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Willian Tito: Paixão de Cristo fora de época estreia no Theatro 4 de setembro

A mensagem cristã está cada vez mais fortalecida. Proliferam como os peixes do Mar da Galileia no barco de Simão, filho de João, que se tornou Pedro

10 de abril de 2024 às 08:03
7 min de leitura

  • PorWillian Tito


A mensagem cristã está cada vez mais fortalecida. Proliferam como os peixes do Mar da Galileia no barco de Simão, filho de João, que foi renomeado por Jesus como Pedro. O milagre que transformou o pescador de peixes em pescador de almas abastece a cena piauiense de norte a sul.

São cerca de 10 Paixões de Cristo de monta. Entre as mais vistosas, a do Grupo de Teatro do Monte Castelo, que está há 39 anos encenando a história milenar e tem mais de 400 pessoas no elenco, sob o comando de Rodervaldo Medeiros. Já foi itinerante, pelas ladeiras do bairro. Atualmente, o Espaço Cultural Wall Ferraz é seu palco e o Centro de Convivência Ludjan Ladeira é a sua casa. A comunidade o adotou. Tem uma coletividade robusta amparando-o.

A de Floriano, do Grupo Scalet, completou 29 anos e levou à cena 360 atores e figurantes. César Crispim trabalha com profissionalismo na Princesa do Sul. Não que os outros também não o façam. Mas é porque o autor, produtor e diretor do espetáculo conseguiu realizar a apuração com o passar do tempo, aperfeiçoando o produto. É isso mesmo. Um produto, que foi lapidado e agregou valor.

Figurinos trabalhados nos detalhes, refletindo um visível estudo histórico minucioso. A encenação potente e apoteótica. O Teatro Cidade Cenográfica é do grupo, com uma arquitetura caprichosa dos ambientes de cena, em 45 mil metros quadrados. Este ano, Crispim conseguiu conveniar nas três esferas. Recebeu patrocínios diversos do mercado e foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo. Além da habilidade em aprovar projetos em editais, escreve e executa suas obras. A faceta da espiritualidade praticante dá outro texto. Tem que respeitar.

Esperantina no norte, Bom Jesus no sul, Miguel Leão chegando e Teresina com várias. A do Dílcon, Ato de Teatro, era na Ceasa. Este ano foi na Ponte Estaiada Mestre Isidoro França. A interpretação de Jesus define o ator. Há 30 anos encanta com o nazareno e, segundo ele, são 20 anos de atuação profissional do Cristo. Dílcon Carvalho tem um olhar arrebatador. Gestual preciso. Já vi interpretações estupendas. Um Salvador preto chocolate 100% cacau. Ele salva.

Tanto que este ano atuou em 3 montagens encarnando o seu melhor tipo. São textos diferentes, com outros elencos, novas composições, mas o mesmo Mestre dos Mestres. Além de Esperantina, e da sua própria trupe, brilhou na estreia da montagem “Jesus Vive - A Paixão de Cristo da Nova Teresina”, com texto de José Afonso de Araújo Lima e direção de Bid Lima.

Bid Lima, Siro Siris e um Jesus bebê

A versão temporã veio para o palco italiano do Theatro 4 de Setembro e trouxe a comunidade. Conforme a diretora, as dificuldades favoreceram várias adaptações. E deu certo. Especialmente a luz. Os efeitos visuais promovidos pela aclimação de Renato Caldas, contando com a cor predominante das indumentárias, numa paleta de tons mais claros, recebeu bem as variações dos azuis e sépias. Um jogo luminescente muito mais desafiador de ser feito fora da caixa cênica.

Fachada Teatro 4 de Setembro

A massa cênica ocupou o tablado. Em alguns momentos, mais de 60 atores e figurantes, simultaneamente. A Via Sacra circular deu uma ideia de looping, de reinício, de alfa e ômega, de infinito. De Deus. Os mais de 10 anjinhos encenados por criancinhas, trouxeram a energia da pureza, da inocência, de Jesus. Uma força sublime e envolvente, que nos pegou enlevados na consagração de Maria, com muitas flores.

Salomé (Débora Santos) e suas bailarinas.

Do mesmo autor de “Itararé, a República dos Desvalidos” e “A Guerra dos Cupins”, a dramaturgia é rebuscada. Zé Afonso teve sua obra reconstruída com as pinceladas de Bid Lima. Ela conseguiu contar a história de Jesus completa, do nascimento à ressurreição, em 69 minutos. E dá para enxugar mais um pouquinho. O ritmo intenso, com as transições acontecendo aceleradamente, prenderam a atenção. O público estava comovido, empolgado.

Jesus Cristo ( Dilcon ) crucificado

A diretora e atriz, que fez Maria, revelou-me que conseguiu montar o espetáculo em uma semana, com a cara, a coragem e a ajuda dos amigos. Dinheiro, necas. A artista é realmente capaz de uma articulação como essa. Com a admiração da maioria da classe, Bid Lima soube usar seu prestígio e convenceu um elenco estelar para a encenação. Maneco Nascimento, João Vasconcelos, Cláudia Amorim (que fez sua homônima, esposa de Pilatos), Siro Siris, Jesus Viana, Frank Lauro, Débora Santos, Well BM, Arimatéia Bispo, entre outros (que vou ficar devendo, sorry).

A façanha maior entrou em cena e nem todos perceberam. O grande truque da leveza estava nas pessoas portadoras de deficiência. O show maior foi de inclusão. O encanto veio das pessoas com transtorno do espectro autista, dos downs (entre eles o irmão da diretora), que tonificaram o mise en scène. Saí de tanque cheio, abastecido com a candura dos anjos na Terra. A sacada envolveu a Apae e outros parceiros, que lotaram a plateia. O final teve o sabor de realização, com a confraternização dos envolvidos no palco.

Bid esteve na gestão da Secult até o último dia 4. Pediu exoneração para testar seu nome nas urnas, em outubro. Ela deve concorrer a vereadora pelo PSB, em Teresina, com o apoio maciço da categoria dos artistas, principalmente do pessoal das artes cênicas. O discurso entre os seus é bem recebido, mas se quiser lograr êxito no pleito, vai ter que romper a bolha e amealhar votos de outras fontes. Articuladora como é, quem duvida?

As Paixões de Cristo têm evoluído na capital e no interior do Piauí. Geram renda, empregam diversas camadas de trabalhadores, animam a cena da interpretação, atraem o turismo religioso e potencializam projetos políticos. No caso da Bid, incluem segmentos sociais que geralmente são alvo de preconceito e exclusão. Jesus tem poder para viabilizar tudo isso, passando a sua mensagem, evangelizando há mais de 2 mil anos. E segue com fôlego para muitos outros atos.

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