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Eleições 2024: Em Parnaíba pode haver uma disputa entre criatura e criador

Alguns teimam em dizer que será mais que isso: será uma prova de fogo entre traído e traidor. E quem pode sair ganhando com isso é Mão Santa.

18 de agosto de 2023 às 11:43
6 min de leitura

Zé Hamilton CB-Divulgação


Zé Hamilton, cansado velho de guerra, mas muito amado ainda por grande parcela da população da bela cidade de Parnaíba, situada no litoral do Piauí, apareceu bem em recente pesquisa que ainda hoje rende nos comentários de toda a cidade. Não é surpresa nenhuma. O parnaibano tem muito de conservadorismo e de nostalgia. Zé Hamilton representa um tempo bonito, uma época próspera da cidade, com um prefeito que nunca foi populista, mas que tinha (e ainda tem) um jeito especial de lidar com o povo e até com os adversários. De sobrenome que o eleva a um grau de nobreza, ser um “Castelo Branco” não o deixou atrás dos “Moraes Sousa”, nem dos “Cajubás” e de tantas outras famílias tradicionais da Parnaíba e do Piauí. Ocorre que Zé, lá atrás, quando escolheu o seu vice-prefeito, numa composição com o PT, foi convencido, não se sabe por quem, ou por qual razão, ao longo do seu mandato, que estava ali o seu sucessor ideal. E nem titubeou. Lançou Florentino Neto, até então um técnico, reconhecidamente competente, mas nada mais que um técnico, como seu candidato a prefeito.

Zé Hamilton e Florentino-Montagem PHB


Zé Hamilton apostou no seu vice, que também era seu secretário de governo, e o fez vitorioso. Mas não podemos esquecer que isso tudo não aconteceu da noite para o dia. Florentino soube conquistar o Zé. Mostrou-se competente, mas foi além: mostrou-se leal, até subserviente, pronto a assumir aquele lugar e ser a continuidade de um projeto de poder que nascia pelas mãos do Zé e por ele deveria, por ética privativa dos políticos, ser levado adiante, com lealdade.

Florentino NetoFoto:Lupa1

Não foi bem isso o que aconteceu. A regra, mais uma vez, se estabeleceu diante da raríssima exceção. Florentino venceu, nas costas da popularidade do Zé, assumiu, tocou os primeiros meses e foi tratando de gerar o afastamento que lhe daria o protagonismo desejado. Diz-se que Zé Hamilton não esconde que viu o pupilo mudar no dia seguinte a vitória. Fala-se também que Florentino sumiu após a festa da vitória e quando reapareceu ao Zé já foi com equipe de secretários montada, sem prestar qualquer deferência ao Zé. Florentino não fez nada diferente do que faz a maioria com os seus “criadores” que esperam comandar suas criaturas quando elas assumem aquele lugar de poder tão desejado: ele traiu. Mas foi devagarinho. Foi em gotas homeopáticas. Foi algo evolutivo, bem pensado e colocado em prática meticulosamente .

Mão Santa X Florentino-Arquivo

Veio a prova dos nove. Florentino já afastado de Zé e se sentindo suficientemente capaz de andar com as próprias pernas, terminou tendo pela frente um adversário que todos acreditavam já não ter o vigor, muito menos densidade eleitoral para enfrentá-lo. Mão Santa andava recluso, no ostracismo político, cumprindo apenas a atividade médica diária, mas decidiu, de última hora, encarar o desafio.

Contrariando todos os prognósticos, venceu as eleições. Florentino demorou a assimilar a derrota. Recuperou a autoestima após ser escolhido por Wellington Dias para ser o secretário de saúde do governo. Contou até com o apoio transversal de Ciro Nogueira, com quem Florentino sempre se deu muito bem.

Mas e o Zé? Cadê?

Seguiu sua caminhada, em solidão política, vendo o ex-pupilo se preparar para novos saltos, sem dar um pio.

Fez sua caminhada solo sem, contudo, obter êxito em suas empreitadas.

O criador segue em sua fazenda, afastado do burburinho político, com pouca vida social, enquanto a criatura fervilha politicamente, exercendo um mandato de deputado federal e já pretende voltar a cadeira que lhe deu tudo na vida: a de prefeito de Parnaíba.
Florentino não é emocional. É racional ao extremo e sabe que não será uma batalha fácil, mas também sabe que está a cavalheiro. Se perder a eleição, segue no mandato de deputado federal, pois não precisa renunciar para tal. Só um detalhe pode mexer bastante com a sua estrutura: ter que vir a enfrentar o seu criador. Zé Hamilton já disse: “não tenho muita disposição a disputar eleição para prefeito, mas se o ‘rapaz’ for candidato eu revejo essa posição. Quero enfrentá-lo” .

Mão Santa, que ainda não se definiu por nenhum nome, pode sair muito beneficiado com essa guerra. Não esqueçamos que a eleição em Parnaíba não tem segundo turno. Se três candidatos entram na disputa pra valer, alguém sai vencedor com menos votos do que precisaria em caso de uma disputa polarizada.

No meio de tudo isso, mais um filme que já vimos, mas que sempre tem final diferente, tal qual aquele do “tostão contra o milhão”. Neste caso, o titulo é outro: “A criatura contra o criador”.

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