Gustavo Almeida

Quem vai com quem?

Conveniência, cautela e “jogo duplo” marcam aliados dos antagônicos Wellington Dias e Ciro Nogueira.

21 de junho de 2021 às 10:06
5 min de leitura

No meio político é muito comum ouvirmos que político sério é aquele que tem posição definida. Ou está de um lado ou está do outro. Ou é governo ou é oposição. Ser governo não significa ser submisso ao governante [o que, infelizmente, vem se tornando comum] e ser oposição não significa ser agressivo, virulento e nem inimigo de quem está no poder. No entanto, o homem público deve ter posição e dizer publicamente de que lado está.

Desde que o senador Ciro Nogueira (Progressistas) deixou a base aliada do governador Wellington Dias (PT), em agosto de 2020, alguns deputados do partido do senador fazem uma espécie de jogo duplo. Seguem no governo de Wellington Dias, se aproveitando da máquina pública estadual, mas não despacham o senador Ciro, que se apresenta como pré-candidato de oposição ao governo petista. Estão, claramente, em cima do muro.

Bancada do Progressistas é grande, mas não está inteira com Ciro (Arte: Lupa1)

Dos sete deputados estaduais do Progressistas, somente quatro estão publicamente com Ciro: Júlio Arcoverde, Lucy Soares, B. Sá Filho e Belê Medeiros. Esta última não é titular do mandato. Outros três, Hélio Isaías, Firmino Paulo e Wilson Brandão estão no governo de Wellington Dias. Deles, Firmino Paulo é o único que mostrou posição e já cravou que seguirá o governador. Ciro também já avisou que não conta com ele.

Os outros dois, Hélio Isaías e Wilson Brandão, não dizem publicamente de que lado estão. Wilson Brandão é secretário estadual de Mineração, Petróleo e Energias Renováveis, na gestão de Wellington Dias. Conhecido por falar pouco e não ser afeito a polêmicas, ele aproveita justamente esse estilo para não dizer com quem vai ficar. Calado, ele vai ficando no governo do estado sem polemizar com Ciro Nogueira. Na balança, ele está muito mais pro lado de Wellington, já que não costuma ficar fora de governo.

No caso de Hélio Isaías, a situação é a mais delicada, já que ele tem a mulher, Carmelita Castro, prefeita de São Raimundo Nonato, também filiada ao Progressistas. O casal flerta com os dois lados. Se diz aliado do governador e de Ciro Nogueira ao mesmo tempo.

Na bancada federal também há um impasse. Dos três deputados federais do Progressistas, dois estão com Ciro: Iracema Portella e Átila Lira. O grande dilema é com relação à Margarete Coelho, que segue com Wellington, mas não rompe com Ciro. Margarete é cunhada de Hélio Isaías e irmã da prefeita de São Raimundo Nonato, Carmelita Castro. Ou seja, o jogo político se mistura também com a questão familiar.

No evento de lançamento da pré-candidatura de Ciro ao governo, em abril, Margarete não deu as caras. Ali seria uma espécie de afirmação de que lado cada um estava, pelo menos até aqui. Ela não foi. No entanto, em maio, Margarete e Carmelita estiveram com Ciro na casa do senador, em Teresina. O encontro foi registrado nas redes sociais da deputada com uma legenda que iniciava com a frase: “O Piauí merece nosso trabalho”.

Daqui para abril de 2022, ainda haverá muitas cenas desse “lá e cá” envolvendo políticos do Progressistas que não querem, pelo menos agora, deixar as benesses do governo. Vão seguir em cima do muro, não por dúvida e sim por conveniência.

Para Ciro Nogueira é uma situação desconfortável porque evidencia que ele não tem a “fidelidade” dos seus próprios partidários. Para Wellington Dias é uma vantagem, já que mostra força ao atrair gente filiada ao partido do seu principal adversário. O fato é que, somente depois de abril de 2022, o povo saberá quem fica com quem. Até lá, muita água vai rolar.

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