Thiago Trindade

SETUT: dos milhões ao zero

Prefeitura anuncia corte total no repasse a empresários do transporte.

31 de março de 2022 às 21:19
4 min de leitura

É a primeira vez que Teresina se depara com uma grande crise no transporte público. Há pouco mais de dois anos sem oferecer 100% da capacidade do serviço, a situação começou a tomar novos rumos. E para pior. O Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Teresina (SETUT) que por anos arrecadou quantias imensuráveis para as empresas do ramo, mesmo sendo alvo de reclamações constantes nos usuários, agora quer mais.

Segundo o vice-prefeito Robert Rios durante a gestão dos Tucanos os empresários receberam valores que ultrapassaram a bagatela de 224 milhões de reais. Mesmo com os repasses mensais, os atrasos ainda aconteciam. Estes, que levariam ao atraso no salário de motoristas e cobradores. Por outro lado, o SETUT rebate afirmando que o valor que havia sido repassado pela gestão tucana foi de 80 milhões de reais, entre janeiro de 2015 e maio de 2021.

Em meio a essas grandes cifras, tenho aqui uma nova notícia: em conversa com o vice-prefeito e secretário de finanças da prefeitura, Robert Rios para tentar entender o destino de tanto dinheiro nos últimos anos, a afirmação:

Não repassaremos mais um real para o sindicato. Não negocio com grevistas. A partir da data de hoje (31) não haverá mais transferência. Oferecemos 1,3 milhões de reais mensais e para eles está pouco.

Robert Rios
Andressa Martins/Lupa 1

Essa quantia milionária até então, era destinada para o pagamento de servidores, compra e manutenção de veículos, porém nada se fala sobre o que foi feito com esse repasse ao longo dos anos.

Após acordos no mínimo questionáveis e servidores do transporte prejudicados, a PMT tomou uma atitude a fim de amenizar o problema, dessa forma, a bilhetagem eletrônica de Teresina foi transferida para a empresa municipal Eturb (Empresa Teresinense de Desenvolvimento Urbano).

O prefeito da capital piauiense, Dr Pessoa, sancionou no dia 24 de fevereiro de 2022 Projeto de Lei aprovado pela Câmara Municipal de Teresina que autoriza a transferência.

Dr. Pessoa, prefeito de Teresina e Robert Rios, secretário de finanças
Divulgação

O sindicato demonstrou insatisfação a respeito da lei. Em nota, o SETUT informou que a lei “não se refere à operacionalização da bilhetagem, mas cria ilegalmente nas competências da Eturb a emissão e comercialização da bilhetagem, e que não pode ser feita pelo poder público, por conta de Lei Federal, que delega essa obrigação para as empresas concessionárias do transporte coletivo urbano”.

Mas é óbvio que a empresa não ficaria contente com a transferência, já que essa era a forma mais lucrativa depois de perder a mesada mensal dada pela gestão tucana.

A história não para por aí

O Ministério Público do Piauí (MP-PI) protocolou uma recomendação ao SETUT para que seja feita a devolução dos créditos e vales-transportes não utilizados devido a não execução dos serviços. Além disso, o órgão pede a renovação da validade dos passes vencidos durante o período de greve da categoria.

O MP estabeleceu um prazo de cinco dias para receber um posicionamento da recomendação por parte do SETUT. Nada mais do que o justo. Apesar de ser um procedimento burocrático, é inaceitável o valor que ultrapassa R$ 5 milhões de reais ficar retido nos cofres da empresa, enquanto a população teresinense continua sendo a maior prejudicada.

A falta de colaboração do SETUT é atualmente o maior empecilho para chegar a uma negociação efetiva. A greve continua, os trabalhadores continuam invalidados e os teresinenses sem ônibus.

Até que ponto o orgulho dos empresários vai permanecer intacto?

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