Coluna Marketing e Política

Isma Pereira

​​A comunicação do futuro é a que está olhando o presente

Ciro Nogueira faz das redes sociais a sua hype.

19 de fevereiro de 2025 às 19:22
7 min de leitura

Há algo quase poético — e absurdamente conveniente aqui no Piauí também — em políticos que falam do futuro como se fosse uma terra mágica, onde todos os problemas já estarão resolvidos. Eles adoram moldar o discurso como se amanhã fosse uma página em branco e eles, os únicos habilitados a preenchê-la com promessas grandiosas e palavras vazias. Mas, enquanto isso, o hoje… ah, o hoje é outra história, um lugar onde o cidadão comum se debate entre boletos atrasados, filas intermináveis nos hospitais, seja no HUT, em Teresina, ou no Hospital Dirceu Arcoverde, em Parnaíba, e uma realidade que não cabe em nenhum filtro do Instagram.

Ciro Nogueira - Arte: Isma Pereira

Esse fascínio pelo futuro não é novo, mas ganhou proporções exacerbadas com o advento das redes sociais. De repente, nossos líderes se transformaram em verdadeiros "influencers de utopias". O feed deles é uma avalanche de posts cuidadosamente editados: imagens de obras que sequer começaram, gráficos que mais parecem exercícios de ficção científica e frases motivacionais que fariam até um coach de terceira categoria corar de vergonha. Tudo isso embalado por slogans genéricos como "o futuro é agora", "juntos pelo amanhã" ou "aqui tem futuro".

Foto: Reprodução/ Instagram

O problema é que essa comunicação do "amanhã" ignora o cidadão do "hoje". O trabalhador que está preso no trânsito enquanto o político posta sobre "a mobilidade urbana do futuro". A mãe que não encontra vaga na creche enquanto vê um vídeo sobre "a educação que transformará gerações". O empreendedor que fecha as portas porque não conseguiu acesso a crédito, enquanto a prefeitura celebra a garantia de “R$ 650 milhões em empréstimo na Caixa”. Do ponto de vista do marketing, essa estratégia até faz algum sentido. Prometer o futuro é fácil: ele ainda não aconteceu, e ninguém pode cobrar aquilo que é intangível. É o que chamamos de "a narrativa da expectativa". Criar uma visão aspiracional gera engajamento, mobiliza emoções e alimenta esperanças. Mas, tecnicamente, é uma estratégia que carrega um risco gravíssimo: a desconexão.

Em comunicação política, existe um princípio básico: toda mensagem precisa ser relevante para o público no momento em que é recebida. Se a promessa do futuro não se traduz em ações perceptíveis no presente, ela se torna apenas um ruído. E ruído, na política, não apenas cansa; ele mina a confiança. O eleitor começa a perceber que, enquanto o político fala do que vai fazer, nada está sendo feito.

Foto: Reprodução/ Instagram

É como aquele amigo que promete um churrasco épico no próximo mês, mas nunca traz nem um pão de alho para o churrasco de hoje. No começo, você dá um desconto. Mas, depois de um tempo, percebe que ele não quer compromisso, só quer parecer incrível.

Mas nem tudo está perdido no marketing político, e não podemos generalizar. Aqui no nosso Piauí, há exemplos que fogem da fantasia do futuro inalcançável. A comunicação nas redes sociais do senador Ciro Nogueira é um bom exemplo de como o simples bem feito é excelente.

O senador consegue conversar com o cidadão médio, se fazer compreendido e defender suas bandeiras com a simplicidade que a boa comunicação pede. São conversas de gabinete, críticas ao governo federal, estadual e ao custo de vida elevado, refletindo uma realidade de hoje, atual e em cima do lance. Tudo isso mesclando vídeos de humor, identificação com a cultura local, poesias e, em muitos casos, uma boa dose de sarcasmo que lhe é peculiar. Com esse modelo de comunicação, o senador vem reduzindo sua rejeição acumulada ao longo de anos de vida pública. Ciro está menos distante e elitista, tornando-se cada vez mais popular. Ele parece ter entendido bem o seu papel nas redes e como usar, ao seu favor e de seu mandato, um poderoso meio de geração de conteúdo. Isso mesmo: Ciro gera conteúdo que engaja e converte.

Foto: Reprodução/ Instagram

A comunicação que funciona — a que verdadeiramente engaja — é aquela que olha para o presente e responde às dores reais das pessoas. Isso não significa abandonar o futuro, mas, sim, construir pontes entre o agora e o depois. O político que entende isso faz diferente. Ele não promete um hospital "de última geração" sem antes resolver a falta de médicos no posto de saúde do bairro. Ele não fala de "cidades inteligentes" enquanto o lixo não é recolhido na periferia.

Porque, no fundo, o eleitor quer se sentir visto e ouvido. Não como um espectador de promessas distantes, mas como um participante ativo das soluções de hoje. Comunicação política não é sobre ser visionário; é sobre ser relevante.

E, por mais que o futuro seja inspirador, ele ainda não paga a conta de luz atrasada.

A OPINIÃO DOS NOSSOS COLUNISTAS NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL LUPA1 E DEMAIS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO GRUPO LUPA1 .

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