O mau exemplo que arrasta: Quem era Robin da Carne
Empresário com extensa ficha criminal cresceu nas redes usando polêmicas e virou símbolo controverso do influenciador fora da lei
A morte de Antônio Robson da Silva Pontes, o Robin da Carne, aos 35 anos, encerra a trajetória de um personagem que encarnava, ao mesmo tempo, o criminoso reincidente e o fenômeno digital. Ele foi encontrado morto nesta quinta-feira (19) em sua fazenda Nosso Agro, no interior do Maranhão, após publicar nas redes sociais imagens a bordo de um UTV. A causa da morte ainda está sendo investigada pela Polícia Civil.
Robin era dono da marca Nossa Carne, atuava no setor frigorífico e tinha quase 50 mil seguidores no Instagram. Mas não foi pelo trabalho com proteína animal que ficou conhecido: suas prisões, vídeos debochados e aparições policiais o transformaram num dos nomes mais controversos — e engajados — do meio digital no Piauí.
De empresário a personagem
Empreendedor desde jovem, Robin construiu um negócio legítimo na comercialização de carnes. Com o tempo, passou a transformar sua imagem pública em uma espécie de show: postava vídeos com caminhonetes, dinheiro, armas, festas, trilhas, e adotava uma linguagem desafiadora, quase caricata. Um personagem entre o sertanejo raiz e o fora da lei.
Não demorou para que a realidade batesse à porta, ou melhor, à cela.
Um histórico de prisões
A ficha criminal de Robin inclui pelo menos duas prisões por porte ilegal de arma de fogo, além do envolvimento direto com as operações “Jogo Sujo” e “Jogo Sujo II”, que investigaram a promoção de jogos de azar como o “Tigrinho” na internet. Em uma dessas operações, chegou a permanecer foragido antes de se entregar à polícia.
Em 2022, após ser preso com arma, dinheiro e drogas em um veículo sem placa, pagou fiança e foi solto no dia seguinte. No mesmo dia, viralizou ao postar um vídeo dançando de fralda. O deboche virou estratégia — e também motor de engajamento.
Influência e impunidade
Mesmo réu e alvo constante de inquéritos, Robin mantinha sua liberdade graças a pedidos judiciais alegando “necessidades empresariais”. O argumento o livrou de recolhimentos noturnos e permitiu viagens, mesmo com medidas restritivas em curso.
Cada prisão parecia alimentar ainda mais sua popularidade. A lógica era simples: quanto mais escândalo, mais views. O influenciador crescia ao viver fora da curva e da lei.
A vida na fazenda
Nos últimos meses, Robin vinha se dedicando à rotina rural na fazenda Nosso Agro. Suas postagens recentes misturavam trilhas, criação de gado e momentos de lazer no campo. Em seu último vídeo, aparecia sorrindo, dirigindo um UTV na área externa da fazenda.
Horas depois, foi encontrado morto. O Instituto Médico Legal recolheu o corpo e investigações estão em andamento. A causa da morte ainda não foi oficialmente divulgada.
O personagem e a crítica
Robin da Carne era o retrato de uma era em que a notoriedade supera a moral. Misturava ostentação, ilegalidade e carisma com doses calculadas de deboche. Transformou-se em símbolo de um Brasil onde a audiência premia quem mais escandaliza.
Não era herói. Tampouco totalmente vilão. Era um personagem que se alimentava de curtidas, mesmo sob investigação, e que usava o próprio histórico criminal como diferencial de mercado. Um influenciador do caos.
Análise Lupa 1
Robin da Carne personifica o paradoxo da influência contemporânea: foi exemplo do que não se deve ser — e mesmo assim, arrastava. Arrastava views, comentários, seguidores e atenção. Seu legado é incômodo porque escancara o poder da imagem sobre o caráter.
Agora, com sua morte repentina, fica a pergunta que incomoda: quantos outros “Robins” estão sendo construídos sob o aplauso disfarçado do engajamento?