Piauí em números

Mais de 100 mil piauienses vivem em casas sem banheiro; equivalente a 9,8% das residências

O número de residências com pelo menos um banheiro quase dobrou, saindo de 59,4%, em 2003, para 90,2%, em 2022, segundo o IBGE.

27 de setembro de 2023 às 19:52
11 min de leitura

Qual o principal cômodo de uma casa?

Muitos vão dizer que é o quarto, outros a cozinha e tem quem prefira a sala, pelo conforto e o entretenimento que podem proporcionar. A minoria, com certeza, cita o banheiro. Porém, é ele que, geralmente, garante o bem-estar de toda a família. É neste ambiente que o morador da casa tem acesso a saneamento básico e água potável, ao mesmo tempo. Ou seja, a saúde da residência começa e termina em um banheiro.


E pegando essa premissa, o banheiro se tornou tão essencial que daqui a pouco mais de dois meses, exatamente no dia 19 de novembro, se completa duas décadas, da criação do Dia Mundial do Banheiro. A data foi organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que instituiu um dia específico para esse cômodo residencial, procurando estimular o debate e ações efetivas na busca de soluções para universalizar os serviços básicos. Ainda assim, mais de 5,7 milhões de pessoas no país vivem em casas sem banheiro.

Dia Mundial do banheiroReprodução ONU

No Piauí, nos últimos 20 anos, o número de residências com pelo menos um banheiro quase dobrou, saindo de 59,4%, em 2003, para 90,2%, em 2022, último ano calculado pelo IBGE. No entanto, ainda 100 mil piauienses vivem em casas sem banheiro. Os dados evidenciam que a falta de esgotamento e de banheiros afeta principalmente as camadas mais vulneráveis da população, principalmente das residentes de comunidades urbanas isoladas ou na zona rural.

“Banheiros” de palhaReprodução SE

“O acesso ao banheiro deve estar presente nas políticas públicas, visando zerar o déficit de banheiros com a universalização do saneamento básico, que deve ocorrer até 2033, conforme as metas estabelecidas pelo Marco Legal do Saneamento. Até lá, o país precisará disponibilizar água potável para 99% da população e 90% dos habitantes devem ter acesso ao esgotamento sanitário, oferecendo dignidade a todos os cidadãos”, afirmou Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil.

Mosaico saneamentoReprodução TRATA BRASIL

Na verdade, a estimativa é de um a cada 10 domicílios no Piauí sem banheiro exclusivo para os moradores, nas suas dependências Essa média piauiense é quase cinco vezes maior que a nacional, onde somente 1,8% domicílios não tem o cômodo, o que representa pouco menos de 2 a cada 100 domicílios. No ranking brasileiro, o Piauí só fica à frente do Maranhão, com 11,8%, e do Acre, com 12,6% das residências sem banheiro.


No Brasil, mais de 36,6 milhões de pessoas não têm acesso à água potável, 97 milhões – 45% da população – não contam com esgotamento sanitário e 50% de todo o esgoto produzido é despejado na natureza sem qualquer tipo de tratamento. Segundo o Censo Escolar do INEP, exatas 5.826 escolas não possuem banheiros. Entre os inscritos no Cadastro Único em 2021, cerca de 5 milhões não possuem banheiros em seus domicílios e outros 25 milhões não têm acesso a esgotamento adequado.


E falta de saneamento, ainda bastante deficiente em todo o país, faz com que o sistema de saúde pública fique sobrecarregado. Segundo o estudo Saneamento e Doenças de Veiculação Hídrica, do Instituto Trata Brasil, em 2019, ano base do levantamento, mais de 273,4 mil internações foram anotadas, uma alta de 30 mil hospitalizações na comparação com ano anterior, além de 2.734 mortes. A incidência de internações foi de 13,01 casos por 10 mil habitantes.

Retrato da falta de saneamentoReprodução SNIS

No Piauí, foram 29,64 internações a cada grupo de 10 mil pessoas, terceiro maior índice do país, atrás apenas do Maranhão e Pará. O estudo foi feito a partir de dados públicos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e o Datasus, portal do Ministério da Saúde que acompanha os registros de internações, óbitos e outras ocorrências relacionadas à saúde da população. Para o Trata Brasil, o estudo destaca a relevância de se acelerar a agenda do saneamento básico com mais investimentos

Obras de saneamento interior do PIReprodução

“Os dados deixam claro que qualquer melhoria no acesso da população à água potável, coleta e tratamento de esgotos traz grandes ganhos à saúde pública. Por outro lado, o não avanço faz perpetuar essas doenças e mortes de brasileiros por não contar com a infraestrutura mais elementar. São hospitalizações que poderiam ser evitadas”, afirmou Luana Pretto, apontando que o Piauí, bem como a capital Teresina, apesar de ainda terem números altos, tem avançado bastante no esgotamento sanitário.


O Piauí possui 79,5% da população com acesso à água, enquanto Teresina já está universalizado o acesso. Em relação à coleta de esgoto, enquanto que o Piauí tem 17,7% dos moradores com coleta, a capital do Estado ultrapassou a casa dos 40% de sua população com acesso. Ou seja, um crescimento significativo, principalmente nos últimos cinco anos, melhorando, assim, a condição de vida da população teresinense”, acrescentou a presidente.

Luana Pretto - Pres TRATA BRASIL

Esse tempo de cinco anos, citado por Luana, é justamente o período que o tratamento de água e esgoto de Teresina foi transferido para a iniciativa privada. E de lá pra cá, a ampliação ano a ano do saneamento básico na cidade é inversamente proporcional ao de internações por doenças hídricas. As internações decorrentes de diarreia em Teresina caíram de 419 para 131 – uma redução superior a 130%.

Banheiros “secos”Reprodução

Já os casos de dengue reduziram 66% e as hospitalizações diminuíram cerca de 20%, entre os anos de 2017 e 2021. Somente no ano passado, a incidência de chikungunya caiu de 2.608 para 75 casos, tendo as hospitalizações reduzidas em 94% e não registrando óbitos por zica vírus ao longo do ano de 2021. Todos esses dados são retirados Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e o Datasus, portal do Ministério da Saúde.

Saneamento básicoReprodução

A Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina não confirma os números, tendo em vista que não é apontado no prontuário do paciente que a doença tenha relação com a falta de esgotamento. No entanto, os profissionais de saúde confirmam que os avanços dos índices tanto de abastecimento de água quanto na coleta de esgoto, bem como a existência de banheiros nas residências, são de fatores importâncias para manter parte da saúde familiar.


"Primariamente, as doenças mais associadas à falta de saneamento básico são aquelas veiculadas pela água. São várias, mas talvez as mais importantes sejam as diarreias infecciosas. A população mais vulnerável às diarreias são as crianças", informou o médico Bráulio Perboaire, acrescentando que além das diarreias, outras doenças graves são hepatites, a esquistossomose e leptospirose. "Tudo isso por falta de esgotamento, que muitas vezes é evitado com a existência de um banheiro na casa", completou.


E a referência ao banheiro pelo profissional, também é verificada seu crescimento pelo IBGE. De acordo com dados da última PNAD continuada, o número de banheiros nas moradias de Teresina cresceu 5,6%, entre os anos de 2017 a 2019, último ano da pesquisa. Foi o terceiro maior crescimento do Nordeste, atrás de Maceió e Natal. esse período, foram construídos pouco mais de 14 mil banheiros nas casas, uma média aproximada de 13 banheiros por dia.


“Estamos trabalhando na ampliação da rede de esgoto de toda a capital. Atualmente, estamos com 42,6% de cobertura de esgotamento sanitário, ou seja, mais que dobramos a cobertura da cidade, que saiu de 19% para 42,6%. Até 2024 a capital elevará esse índice para 59%, proporcionando mais saúde e qualidade de vida aos teresinenses que hoje já vivem uma nova realidade quanto à estrutura do saneamento básico”, afirmou Fernando Lima, diretor executivo da empresa Águas de Teresina, acrescentando que a meta é universalizar o serviço até 2033.

Fernando Lima - Diretor Águas de THEFoto: AEGEA

A expectativa é tornar Teresina referência em saneamento no Nordeste, ampliando as possibilidades de novos investimentos para a cidade. Ainda conforme dados do Instituto Trata Brasil, apenas 23 cidades tratam mais de 80% do esgoto gerado. Entre as capitais, Teresina aparece à frente já Manaus, Macapá, Rio Branco, Porto Velho, Belém e quase se iguala com Maceió e Natal. Em todo país, somente 49% dos esgotos gerados são tratados.

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