Impasse. Resumo em uma palavra a situação de técnicos e instrutores que estão abrigados na Associação Amigos do Balé da Cidade de Teresina, que confirmou que os trabalhadores seguem de aviso prévio. Mas as negociações não estão paradas. Consegui contatar com os principais atores envolvidos no imbróglio que vem movimentando o cenário artístico-cultural piauiense.

O Balé da Cidade conseguiu sua sobrevivência. Na noite de terça-feira, 23, o post intitulado “Nota de Agradecimento” começou a ser divulgado nos grupos ligados a arte e cultura piauiense. Nas outras redes do grupo, silêncio. Com uma alegria controlada, o texto celebra e agradece o acordo de manutenção do contrato da companhia com a Fundação Monsenhor Chaves. Na mesma nota, no finzinho do texto “Infelizmente, alguns colaboradores terão seus vínculos encerrados, visto que há restrição orçamentária.”

Geralmente, um informe desta monta, de um assunto que conseguiu grande mobilização social e engajamento midiático, as redes sociais são usadas como meio principal de divulgação. No caso do BCT, só depois que vi na TV que eles publicaram em sua rede aberta, o instagram (@baledacidadedeteresina). Poucas manifestações nos comentários em solidariedade aos que estão demissionários. A maioria absoluta festeja a conquista de continuidade do BCT.

Quem lembrou dos que seguem a caminho do desemprego nos comentários da postagem foram bem enfáticos. Um deles afirmou: “vitória amarga”. Outro disse que o corte foi de quase 40%. Uma das instrutoras disse que não considerava como vitória. Ficou um ambiente de festa, pontuado por lamentos e queixas bem contundentes. Uma delas bem pesada.

É curioso que a publicação tenha vindo bem depois que as outras mídias. Mais ainda quando um fato relevante, que teve uma ampla cobertura não usou do expediente comum em tempos de redes sociais. O anúncio favorável à continuidade do balé era para ser postado em conjunto com a conta da FCMC (@cultura_the). Até a publicação, o perfil da Fundação não fez mais nenhuma nova postagem que mencionasse o balé. Segue a Nota do rompimento na linha do tempo.

Sindicato dos Artistas

A presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Piauí - SATED-PI, atriz e produtora Lari Salles, questionada sobre o assunto, afirmou que “O Sated-PI, está agendado para o dia 18 de maio, a reunião sequência daquela que fizemos em 27 de março. A FCMC , será pautada também. Vamos convidar, chamar todos, e ver se o pessoal do balé comparece”. A reunião está prevista para acontecer no Teatro Torquato Neto, às 10h.

Pré-candidatos da cultura

Também questionei sobre o tema aos pré-candidatos a vereador(a) de Teresina anunciados até agora, que vêm do segmento. Um deles, o músico Edvado Nascimento, que vai concorrer pelo PSOL, não respondeu as perguntas, enviadas na manhã de hoje, até o momento da publicação desta matéria.
A atriz e diretora, Bid Lima, que deve concorrer a uma cadeira na Câmara Municipal de Teresina pelo PSB, respondeu: “A possível demissão dos artistas das artes cênicas abrigados na Associação Amigos do Balé da Cidade de Teresina, é mais do que uma perda para a cultura do município - é um sinal alarmante do descaso de uma gestão que não valoriza nem colabora com as promoções culturais. Esses artistas não são apenas intérpretes talentosos, mas também guardiões da identidade cultural da cidade, transmitindo suas tradições e histórias por meio de sua arte. A demissão deles seria um golpe devastador para a comunidade artística local e para todos os que apreciam e se beneficiam da riqueza cultural de Teresina.”

Amigos do Balé

A presidente da AABCT, Francisca das Chagas Silva, bailarina e coreógrafa, foi bem econômica em sua resposta e não abordou todas as perguntas. Segundo ela, “Neste momento gostaria de te passar mais informações, porém as negociações voltaram a acontecer, e nesse momento não tenho como te passar nenhuma informação concreta, buscando essa articulação pra todos como foi sempre o meu ponto principal, pois acredito demais nesse projeto que a FMC tem com a gente, representante da AABCT, bem como todos os profissionais que ainda estão com gente, pois ninguém ainda foi demitido”. É verdade. Mas todos seguem de aviso prévio, confirmado pela Chica Silva, que vem dos tempos áureos do BCT. Do tempo de “Fantasia Nordestina”, de Sidh Ribeiro. Uma das coreografias mais belas que já assisti do Balé. Um primor.

Presidente da FCMC

O suplente de vereador, Stanley Freire, que está no cargo a apenas um mês e seis dias, assumiu após a exoneração do vereador Neto do Angelim, que retornou à CMT, foi indagado em vários pontos sobre a continuidade do contrato de instrutores e técnicos e outros assuntos afins. Segundo o presidente, “Sobre o contrato com AABCT estamos alinhando. Ainda estamos em conversação. Creio que até começo da próxima semana teremos concluído. Estamos procurando a melhor forma para todos, sem prejuízo para ambas as partes.”

Muito solícito, o gestor mostrou-se empenhado em resolver o imbróglio da melhor forma possível. Stanley afirmou que vai reunir-se novamente com todos os envolvidos na próxima segunda-feira, 29. O presidente não afirmou categoricamente que o destino do balé está selado. Nem negou o contrário. Sem entrar em detalhes de como pretende solucionar o problema, reafirmou que está trabalhando para que o melhor caminho seja encontrado para todas as partes.

Vitória de Pirro

Quando a gente lê a nota emitida pela FCMC falando sobre o fim do contrato com a AABCT, a impressão que fica é que o assunto está encerrado. O acordo com o BCT foi muito rápido. O que nos faz crer que o principal ingrediente no caldeirão da mudança fermentou no fim de semana e trouxe um resultado surpreendente. O Balé da Cidade manteve seus integrantes, embora a Fundação não confirme de forma cravada. Fala no gerúndio. A coisa ainda está acontecendo.

A força do balé foi posta a prova. A malha social se manifestou. Matérias em TVs, inúmeras matérias em portal, pessoas ilustres lamentando nas redes sociais. Todos também apresentando a importância do BCT, conquistado com troféus e premiações. A pressão que o presidente da Fundação deve ter recebido, certamente foi muito grande. Afinal, com a aproximação da eleição, quaisquer que seja o desconforto, tudo vai para conta do cabeça de chapa.

Já os instrutores estão bem revoltados. Não é para menos. Alguns mostram-se abandonados pela AABCT. Em postagens de outros artistas que publicaram sobre o assunto, num dos comentários de um perfil masculino, o titular afirma que a associação que representa o balé tem que defender todos os que estão abrigados na entidade.

Houve outras reprimendas na social media que lembraram que a AABCT tem que focar na luta coletiva. Teve quem comentou que tudo não passou de uma “Vitória de Pirro”, um fato histórico usado em situação emblemática quando a vitória é questionada pelas condições e consequências da “triunfo”. Vamos aguardar até a próxima semana, com esperança de um desfecho definitivo e positivo para todos(as) os(as) trabalhadoras da arte e cultura que ainda segue indefinido.

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