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‘Sem cerimônia’, ex-prefeitos agem como se ainda fossem prefeitos em Brasília

A Marcha não é só dos prefeitos. É dos que mandaram, dos que mandam e, quem sabe, dos que ainda mandarão

22 de maio de 2025 às 15:34
4 min de leitura

Brasília recebeu, mais uma vez, prefeitos de todo o país durante a XXVI Marcha dos Prefeitos. No entanto, o que se viu, pelo menos no que diz respeito a alguns municípios, foi uma cena que mais parece roteiro de novela política, daquelas bem conhecidas dos eleitores: os ex-prefeitos continuam no comando, só trocaram de cadeira.

Marcha dos "Prefeitos", em BrasíliaDivulgação CNM

Basta uma rápida olhada nas redes sociais para perceber quem realmente dita as ordens nas prefeituras. Os próprios ex-prefeitos fazem questão de divulgar fotos, vídeos e comentários, todos recheados de uma segurança e uma desenvoltura que fariam qualquer cidadão menos atento jurar que eles ainda estão no exercício do cargo. Teoricamente, não estão no papel formal de prefeitos. Mas, na prática, estão sim, ditando as regras.

A participação escancarada desses ex-gestores na Marcha dos Prefeitos é, na verdade, a confirmação viva e itinerante daqueles velhos boatos de campanha que sussurravam que os atuais prefeitos seriam, na realidade, meros “laranjas” dos antigos mandatários. E eles nem fazem questão de disfarçar. Nas fotos, os ex-prefeitos aparecem no centro das reuniões, ocupam as cadeiras mais disputadas e, claro, são eles quem conduzem as conversas com deputados, senadores e ministros.

Senador Ciro Nogueira acompanhado de ex-pefeitos durante a Marcha dos "Prefeitos"Reprodução

Enquanto isso, os prefeitos oficiais, aqueles com diploma, faixa e tudo, são empurrados para a lateral das imagens, sendo apenas coadjuvantes de luxo que se conformam em participar dos rega-bofes oferecidos por parlamentares da Capital Federal ao tempo em que publicam que estão “tratando de demandas importantes”.

E aqui, para ser justo, cabe uma distinção importante: há os que ao menos se deram ao trabalho de ocupar cargos formais nas administrações, como chefes de gabinete, secretários de administração ou de finanças. Ao menos possuem um contracheque que, de forma torta, justifica a presença em Brasília.

Ex-prefeitos escanteiam atauais pefeitos e assumem protagonismoReprodução

Mas há também os outros. Aqueles que não possuem qualquer vínculo oficial com as prefeituras, não têm portaria, não têm nomeação, não têm nada, exceto, claro, a influência. E, aparentemente, a chave do cofre. Viajam às custas do erário público, circulam pelos corredores do poder como se o tempo tivesse parado e os mandatos ainda estivessem vigorando.

É a institucionalização do “prefeito de fato”. O eleitor vota em um, mas quem governa é outro. Está tudo ali, à mostra, nas postagens, nas selfies, nas legendas e nos bastidores. O constrangimento? Nenhum. Afinal, a prática é tão naturalizada que até parece norma.

Ex-prefeito de Buruti dos Lopes, Junior Percy, com o senador Ciro NogueiraReprodução

O curioso é que, na campanha, quando se levantavam suspeitas de que alguns candidatos seriam apenas figuras decorativas, instrumentos para perpetuar ex-prefeitos no poder, a resposta era sempre a mesma: “Intriga da oposição.” Pois bem, Brasília não mente. A Marcha não é só dos prefeitos. É dos que mandaram, dos que mandam e, quem sabe, dos que ainda mandarão.

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