Coluna Marketing e Política

Um “meme” vale mais que mil palavras

Confúcio, Dr. Pessoa, Fábio Novo e as crises que sufocam o marketing político.

10 de novembro de 2024 às 14:59
5 min de leitura

Lá atrás, entre 552 e 479 a.C., Confúcio, o pensador e filósofo chinês, escreveu que “uma imagem vale mais que mil palavras”, referindo-se ao uso de ideogramas como formas de comunicação simbólica. Na sua visão, esses ideogramas, quando combinados, formavam imagens que expressavam muito mais do que palavras poderiam dizer. O que Confúcio não poderia imaginar é que, ao transportar essa ideia para o mundo do marketing político — e, sobretudo, para o digital — essa teoria ganharia um peso inesperado: os memes, esses pequenos “destruidores” de reputações.


Hoje, no Piauí de 2024 anos d.C., vivemos um tempo em que a sociedade busca nas redes sociais uma válvula de escape para a ausência de serviços públicos de qualidade, uma pausa para rir dos problemas do cotidiano e dos seus governantes. Nos feeds do Instagram, memes se tornaram mais do que entretenimento; são um reflexo ácido da realidade e das frustrações, uma forma de expor, com humor, o que falta na vida real.

Aqui em Teresina, os memes já invadiram os mandatos e se tornaram protagonistas na última campanha eleitoral. Destruíram reputações e colocaram em dúvida a capacidade dos políticos de enfrentar os problemas que há décadas assolam a cidade.

A campanha de 2024 foi um retrato fiel do embate entre os esforços do marketing político para construir narrativas convincentes e os vídeos virais que criavam crises de imagem instantâneas. Para alguns, os memes foram uma vantagem competitiva; para outros, um desafio imenso para as equipes de comunicação, que precisavam apagar incêndios diariamente. Assim foi com Dr. Pessoa e Fábio Novo.

Nunca, ninguém, na história desta capital havia sofrido tantas crises de imagem com os memes quanto Dr. Pessoa. Com uma gestão mal avaliada e poucos resultados concretos, sua imagem se tornou um prato cheio para os criadores de conteúdo. Faltou-lhe uma comunicação institucional mais assertiva, com mensagens claras, unidade entre os órgãos e proximidade com a população. No lugar disso, o público viu uma comunicação que parecia unilateral e distante.

Assim, Dr. Pessoa deixou de ser um candidato à reeleição e passou a ser o "momento stand-up" da campanha. Durante os três anos de governo, tornou-se uma “fábrica ambulante” de memes assumindo, pra si, a responsabilidade de construir uma imagem própria, sem se deixar investir em uma estratégia de marketing estruturada. Ironicamente, ele conseguiu fazer isso “sem mimimi”: tornou-se um meme atemporal. Saiu de 3% nas pesquisas para 2,20% nas urnas — um resultado que, se não fosse trágico, seria cômico. Literalmente.

Em outra frente da disputa, vinda do 'blocão' de oposição, o deputado Fábio Novo contava com todos os apoios possíveis para conquistar o Palácio da Cidade. Sua campanha, marcada por eventos festivos e atos grandiosos, parecia quase uma Micarina fora de época constante pela cidade, também foi alvo de vídeos virais. Fábio pagou um preço alto por liderar as pesquisas, sendo alvo de ataques preconceituosos e pessoais, disfarçados de humor, que distorceram os conceitos propostos por sua comunicação.

Na internet, seguia-se uma agenda diária de produção de conteúdos nocivos e virais, e a campanha eleitoral avançava por um caminho difícil de ser digerido nos grupos de WhatsApp das famílias teresinenses. Faltavam propostas claras, narrativas consistentes e uma construção sólida dos candidatos nos núcleos de comunicação de ambos, enquanto sobravam vídeos de desconstrução circulando do Bar Gela Goela ao Pesqueirinho. O dano à imagem pessoal, aliado à falta de uma resposta do marketing, fez com que essas candidaturas se tornassem “caricatas” durante a campanha eleitoral e até mesmo após a contagem dos votos.

Mais do que uma análise mercadológica e comunicacional, é necessária uma reflexão filosófica sobre cada persona-candidato ao se propor a tamanho desafio. Afinal, como não dizia Confúcio: no Piauí, um 'meme' vale mais que mil palavras.

A OPINIÃO DOS NOSSOS COLUNISTAS NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL LUPA1 E DEMAIS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO GRUPO LUPA1 .

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