Gustavo Almeida

Morte de Petrônio Portella completa 41 anos; saiba como foi a repercussão

Piauiense é considerado o grande responsável pelo trabalho de articulação política que levou à reabertura democrática no Brasil.

06 de janeiro de 2021 às 08:15
9 min de leitura

A morte do ex-senador, ex-prefeito de Teresina, ex-governador do Piauí e ex-ministro da Justiça Petrônio Portella completa 41 anos nesta quarta-feira (6).

Considerado o “engenheiro da abertura democrática”, Petrônio morreu aos 54 anos em Brasília, no dia 6 de janeiro de 1980, vítima de um choque anafilático. Era considerado a estrela civil do governo militar e foi responsável pela reforma constitucional que acarretou no fim do Ato Institucional 5 e seus similares, em 1979.

Matéria de página inteira no Jornal do Brasil sobre morte do piauiense (Foto: Acervo JB)

Petrônio exercia o cargo de ministro da Justiça quando morreu e, antes, tinha sido presidente do Senado Federal. Era, naquele momento, um dos políticos de maior prestígio do país. Ministro e coordenador político do governo de João Figueiredo, costurou a transição para a volta da democracia do Brasil, tirada com o golpe militar de 1964. Conseguiu o fim da censura e a Lei de Anistia, sancionada por Figueiredo em 1979.

Tornou-se o político mais importante na elaboração e articulação do projeto de “distensão” do governo, abrindo caminho para a volta do regime democrático a partir da boa relação tanto com setores da sociedade civil como também com os militares. Morreu antes de ver seu sonho da redemocratização ser concretizado, mas seu trabalho em prol da abertura democrática entrou para a história nacional.

AS MANIFESTAÇÕES APÓS A MORTE

A morte de Petrônio Portella gerou manifestações dos mais importantes políticos do Brasil. No dia seguinte à sua morte, todos os jornais do país traziam falas de autoridades lamentando o passamento do político piauiense. O Jornal do Brasil, um dos mais importantes periódicos do país à época, destacou várias destas manifestações.

O então presidente João Baptista Figueiredo, que mais tarde chegou a mencionar que Petrônio era o seu provável sucessor, disse que perdeu um grande amigo do ponto de vista pessoal, além de um ministro leal e operoso.

“Do ponto de vista pessoal, perdi hoje um grande amigo e um ministro leal e operoso. Minha mulher junta-se a mim para expressar à dona Iracema [esposa de Petrônio] e a família do ministro Petrônio Portella a nossa dor e saudade. A enorme perda pessoal que todos experimentamos junta-se também a falta irreparável do grande servidor público, do democrata sincero, do político exemplar. Seu falecimento prematuro priva a nação dos continuados serviços que vinha prestando, especialmente neste momento em que lhe cabia parte da maior importância na condução do processo de redemocratização do país”, afirmou Figueiredo.

Então presidente Figueiredo disse que perdeu grande amigo (Foto: Acervo/JB)

O então senador José Sarney disse que Portella dedicou os últimos anos de sua vida ao restabelecimento da democracia. “O senador Petrônio Portella dedicou os últimos anos de sua vida a um trabalho heroico e persistente pela restauração da democracia no país”.

O deputado federal Ulysses Guimarães, que alguns anos depois seria um dos grandes nomes da Constituinte, na consolidação do fim do Regime Militar no Brasil, destacou que, embora fosse do PMDB, um partido de oposição ao de Petrônio, o relacionamento dos dois sempre foi baseado no respeito recíproco.

“Manifesto meu pesar pelo falecimento do ministro Petrônio Portella. Embora militássemos em partidos opostos, inclusive tendo sido o ministro presidente nacional da Arena, o nosso relacionamento sempre foi baseado no respeito recíproco. Tendo ocupado cargo de destaque na República, inclusive presidente do Congresso Nacional, foi o homem público que se dedicou à vida política do país. Em nome do PMDB, manifesto as nossas condolências, inclusive do ilustre extinto”, escreveu à época.

O então governador do Rio de Janeiro, Chagas Freitas, afirmou que Petrônio era umas das maiores figuras do meio político e intelectual do país. “Lamento profundamente a morte do ministro Petrônio Portella, uma das maiores figuras do meio político e intelectual do Brasil contemporâneo, que vinha realizando um trabalho extraordinário em prol da abertura política. Sua morte para o país uma de suas maiores perdas”.

Petrônio Portella discursando em evento político (Foto: Reprodução/Internet)

O líder do governo Figueiredo no Senado, senador Jarbas Passarinho, lembrou que o que mais amargurava Petrônio foi não ter conseguido unificar as forças políticas do seu Estado. “Foi uma vocação política que só não será reconhecida pela inveja. Deus há de permitir que ele seja substituído por uma qualificação semelhante. O que mais o amargurava foi não ter unificado as forças políticas de seu Estado. Ele deu tudo em si para que nós tivéssemos a abertura. Deixou um quadro extremamente valioso”, disse Passarinho.

Dom Eugênio Sales, cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, também se manifestou. “Recebi com profunda tristeza a morte do ministro Petrônio Portella. Eu perco um amigo e o Brasil perde um grande servidor. Eu creio que ele muito poderia contribuir ainda para o bem-estar da Nação brasileira, se Deus não o tivesse chamado tão cedo. Amanhã, na minha missa, terei presente, entre outras intenções, a alma do ministro Petrônio Portella”, falou o arcebispo.

Paulo Maluf, então governador de São Paulo, disse em uma rádio: “Perdi um grande amigo no Governo Federal e o presidente Figueiredo um dos seus melhores colaboradores”.

TERESINA PAROU

Segundo publicação do Jornal do Brasil, a capital do Piauí, Teresina, parou com a morte de Petrônio, anunciada por volta das 18h. O então governador do Piauí, Lucídio Portella, tinha viajado para Brasília às 17h45, sem saber da morte do irmão.

Clubes sociais, bares e churrascarias fecharam as portas em sinal de luto. O vice-governador em exercício, Waldemar Macêdo, decretou luto oficial no estado e as repartições públicas estaduais não funcionaram no dia seguinte à morte do ministro.

Jornal mencionou comoção na capital do Piauí (Foto: Acervo/JB)

O corpo de Petrônio foi sepultado em Brasília, apesar de pedidos de políticos piauienses para que fosse sepultado em Teresina. Segundo o Jornal do Brasil, houve pedidos também de políticos da cidade de Valença do Piauí, terra natal do ministro, para que ele fosse enterrado lá.

O MAL-ESTAR QUE ANUNCIAVA A MORTE

Antes do choque anafilático que ceifou a vida de Petrônio, o ministro teve fortes crises gástricas. A publicação de 7 de janeiro de 1980 do Jornal do Brasil mencionou o assunto.

Jornal descreveu momentos que antecederam a morte (Foto: Acervo/JB)

INSERÇÃO NO LIVRO DE HERÓIS E HEROÍNAS DA PÁTRIA

No final de 2019, o deputado federal piauiense Flávio Nogueira (PDT) apresentou projeto de lei na Câmara Federal com objetivo de incluir o nome de Petrônio Portella no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, localizado no Panteão Nacional, em Brasília. A proposta já recebeu parecer favorável na Comissão de Cultura da Câmara, porém, ainda não concluiu a tramitação.


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