas pela sede — mas para ser visto com ela na mão.

O Ponto de Ruptura

No Brasil — e no Piauí em particular — não se paga apenas por uma cerveja. Paga-se pela ineficiência do sistema, por um estado que taxa alto e por uma cultura que transforma o banal em fetiche de consumo.

A pergunta que fica: até quando vamos tratar garrafa como troféu e imposto como parte do brinde?

Enquanto isso, Timon-MA continua entregando gelada na porta — e com troco.

A OPINIÃO DOS NOSSOS COLUNISTAS NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL LUPA1 E DEMAIS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO GRUPO LUPA1 .

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