Política

Ex-governador Mão Santa completa 81 anos; confira retrospectiva política

Acompanhe a trajetória pública do político afeito por viradas que já foi prefeito, deputado estadual, senador e governador do Piauí.

14 de outubro de 2023 às 15:43
12 min de leitura

Francisco de Assis Moraes Souza, o Mão Santa, completou 81 anos nesta sexta-feira (13), são 43 anos dedicados a vida pública. Nesta breve retrospectiva, o Lupa1 relembra a trajetória de um dos indivíduos mais caricatos da história da política piauiense.

Mão Santa
Andressa Martins/Lupa1

A começar pelo apelido que tanto marcou seus discursos de campanha e seus projetos de governo - Mão Santa. A origem do nome vai ao encontro do seu ingresso na política. Mão Santa foi, por muito tempo, o primeiro cirurgião da Santa Casa de Misericórdia em Parnaíba. Ele contou ao jornalista Zózimo Tavares que a primeira pessoa a se referir a ele assim foi um lavrador de Araiozes, que após ser operado de uma hérnia de disco, convocou o sindicato de sua categoria e, em gratidão, disse ao público: "Este médico tem as mãos santas."

Santa Casa de Misericórdia, onde o Dr. Francisco fez suas primeiras operações. Foto: Reprodução

Deputado Estadual

Médico muito bem conceituado em Parnaíba, o primeiro cargo eletivo que disputou e venceu o Dr. Francisco de Assis Moraes Souza, foi o de deputado estadual, filiado à Aliança Renovadora Nacional (Arena). Neste pleito, Mão Santa, com 30 anos completos, obteve 15.446 votos, figurando entre os 10 mais bem votados do ano de 1978.

Prefeito

Logo após sua passagem pela Assembleia Legislativa, Mão Santa - filiado ao PDS (PPR) - chegado ao fim o bipartidarismo no Brasil, perdeu duas eleições para prefeito em Parnaíba antes de conquistar a vitória em 1988, com 21.194 votos. Mão Santa havia se candidatado a deputado federal em 1986, mas não havia conseguido se eleger, ficando na primeira suplência da coligação PMDB-PDS. Convocado em 1988 para a Câmara Federal, com a vitória do deputado federal Heráclito Fortes para prefeitura de Teresina, Mão Santa renunciou à condição de suplente titular para governar sua terra natal.

Mão Santa e Heráclito Fortes (na atualidade). Foto: Reprodução

Como prefeito, desenvolveria o estilo que marcaria boa parte da personalidade política de Mão Santa ao longo de sua carreira. Populista e simples, o gestor andava mais pelas ruas da cidade do que nos gabinetes da prefeitura. Essa característica o tornou bastante querido na região do Baixo Parnaíba. Foi a partir disso que Mão Santa se convenceu de que já era hora de tentar pleitear o governo do Estado. Filiado ao PPR, diante da indefinição do grupo situacionista, Mão Santa dispôs seu nome.

Ex-governador Lucídio Portella foi o principal desarticulador da primeira campanha de Mão Santa ao governo. Foto: Reprodução

A pedra no seu sapato foi o líder maior do partido, o senador Lucídio Portella, que, subestimando o popular prefeito, disse: "Esse aí não passa da Volta da Jurema," insinuando que Mão Santa era conhecido apenas na região litorânea.

Preterido em seu partido, Mão Santa migrou para a oposição se filiando ao PMDB, partido que mais lhe marcaria e seria marcado por ele. Porém, seus correligionários, apesar de lhe fornecerem a chapa, não tinham a menor esperança de que a batalha contra o "esquemão" fosse vencida. Do outro lado, a situação também não acreditava. Hugo Napoleão, líder político do grupo e candidato natural, dizia que só disputaria se o professor Wall Ferraz - a quem ele considerava forte - fosse para o pleito também. Acabou que Wall escolheu ficar na prefeitura de Teresina e ficou acertado que o deputado federal Átila Lira fosse o candidato da situação.

Mão Santa e Átila Lira. Foto: Reprodução.

No clima de "já ganhou", Átila se acomodou, enquanto Mão Santa punha em prática seu estilo "corpo a corpo." Todo o poder pefelista garantiu a vitória de Átila no primeiro turno, com 62.747 votos de diferença. No entanto, a situação começou a mudar na segunda metade do primeiro turno e em toda a segunda etapa do pleito. Incansável, Mão Santa visitava os rincões do Piauí, nas comunidades e mercados, e acabou virando o placar, sendo eleito governador do Estado com uma diferença inacreditável de 128.310 votos. Foi um dos "Davi contra Golias" nos pleitos estaduais.

Governador

Mão Santa fez um primeiro mandato marcado por denúncias dos adversários, que o acusavam de nepotismo e personalismo na gestão pública (por programas como SPA Santo, Sopa na Mão, Mãos que trabalham...), o que fez com que, mesmo reeleito contra Hugo Napoleão em 1998, de virada outra vez, ele tivesse seu mandato cassado após um longo trabalho do derrotado para que isso ocorresse. O que no fim do processo em 2001, fez com que figurasse como o primeiro e único (até o momento) governador cassado na história da república brasileira.

Adalgisa, Mão Santa e o ex-prefeito Firmino Filho. Governador cassado foi recebido "nos braços do povo". Foto: Reprodução.

Senador

Porém a cassação não seria o fim dessa história. Mão Santa virou a página. Se candidatou e se elegeu senador da República com 664.600 votos em 2002. No Senado, seria eternizado por seus mil discursos, estando até o fim do seu mandato em 2010 quase diariamente na tribuna. Nas falas ou em apartes, Mão Santa mostrava sua personalidade e instrução - se não recitando declarações para sua esposa Adalgisa, em um mesmo discurso, conseguindo a proeza de unir "filosofia, autoajuda empresarial e axé music," como escreveu a Revista Piauí em 2008.

Mão Santa durante discurso no Senado. Foto: Reprodução

Citava cotidianamente o filósofo grego Sócrates, o primeiro ministro inglês Winston Churchill e o senador Rui Barbosa. E principalmente, a maioria de seus discursos eram envoltos de críticas ao PT e à gestão do presidente Lula, a quem chamava Luís Inácio.

Em 2006, chegou a se candidatar pela terceira vez ao governo do Estado, quando foi derrotado pela "onda vermelha" liderada pelo seu antigo aliado José Wellington Barroso de Araújo Dias (PT). Terminado seu mandato em 2010, vendo que o PMDB não lhe daria legenda para disputar reeleição, Mão Santa pôs fim ao frutífero casamento de décadas e se filiou ao agora incorporado PSC.

Após mais de 16 anos de filiação, Mão Santa deixou o MDB. Foto: Reprodução / TV Senado

Candidato ao governo

Mão Santa foi candidato à prefeitura de Parnaíba em 2012, mas foi derrotado em sua própria cidade por Florentino Neto do PT. Nesta eleição, o experiente político não resistiu à grandiosa estrutura petista, mas obteve 24.151 votos.

Em 2014, o PSC lançou Mão Santa como candidato ao governo do Estado. Ele teve que enfrentar seu sobrinho que governava o Piauí, Antônio José Moraes Souza Filho, o Zé Filho (PMDB). Além do forte ex-governador Wellington Dias, que neste pleito obteve mais de um milhão de votos. A eleição foi decidida no primeiro turno, dando vitória ao petista.

Todos os sinais indicavam que chegava ao fim a carreira política de Mão Santa, que obteve pouco mais de 25 mil votos. Porém, em 2016, filiado ao Solidariedade, ele não só voltaria a galgar novamente relevância política como rememoraria suas origens eleitorais.

Mão Santa voltou a governar a Parnaíba após 23 anos longe do poder municipal. Foto: Reprodução.

Prefeito novamente

Candidato contra o então prefeito Florentino Neto, Mão Santa dispunha de apenas dois partidos em seu favor, o seu, o Solidariedade, e o PSL. Florentino possuía a máquina pública, o apoio do governador Wellington Dias e 20 partidos em sua coalizão. A 10 dias antes do pleito, Mão Santa estava muito atrás do prefeito nas pesquisas, que esbanjava a pose de vitorioso. Se Florentino tivesse aprendido com a história, não menosprezaria o tino de Mão Santa para as viradas eleitorais. E foi o que aconteceu. Mão Santa voltou a governar Parnaíba após 23 anos, sendo eleito com uma diferença apertada de pouco mais de mil votos.

Mão Santa foi reeleito em 2020, após problemas partidários no Solidariedade, filiado ao Democratas (atual União Brasil). Nos dias de hoje ele goza de uma popularidade inquestionável em Parnaíba, sendo aprovado por 90% da população. Sobre a sucessão municipal no pleito de 2024, diversos nomes surgem, mas até a publicação desta reportagem documental, nenhuma definição foi tomada.

Homenagem aos 81 anos de Mão Santa, publicada nas redes sociais da deputada Gracinha Mão Santa. Reprodução / Instagram

Com 81 anos, Mão Santa ainda sustenta plena atividade política, sugerindo até mesmo candidatura à presidência da República em entrevista recente. A declaração virou motivo de piada para algumas pessoas na internet, mas a história prova que não se pode subestimar Francisco de Assis Moraes Souza, o Mão Santa.

"Quem me inspirou na política foi Petrônio Portella, que me recrutava para enfrentar este gigante, herói da política piauiense, o engenheiro Alberto Silva", disse uma vez.

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