Litucera volta à cena em Teresina mesmo após anos de polêmicas e decisões judiciais
Litucera volta à limpeza urbana de Teresina em tentativa de nova contratação emergencial que levanta suspeitas e críticas.
A Litucera Limpeza e Engenharia Ltda., empresa paulista do ramo de limpeza urbana, está tentando manter sua volta à operação do lixo em Teresina, reacendendo alertas sobre a recorrência de contratações emergenciais, disputas judiciais e acordos de bastidor que há anos sustentam o domínio de um mesmo grupo empresarial sobre um dos serviços públicos mais sensíveis da capital.
Com sede em Vinhedo (SP), a Litucera atua em diversos estados e há pelo menos uma década mantém presença constante no Piauí — em especial em Teresina — por meio de contratos sem licitação. Entre 2021 e 2023, firmou oito contratos emergenciais com a Prefeitura de Teresina, somando mais de R$ 204 milhões, todos assinados sem concorrência pública.
A atuação da empresa foi suspensa em 2024 por decisão da Justiça do Piauí, que apontou abuso nas renovações e vedou sua recontratação por novas dispensas de licitação. Mesmo assim, a Litucera retornou em 2025, sob nova gestão municipal, e voltou a ser cotada como principal interessada em nova contratação direta — desta vez com veículos de 2012, salários abaixo da convenção coletiva e estrutura reduzida.
Os donos do lixo
A Litucera é controlada pelos empresários Osvaldo Vieira Corrêa e Jaime Joaquim Gonçalves, que, apesar das sucessivas polêmicas, seguem fora dos holofotes. Seus representantes em Teresina evitam exposição pública, mas atuam nos bastidores em articulação com figuras políticas e com setores estratégicos da máquina pública local.
Em 2023, a empresa processou o dono da concorrente Via Ambiental por críticas feitas durante uma audiência pública na Câmara Municipal. Já em 2024, denunciou as empresas Aurora e Recicle por suposto uso de documentos falsos em um atestado técnico — episódio que escancarou a guerra de bastidores no bilionário mercado da coleta urbana.
Câmara e Prefeitura: silêncio conveniente
Apesar do histórico de decisões judiciais contrárias, da suspensão anterior pelo Tribunal de Justiça e dos questionamentos de órgãos de controle, a Prefeitura de Teresina voltou a abrir caminho para a Litucera. Mudou o prefeito, mas o modelo se manteve: contratos emergenciais, pouca transparência e um serviço milionário sendo gerido sem licitação.
O mais grave é o silêncio da Câmara Municipal, que, mesmo tendo conhecimento das sucessivas crises, não reagiu à altura nem se movimentou para convocar explicações públicas ou investigar os contratos firmados com a empresa.
A sensação entre servidores e especialistas do setor é que há um ciclo instalado na cidade: os gestores mudam, mas os acordos subterrâneos permanecem intactos.
O ciclo do lixo
A volta da Litucera é o retrato de um sistema viciado. Teresina parece refém de um grupo empresarial que há anos lucra com a ausência de planejamento público. As licitações nunca são concluídas, as dispensas se sucedem e a cidade paga caro — em dinheiro e em credibilidade.
A questão já não é mais sobre qual empresa vai prestar o serviço, mas sobre quem tem força suficiente para se manter acima da lei, da moralidade e do interesse público.