Coluna Marketing e Política

Isma Pereira

Teresina cresce, apesar da política; e não por causa dela

O empresário teresinense ainda é a melhor propaganda da capital.

24 de fevereiro de 2025 às 21:04
6 min de leitura

Se Teresina tivesse um outdoor bem no meio do Brasil, certamente não estamparia um político em destaque. A imagem mais provável seria a de um empresário local, de mangas arregaçadas, sorriso confiante, aquele ar de quem faz – enquanto o poder público apenas promete.

A verdade é que, se a capital piauiense ainda tem relevância econômica e comercial no cenário nordestino, deve-se muito mais à iniciativa privada do que às sucessivas gestões públicas. Desde os tempos de Seu João Claudino, que desembarcou em Teresina em 1968 e, junto ao irmão Valdecy, abriu a primeira filial do grupo no Centro da cidade, o empresariado local tem sido o grande protagonista na transformação da capital em um polo de negócios, oportunidades e inovação.

Enquanto os políticos, de mandato em mandato, desfilam promessas requentadas, os empresários constroem shoppings, restaurantes, supermercados, geram empregos, movimentam a economia e, de quebra, dão identidade à cidade. A propósito, qual foi o último prefeito ou governador que conseguiu dar a Teresina uma obra tão forte quanto o Armazém Paraíba, o Teresina Shopping, o Grupo Damásio, O Grupo Pintos ou, ainda, os Grupos Vanguarda e RCarvalho? E que criou um legado capaz de projetar a capital para além das fronteiras do Piauí? Pois é, difícil lembrar.

O mais curioso – e aqui entra a ironia – é que, mesmo com essa discrepância de entregas entre o setor público e o privado, quem vive de discurso bonito é o político. Quem se vende como grande gestor, líder do progresso, visionário do futuro, é aquele cujo grande feito, muitas vezes, se resume a cortar fitas de inauguração de obras atrasadas. Enquanto isso, o empresário que realmente move a cidade, paga impostos exorbitantes e lida com uma burocracia estatal sufocante, raramente tem seu nome reconhecido como protagonista.

E é justamente daí que surge outra grande questão local: por que os empresários teresinenses ocupam tão poucos espaços na política? Talvez ainda estejamos presos ao velho modelo do voto de cabresto e do curral eleitoral. Talvez os homens e mulheres de negócios tenham receio de trocar a liberdade do empreendedorismo pelo desgaste da máquina pública. Ou talvez, simplesmente, não queiram fazer parte de um sistema que parece projetado para punir quem entrega e premiar quem apenas fala.

O problema central dessa equação é que, quando o poder público falha, o empresariado assume um papel que não deveria ser seu. No mundo ideal, as empresas deveriam focar em crescer, inovar e gerar riqueza, enquanto o governo se ocupava de criar infraestrutura, oferecer educação de qualidade e garantir segurança. Mas, por aqui, o empreendedor precisa ser também o maior responsável pelo desenvolvimento social e econômico da cidade. E mais: é a comunicação deste mesmo empresário que acaba elevando a imagem da capital no restante do país.

Basta observar: quando se fala em Teresina fora do Piauí, é muito mais provável que alguém mencione uma marca local de sucesso do que um projeto público bem-executado. Nos últimos quatro anos então… difícil lembrar de um grande feito administrativo. O poder público deveria, no mínimo, se inspirar na capacidade de comunicação do empresariado. É o "tá feito" contra o “vamos fazer”. O que falta à prefeitura e ao governo estadual não é dinheiro – porque para marketing institucional sempre há orçamento –, mas sim a visão estratégica de que comunicação não se faz apenas com slogans, mas com entregas concretas.

E a Ponte Estaiada, um grande símbolo do êxito do poder público e do marketing territorial (Place Branding)? Ela existe, é verdade. Mas hoje serve muito mais como um lembrete do que Teresina poderia ser, do que um sinal de para onde estamos indo.

Entrou mais um governo municipal, e o discurso continua o mesmo: "estamos arrumando a casa". E quando vamos “ampliar” a casa? Esse é o saldo, muito provavelmente, do marketing político despropositado da última campanha eleitoral, com a narrativa "é preciso reconstruir Teresina". A estratégia de insistir na tese de que a cidade era terra arrasada teve um efeito colateral grave: um governo municipal que, em vez de projetar o futuro, segue preso à narrativa da destruição. E, enquanto se justifica, não entrega. Até agora, mais do mesmo.

No fim das contas, a propaganda mais eficiente de Teresina ainda é feita por aqueles que constroem e entregam, e não por aqueles que discursam e prometem.

Talvez, se a classe política aprendesse com os empresários locais, Teresina não precisaria tanto da iniciativa privada para parecer uma cidade desenvolvida. Mas, até lá, seguimos dependendo do empresariado para que a capital não seja apenas mais uma cidade nordestina perdida entre promessas vazias e a falta de gestão.

A OPINIÃO DOS NOSSOS COLUNISTAS NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL LUPA1 E DEMAIS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO GRUPO LUPA1 .

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