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FIRMINO, O FILHO DE TERESINA

Sai da vida mas entra para história, deixando saudades e muita tristeza entre todos nós.

07 de abril de 2021 às 07:00
5 min de leitura

*Por Tony Trindade eGustavo Almeida

Assim como em 22 de março de 1995, quando Teresina inteira chorou a morte do prefeito Raimundo Wall Ferraz, nossa capital volta a chorar dolorosamente. Passados 26 anos daquela irreparável perda política, a cidade sofre outra vez. Agora, com a morte do ex-prefeito Firmino Filho, discípulo do professor Wall e, indiscutivelmente, a maior liderança que a cidade teve depois dele.

Politicamente, Firmino foi gigante igual ao seu mestre. Não era perfeito, afinal, nenhum ser humano é. Mas não se pode negar o quão grande ele foi na cena política da capital do Piauí. Firmino foi o único político a conquistar quatro vezes a prefeitura da capital, superando exatamente o seu professor Wall Ferraz, que morreu no exercício do terceiro mandato. Foi também o mais novo a se eleger prefeito, em 1996, para o primeiro mandato. Tinha apenas 33 anos naquela época.

Firmino é um daqueles políticos raros nos dias de hoje, que conseguem se manter na condição de líder anos após anos. Viveu um momento político delicado entre 2005 e 2008, ano que se candidatou a vereador para se reerguer politicamente após uma derrota na eleição para o governo do Estado em 2006. Foi um estouro de votos.

Se elegeu deputado estadual em 2010 e dois anos depois, em 2012, retornou à Prefeitura de Teresina, onde ficou até 31 de dezembro de 2020, quando encerrou seu quarto mandato. Com apenas 57 anos de idade, não era difícil imaginar a possibilidade de um dia ainda voltar a ser prefeito, mesmo dizendo que não mais pretendia disputar cargos municipais.

Tucano histórico desde sua entrada na política, poucos sabem que Firmino foi simpatizante do MDB quando ainda era universitário em Recife. Ele participou ativamente como estudante na eleição de 1982 em Pernambuco, cuja disputa pelo governo era entre Roberto Magalhães (PDS) e Marcos Freire (MDB).

Cid Sampaio era o candidato a senador na chapa do MDB. Com 20 anos de idade e estudante de economia da Universidade Federal de Pernambuco, Firmino vestia a camisa e participava de atos de campanha de Marcos Freire e Cid Sampaio, conforme ele mesmo contou no final de 2019.

Quase 14 anos depois de participar daquele pleito em Pernambuco na condição de simpatizante do MDB, Firmino seria eleito prefeito de Teresina em 1996, pelo PSDB. O ex-simpatizante emedebista derrotou ninguém menos que o experiente candidato do MDB, Alberto Silva, um mito político do Piauí. Ele se tornava, a partir dali, a maior liderança do PSDB no estado do Piauí, posto que, mesmo com alguns altos e baixos, podemos dizer que ele manteve até o fatídico dia de ontem. Ninguém no PSDB, mesmo nos grandes momentos do partido, foi maior que Firmino desde a morte de Wall Ferraz.

Nenhum homem público conhecia a cidade de Teresina como Firmino. Cada bairro, cada rua, cada problema, cada história. Firmino sabia tudo o que se passava em suas gestões. Em política é natural que haja adversários e que as críticas se acirrem em períodos eleitorais ou pós-eleitorais. Mas uma coisa é reconhecer qualidades que, mesmo os adversários, devem ter a grandeza de reconhecer.

De agora em diante, ficará a saudade e o legado de um homem público que dedicou boa parte da sua vida à cidade de Teresina. É impossível contar a história dessa cidade sem mencionar atuação de Firmino. Ao longo de 2020, seu último ano de mandato, ele, por diversas vezes, agradeceu aos teresinenses por terem lhe dado a oportunidade de governar a capital por quatro vezes. Disse, em diversas ocasiões, que o povo teresinense foi muito generoso com ele.

No campo pessoal, era introspectivo na maioria do tempo. Objetivo e pragmático, não abria conversa se não tivesse um objetivo claro para ela. Era reservado ao extremo e altamente disciplinado com horários.

Era de poucos amigos, mas sabia preservar os poucos que desfrutavam desse privilégio. Gostava de ler e era muito afeito às redes sociais. Firmino era digital, apesar de ter nascido em anos ainda tidos como analógicos. Gostava de usar redes sociais, ia sempre à academia e também não dispensava um bom pedal de fim de semana.

Tocava a vida com relativa simplicidade e, mesmo nas horas de descanso, dedicava tempo a pensar a cidade de Teresina. Vale dizer, novamente: Firmino não era perfeito, cometeu alguns erros como gestor, mas foram ínfimos diante dos muitos acertos e avanços que proporcionou à cidade que o viu nascer e que o acolheu desde criança até o dia de ontem.

Sai da vida, entra para história, deixando saudades e muita tristeza entre todos nós.

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