Coluna Política em Pauta

Júnior Santos

Preço dos alimentos: reduzir impostos não adianta se o governo se recusar a gastar menos

Se não contiver a inflação, Lula terá que viver de medidas artificiais para tentar forçar a redução de aumentos cada vez maiores.

07 de março de 2025 às 16:42
4 min de leitura

O Governo Federal anunciou recentemente um novo pacote de medidas para reduzir os preços dos alimentos no Brasil. Dentre as mais destacadas, estão as tarifas zeradas para a importação de itens da cesta básica, como carne e massas.

Lula - Foto: Ricardo Stuckert / PR

A coluna avalia como positiva qualquer iniciativa dos governos para diminuir a carga tributária sobre os ombros do contribuinte, que se vê soterrado por repasses de impostos cotidianamente — mesmo que os fins das recentes ações sejam claros: uma tentativa de recuperar política e eleitoralmente a imagem de Lula. No entanto, embasado em instruções de especialistas, é necessário frisar que qualquer isenção dessa natureza não faz sentido se o governo se recusar a gastar menos.

Sem controle financeiro, Lula não conseguirá conter o vilão de qualquer gestão: a inflação. Deste modo, caso siga leniente, qualquer tentativa de diminuir preços por meio de alívio tributário será engolida por novos reajustes imprevisíveis — uma espécie de Mito de Sísifo petista.

Dinheiro. Foto: Reprodução / Pixabay.

Os economistas dizem, no entanto, que as medidas terão poucos ou quase nenhum efeito na prática. Eles avaliam que o Brasil é exportador majoritário na principal parte da lista isenta de taxa, a exemplo da carne. O único item realmente afetado seria as massas, que, coincidentemente, é um dos menos prioritários.

Na contramão da lógica

Sobre as recentes mudanças ministeriais de Lula, pôde-se observar que o governo parece caminhar na contramão da lógica política em diversos aspectos. Esta situação fica clara na nomeação da petista Gleisi Hoffmann (PT) para as Relações Institucionais. Tida como “antipática” por deputados governistas e de oposição, a personalidade da nova secretária deve arrebentar a já frágil relação de Lula com o Congresso, em um momento em que o presidente enfrenta dificuldades progressivamente mais latentes para aprovar projetos de seu interesse.

A nomeação também cria problemas dentro de casa. Franca adversária de Haddad, Gleisi já defendeu publicamente a flexibilização do prezado arcabouço fiscal do ministro da Fazenda. Ou seja, a curto prazo, não traz vantagem alguma.

Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann. Foto: Reprodução / Agência Brasil.

Outro ponto controverso é que, até as medidas sobre os alimentos tomadas recentemente, os aliados do governo se concentravam em pautas inócuas ou muito distantes da realidade do país. O projeto da escala 6x1, tão defendido pela deputada Erika Hilton (PSOL), é sem noção, no sentido de que: é muito difícil que chegue a votação, está distante do engajamento das pessoas e ignora o momento do Brasil.

Outro exemplo é a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, já que pauta só poderá incidir no ano posterior ao qual for aprovada. Ou seja, ambas as discussões estão desconectadas dos reais anseios do povo, que deseja muito mais as coisas essenciais, como alimentos baratos e a oportunidade de estar vivo e em segurança por mais um dia.

Erika Hilton - Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Porta-vozes do governo, como o deputado Guilherme Boulos (PSOL), que inclusive é cotado para assumir a Secretaria-Geral, insistem na polarização, no ‘nós contra eles’, no momento em que o povo sinaliza óbvia preferência por uma pacificação de discursos.

Ou seja, quem quer que esteja orientando o governo parece estar caminhando em uma direção diametralmente oposta à retilínea trajetória da lógica.

A OPINIÃO DOS NOSSOS COLUNISTAS NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL LUPA1 E DEMAIS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO GRUPO LUPA1 .

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