Discurso do alinhamento dos três governos era ruim, mas tentaram vender como bom
Do ponto de vista da democracia e do equilíbrio de forças, a concentração de poder nas mãos de um mesmo partido e/ou grupo político não é benéfica.
A campanha do deputado estadual Fábio Novo (PT) a prefeito de Teresina insistiu do começo ao fim no discurso do alinhamento entre os governos municipal, estadual e federal. Ao longo de toda a pré-campanha e campanha eleitoral, o grupo político de Novo defendeu que Teresina estava diante de uma excelente oportunidade: ter os três níveis de governo, ou seja, prefeito, governador e presidente da República de um mesmo partido político.
Por várias vezes, insistiu-se que essa era uma chance única e que só através dela a cidade conseguiria os investimentos necessários para solucionar os seus problemas e avançar em seu desenvolvimento. Fábio Novo e seu grupo também batiam na tecla de que a esmagadora maioria das bancadas estadual e federal estavam com ele, razão pela qual eleger um adversário desse grupo não seria bom, uma vez que, supostamente, o adversário não conseguiria parcerias para obras e investimentos na cidade junto à bancada de deputados do Piauí.
O que talvez a campanha de Fábio Novo não tenha percebido é que esse discurso tinha muito mais pontos negativos do que positivos. Do ponto de vista da democracia e do equilíbrio de forças, a concentração excessiva de poder nas mãos de um mesmo partido e/ou grupo político não é benéfica para a sociedade. Tentar passar a ideia de que um gestor, sobretudo de uma capital de estado, só terá apoio se for alinhado politicamente com determinado partido soa arrogância. Talvez tivesse sido mais prudente e humilde a campanha de Fábio Novo não ter insistido nessa narrativa.
Não bastasse o discurso do alinhamento remeter à concentração excessiva de poder em um mesmo grupo, ele não se sustentava quando se fazia um breve olhar ao passado. Ao longo das últimas duas décadas, Teresina foi governada por prefeitos do PSDB, que eram oposição aos governos estadual e federal, do PT. E foi justamente nesse período que a capital teve gestões muito bem avaliadas com Firmino Filho (1963-2021) e o próprio Silvio Mendes (União Brasil), adversário de Fábio Novo no pleito eleitoral deste ano. A falta de "alinhamento" não impediu as gestões de serem exitosas.
Também havia contradição no discurso do "alinhamento". Por várias vezes, Fábio Novo minimizou o mérito das grandes obras feitas nas gestões de Silvio Mendes dizendo que elas só foram feitas graças ao apoio dos governos estadual e federal. Citava, por exemplo, que a Ponte Estaiada, uma das principais obras de Silvio, só foi realizada porque o prefeito contou com apoio do então governador Wellington Dias (PT). Repetia que o Hospital de Urgência de Teresina (HUT) só foi concluído por Silvio porque Lula ajudou no seus primeiros mandatos presidenciais.
Ou seja, o próprio Fábio derrubava o discurso do alinhamento ao evidenciar que um gestor realizou grandes obras mesmo não sendo alinhado partidariamente com o governador ou com o presidente da República.
Outro ponto pegava mal na tese do alinhamento: passava a ideia de que o governador e a bancada de deputados só iria ajudar o prefeito da capital se este fosse um aliado político. A capital, como todos sabem, é bem diferente de uma pequena cidade do interior, onde um deputado normalmente só destina recursos se tiver ali uma base eleitoral. Na capital a realidade é outra e a bancada tem histórico de estender a mão ao prefeito, seja ele quem for.
Fábio Novo perdeu a eleição para Silvio Mendes ainda no primeiro turno, mesmo com tantos alinhamentos políticos. A derrota do deputado petista deve servir de exemplo para que, no futuro, outros candidatos, seja de qual grupo ou partido for, não repitam o erro de apostar em um discurso que, além de não se sustentar, vai de encontro ao equilíbrio de forças tão essencial em uma democracia.
A OPINIÃO DOS NOSSOS COLUNISTAS NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL LUPA1 E DEMAIS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO GRUPO LUPA1 .