Coluna Marketing e Política

Isma Pereira

Prefeito ou secretário de Administração? Governador ou gerente de banco?

Na capital e no estado, a comunicação virou item opcional e quem paga a conta é o eleitor que não entende mais nada.

06 de maio de 2025 às 19:07
6 min de leitura

Você acorda em uma segunda-feira de maio, pega o celular, dá aquela olhada nos portais de notícia e, de cara, duas manchetes te atropelam como um carro sem freio: “Prefeito de Teresina anuncia rombo de até R$ 1 bilhão” e “Governador do Piauí pede à ALEPI autorização para novo empréstimo de R$ 580 milhões”. Naturalmente, o cidadão comum, você, seu vizinho, o dono da padaria e até o motorista de aplicativo, solta a clássica dúvida existencial: em quem foi mesmo que eu votei?

Não estamos aqui para discutir economia, ainda que política e economia andem de mãos dadas. Esta coluna trata de comunicação política. E, em tempos de crise (real ou fabricada), é a comunicação que separa o gestor do administrador. É o discurso que revela se o líder é, de fato, um estrategista ou apenas alguém tentando apagar incêndios com gasolina.

Vamos aos fatos. Silvio tem um “novo” desafio pela frente: deixar de falar apenas do que ficou para trás. O prefeito de Teresina ainda parece preso ao palanque de 2024. Suas falas, entrevistas e postagens orbitam quase sempre o mesmo ponto: o passado. O vilão é sempre o antecessor, o cenário herdado, o caos anterior. Ok, pode até ser verdade. Mas até quando o povo vai aceitar essa cantilena? Um gestor que gasta mais tempo apontando culpados do que apresentando soluções é, no mínimo, um contador de histórias, e nem das boas. Ao anunciar medidas como “corte duro de despesas”, “extinção de secretarias” e “exoneração de cargos comissionados”, tudo focado apenas na diminuição da máquina pública, o que se vê são soluções administrativas básicas, e não uma visão moderna e propositiva de gestão alinhada com um mundo em transformação. O que serviu no passado nem sempre se aplica ao presente e muito menos ao futuro da capital.

Arte: Lupa1

Já Rafael Fonteles, o governador, prefere outro caminho. Seu governo decidiu se comunicar por meio dos resultados financeiros projetados, dos bilhões em investimentos, dos empréstimos que, supostamente, vão transformar o estado. Ele abandonou o discurso da austeridade e abraçou a governança baseada na alavancagem financeira como símbolo de modernidade administrativa. De novo: pode funcionar. Desde que as promessas deixem de ser apenas números frios em entrevistas e comecem a virar realidade no cotidiano do piauiense. Afinal, em tempos de custo de vida elevado, poucas oportunidades e diminuição do poder aquisitivo, podemos até ponderar que a razão esteja com quem injeta mais recursos na economia. Mais dinheiro circulando significa mais consumo, mais arrecadação pública. Em tese, sim. Na prática, nem sempre.

Arte: Lupa1

Porque, sejamos francos: a retórica do “grande projeto futuro” sem efeito concreto já cansou o eleitor médio. Às vezes, o básico bem feito supera o extraordinário que nunca se realiza.
O problema é que ambos, prefeito e governador, cometem o mesmo erro: subestimam a comunicação. Silvio virou, na prática, do ponto de vista da comunicação, um secretário de Administração. Fala pouco, mal e, quando fala, prefere exibir a conta do que explicar o plano. Rafael, embora mais articulado, caiu no vício da comunicação técnica, institucional demais e até explica o “como”, mas não emociona no “porquê”. Falta conexão. Falta calor. Falta estratégia de aproximação com a realidade. E, desse jeito, corre o risco de ser percebido como aquele gerente de banco que adora falar de investimentos futuros sem considerar que o cliente, o povo do Piauí, está com o cheque especial estourado no presente.

Comunicação pública não é apenas informar. É traduzir, simplificar, tornar compreensível e, acima de tudo, relevante. É construir narrativa, estabelecer empatia, gerar confiança. Quando isso não acontece, mesmo uma boa ação de governo se perde no vazio da indiferença popular.

A comunicação deveria ser o elo entre o problema e a solução. Mas, no caso do Piauí e de Teresina, virou um campo de ruído, confusão e distanciamento. Um fala como quem lê uma planilha de Excel. O outro, como quem dá aula de história sobre desastres passados.

Ambos se esqueceram de um princípio básico do marketing público: a percepção é mais forte que a realidade. Se o povo não vê, não sente, não entende, não importa se a ação foi bem-intencionada. Ela simplesmente não existe no imaginário coletivo.

Enquanto isso, a cidade e o estado seguem como grandes salas de espera, como as do HUT: cheias de expectativa, mas vazias de entrega.

Então, a provocação é direta e necessária: até quando?

A OPINIÃO DOS NOSSOS COLUNISTAS NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL LUPA1 E DEMAIS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO GRUPO LUPA1 .

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