Lula sem Duda é Lulinha sem paz e sem amor
O presidente e a ausência de seu maior estrategista.
Lula sempre soube da importância de Duda Mendonça. Nos anos 90, quando amargava derrotas sucessivas, ele entendeu que precisava mudar de um operário combativo para um líder palatável. Em 2002, o marqueteiro suavizou a imagem do candidato e fez do discurso“Lulinhapaz e amor"um passaporte para o Palácio do Planalto. Agora, quatro anos após a morte do amigo e estrategista, Lula sente na pele o que é ficar sem um gênio da comunicação ao seu lado.
Duda não era apenas um marqueteiro. Era um intérprete do Brasil. Ele sabia que um político precisava ser visto, ouvido e sentido. Foi ele quem uniu política e emoção, trazendo expressões regionais, linguagem acessível e um toque de encantamento para um marketing que antes era frio e institucional. Com Duda, a comunicação política no Brasil deixou de ser um panfleto mal diagramado para se tornar um espetáculo de conexão popular.
O presidente talvez não goste de admitir, mas foi Duda quem moldou a versão de Lula que o Brasil e o mundo aprenderam a aceitar. A mudança de roupas, a barba bem aparada, os gestos calculados e o tom conciliador não foram apenas decisões pessoais — foram peças de um xadrez comunicacional montado por um estrategista que entendia que “a TV amplifica tudo: o que é bom fica ótimo, o que é ruim fica péssimo.” Hoje, em tempos de redes sociais devoradoras de narrativas, esse conceito se aplica mais do que nunca. Ou deveria.
Mas Lula está sem Duda. E, ironicamente, está também sem paz e sem amor. Sua popularidade oscila pra baixo, o custo de vida pesa no bolso dos brasileiros, e sua comunicação parece cada vez mais distante da população. Falta um fio condutor, um enredo que faça sentido. O governo reage a crises, mas não antecipa narrativas. Fala muito, mas não se faz ouvir.
Nos anos 80, Duda criou uma das campanhas mais icônicas da publicidade brasileira para o Gelol. O comercial mostrava um pai que saía cedo de casa para levar o filho ao futebol, enfrentava chuva e socorria o menino quando ele se machucava em campo. No final, incentivado pela presença encorajadora do pai, o filho marcava seu primeiro gol. O conceito que assinava o comercial conquistou o Brasil: “Não basta ser pai, tem que participar.”
Duda não pode voltar. Mas seus ensinamentos continuam ecoando. E Lula, que tanto se beneficiou da sua genialidade, talvez precise olhar para trás para entender como reencontrar o caminho da comunicação eficiente.
Os últimos posts do presidente nas redes sociais sinalizam uma tentativa de mudança: Lula voltou a conversar diretamente com os brasileiros, tentando resgatar a emoção que o trouxe até aqui. Afinal, parafraseando o conceito do comercial da Gelol, “não basta ser presidente, tem que participar”.
Mas participar, no mundo de hoje, vai além de postar vídeos ou discursar para as câmeras. É preciso construir narrativas que ressoem, que traduzam as angústias e as esperanças de um país ainda em busca de rumo. É preciso, como Duda ensinou, conectar-se com o que move as pessoas.
Sem Duda, o risco é que o que já está ruim fique ainda pior. E, no jogo da comunicação política, não há analgésico que cure a dor de uma narrativa mal contada.
Comercial Gelol:
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