Bruno Gradim: Topa ou não topa? A minha escolha com Silvio Santos
Um belo relato histórico do ator e diretor Bruno Gradim sobre sua convivência e trabalho com Silvio Santos
Por Bruno Gradim
Era uma tarde de novembro de 2007 o telefone, do tipo nextel, uma espécie de rádio, toca. Do outro lado da linha estaria a pessoa que me ligaria ao maior comunicador da história da TV brasileira: "Bruno, você quer fazer o Qual é a música?", de bate pronto respondi "eu não canto bem, não quero pagar mico" e aí escutei a frase que soou feito música afinada em meus ouvidos "É a oportunidade de você conhecer o Silvio Santos". Sem pensar mais nada, aceitei. Mal sabia eu que ali estava o "sim" que mudou parte da minha vida.
O avião saiu do Rio de Janeiro, no fim de uma tarde de segunda-feira, chego em São Paulo, durmo num flat na Bela Vista e de manhã cedo parto para o complexo de estúdios da Anhanguera.
Uma mistura de "vou conhecer o Silvio Santos" com "Que mico eu vou pagar" rondava minha cabeça. Mas "cara de pau na medida certa" sempre foi uma das minhas características certeiras quando me encontrei com figuras poderosas. E assim, nessa mistura de pensamentos, começa o programa. Piada pra lá, piada pra cá, Silvio me chama pra cantar e me anuncia como "ator de novelas da Globo". Sem pestanejar ele emenda "não presta nada disso, porque nunca fez uma novela no SBT". Mal sabia ele que eu tentara inúmeras vezes, com seu produtor de elenco, uma mísera chance de um teste e nunca nem retorno eu tinha. Ali, na minha frente, vi como um pênalti, a bola na frente do gol, e assim arrisquei tudo e soltei "pois fale com seu produtor de elenco que nunca me deu uma oportunidade, porque eu quero muito fazer uma novela no SBT". Rimos. Mas eu não sabia se era gol ou se tinha ido pra fora.
Cantei, desafinei, mas não errei a letra. Silvio gozou com meu desafino, mais piadas, rimos e ponto para os meninos. Acabou o jogo e o time das meninas nos ganhou. Achei que tinha perdido. Naquele momento Silvio já havia rido de pelo menos umas 5 tiradas minhas durante o jogo. Já parecia que eu estava em casa. Confesso que não lembro de ninguém, só do Silvio e da minha audácia quando as câmeras estavam desligadas e nos despedíamos no palco "Silvio, me traz pra trabalhar com você!", eu disse isso segurando firme, meio que sem deixar ele desapertar a mão. Ali o auge da audácia. Ele riu e respondeu "deixa ver o que posso fazer".
Volto ao Rio, cabeça já havia esquecido a aventura. Na minha cabeça o Penalty tinha ido pra fora. Dias depois o telefone toca, eu atendo e uma voz tipicamente paulista diz "Bruno, o Davi Grimberg, diretor artístico do SBT, pediu seu material de vídeo para apresentar para a Dona Íris Abravanel". Coração pulou pela boca que emendou "peça ao produtor de elenco de vocês, ele tem pelo menos uns 3 DVD's com material meu". Ali o que suspeitava tinha acontecido, o produtor de elenco do SBT, que futuramente viraria meu amigo, nunca havia guardado uma imagem minha sequer. A ligação retorna com "Bruno, infelizmente não encontraram seu DVD. Envie com urgência". Não demorei meia hora e lá estava eu enviando esse material.
Sim, Silvio Santos me escalou para fazer uma novela. 1 mês depois eu assinava com o SBT para fazer a novela Revelação.
Mas claro que nada com Silvio é em vão. Ele "me deu para mulher dele" (piada que com certeza ele faria mas também me queria no Programa Silvio Santos.
Gravando o que viria a ser "o jogo dos pontinhos" seu diretor, o famoso "Magrão" me faz a seguinte proposta "Bruno, o Silvio quer um elenco fixo para o quadro e ele quer você na bancada". Respondi querendo sair pela tangente "Magrão, acho difícil porque estarei nas gravações da novela que vão me tomar muito tempo". Magrão entendeu e levou a negativa para o "homem do Baú". Thaís Pacholeck, atriz que também estava na novela e havia recebido o mesmo convite, embalada pela minha resposta corajosa dissera o mesmo. Minutos depois Silvio Santos adentra o camarim onde estávamos e disse "Bruno, Thaís, venham no meu camarim!". Um frio congelou minha espinha. Fomos, nos entreolhando e pensando milhares de coisas, dentre os pensamentos veio "perdemos!". Ali na nossa frente encontramos não o apresentador, mas sim o homem de negócios que havia aprendido a arte de negociar como camelô. Depois de algumas poucas palavras e do convite reforçado para integrar o elenco fixo do Programa Silvio Santos, escutamos um "Topa ou não topa?". Thaís me olhou e eu, na dianteira, disse: "Topo, Silvio". Thaís também "topou".
E assim passei 2 anos convivendo semanalmente com o maior comunicador da história da TV brasileira. Pude ver Silvio e suas lendárias ações, como fritar seu próprio bife no camarim para comer com pão francês, o vi com a camisa de fora das calças contando piadas e vi também o homem que passava cerca de 1 hora ensaiando com sua plateia as respostas para seus bordões.
Ali vivi a grande faculdade de comunicação que nunca cursei. Ali vivi com uma lenda. E, principalmente ali, fui talhado na arte de saber comunicar para qualquer público.
Nesse dia 17/08/2024, perdi o mestre com quem aprendi que a vida é, literalmente, sobre escolhas, onde sempre teremos quer responder o famoso bordão "Topa ou não topa?"