Júlio Chaves

Praças de Teresina

Se um espaço urbano está vazio, isso indica que algo de muito errado está em seu planejamento.

21 de julho de 2022 às 11:24
5 min de leitura

A cidade deve ser projetada de forma holística, com características que as tornem sustentáveis e seguras, devendo assim os espaços públicos serem vivos, e constantemente frequentados pela sociedade de uma forma democrática.

Um exemplo de espaços públicos em Teresina que não possuem vida, são as nossas praças, que não possuem acolhimento necessário à sociedade, além da insegurança. Se um espaço urbano está vazio, isso indica que algo de muito errado está em seu planejamento.

As praças e ruas devem ter vida e interação social, estas devem possuir complexidade e variações em suas atividades e usos. As praças devem ser convidativas, e em seu entorno possuírem características urbanísticas que envolvem a interação e a circulação da sociedade.

Praça Dezesseis de Agosto na zona Leste

As pessoas são atraídas por outras pessoas, as crianças são atraídas por outras crianças. Deve haver um acolhimento humano entre estas.

Ao observarmos as praças teresinenses, vemos espaços vazios, onde nada acontece e onde não existem relações sociais. São espaços mortos, onde em seus entornos não existem cafés, bares, escritórios e nem “olhos nas calçadas”, como cita Jane Jacobs em seu livro Morte e Vida das Grandes Cidades. Não há feiras e nem eventos sociais.

Simplesmente só observamos bancos vazios e algumas árvores criando sombras que não são aproveitadas pela população. De acordo com Jan Gehl, urbanista dinamarquês, as cidades devem possuir características para estimular o uso pela população, como rotas diretas, lógicas e compactas, além de dimensões pensadas na escala humana e espaços hierárquicos, onde os planejamentos foram feitos através de estudos mais complexos.

No urbanismo contemporâneo, podemos ver grandes espaços com rotas em longas distâncias, espraiamentos urbanos e grandes avenidas. Tudo isso espalhados em planos urbanos sem sensibilidade que possa promover caminhadas mais curtas, estímulos ao uso de modais como bicicletas, com soluções que parecem complexas, mas que são simples, se usadas através de um estudo prévio e feito por urbanistas capacitados em seu planejamento.

Praça Wilmary, que antes era bastante frequentada por praticantes de slackline. Devido ao grande número de assaltos, foi abandonada.

Grandes muros ao redor de nossas praças as tornam espaços com uma hierarquia negativa, locais isolados e que muitas vezes são utilizadas apenas por usuários de drogas.

Praça Dezesseis de Agosto na Zona Leste; É uma linda praça, mas completamente isolada e sem vida.

Uma praça para se tornar viva não necessita apenas de uma alta densidade, mas de uma série de fatores que, combinados, podem tornar tais espaços mais convidativos, aconchegantes e com diversidade de pessoas que se sintam atraídos por estes espaços.

As praças devem possuir fatores que estimulem um maior tempo de permanência. A alta densidade não proporciona por si só essa permanência, e sim questões como clima, arborização, bancos adequados, áreas de gramados, bem como outras questões. Diversos fatores podem se tornar barreiras psicológicas, como iluminação mal projetada, grandes espaços vazios, pouca vegetação, paisagismo mal resolvido e certo isolamento social.

Praça Ocílio Lago, conhecida como Praça dos Skatistas, zona Leste

As fachadas ao redor devem ser ativas, proporcionando uma certa circulação de pessoas em diversos horários, o incentivo ao uso de bicicletas e pedestres com largas calçadas em seu entorno são considerados fatores positivos e que podem proporcionar praças mais vivas, além do incentivo de feiras e eventos sociais.

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