Gustavo Almeida

Condicionar composições municipais à vontade do governador apequena lideranças

Exigir que a lógica partidária estadual se reproduza nos municípios é ruim. Historicamente, governador não apitava na engenharia política das cidades.

23 de novembro de 2023 às 08:16
7 min de leitura

O período pré-eleitoral para as disputas municipais de 2024 no Piauí tem revelado um comportamento político atípico, nunca foi visto antes na mesma intensidade. Temos assistido a bizarrice de lideranças municipais de partidos da base do governo estadual condicionarem as composições políticas em suas cidades, por mais pequenas que elas sejam, à vontade do governador Rafael Fonteles (PT).

Em alguns casos, ressalte-se, mesmo que o governador não esteja nem aí, os aliados repetem a lógica para agradar.

Vemos líderes municipais, muitos deles tradicionais e com história política em suas cidades, protagonizarem disputa esdrúxula com adversários locais para saber quem tem maior simpatia do gestor estadual. Em algumas situações, existe troca de farpas devido à ciumeira por conta do apoio do governador.

Palácio de Karnak influencia cada vez mais na política dos municípios (Thiago Rodrigues/Lupa1)

É natural que a figura do governador do Estado exerça influência em algumas das principais cidades e em um ou outro caso isolado de cidade pequena que seja do seu interesse. Mas, o que se nota no Piauí é que muitas lideranças municipais resolveram colocar seus prestígios no chão para condicionar toda e qualquer discussão sobre alianças locais à lógica das alianças partidárias de nível estadual.

Isso nunca existiu! Até mesmo na rivalidade PT x PFL, em algumas cidades os dois partidos estavam no mesmo palanque. As alianças municipais eram decididas pelas lideranças políticas dos municípios, não importando se elas destoavam de composições estaduais. E mais: os líderes políticos tocavam as disputas nas cidades sem se ajoelhar à figura do governador, ainda que um dos lados na disputa fosse seu aliado.

É verdade que o uso da estrutura pública estadual nas eleições municipais se "globalizou" nos últimos anos e alcança todas as cidades, o que faz muitos políticos quererem estar do lado da máquina do governo. Contudo, nada justifica exigir que a lógica partidária de nível estadual se reproduza igualmente nos municípios.

Historicamente, governador não apitava na engenharia política das cidades. Se dois partidos eram rivais na cena estadual, isso não era critério para ser levado em conta nas composições políticas municipais, sobretudo nas cidades mais pequenas. Quem influenciava eram os líderes locais, muitos deles caciques políticos.

Essa "moda" de querer reproduzir ao máximo as alianças estaduais nas cidades apequena as lideranças municipais, enfraquece o poder de decisão de grupos tradicionais e faz a engrenagem política do interior minguar. Por outro lado, concentra poder no titular do Palácio de Karnak, o que, do ponto de vista democrático, não é bom.

Em outros tempos os municípios tinham líderes altivos, que lideravam de fato o jogo eleitoral em seus redutos políticos. Hoje, a maioria deixa ir para o ralo a própria capacidade de liderança ao permitir que forças externas ditem o cenário em suas cidades. Em alguns casos, há até os que engolem o choro mesmo estando insatisfeitos.

Não se faz mais líderes como antes.

OUTROS ASSUNTOS

| Lotada no governo

Naiara Moraes (Foto: Reprodução/Instagram)

A advogada Naiara Moraes vai se afastar da função de professora da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) para ficar à disposição da Secretaria de Administração do Estado (Sead-PI). O decreto em que ela é cedida para a Sead foi assinado ontem, quarta-feira (22), pelo governador em exercício Themístocles Filho (MDB).

Da sala de aula para a política

Naiara foi candidata a deputada estadual nas eleições de 2022 pelo MDB e teve apenas 1.909 votos. A empreitada na política não lhe rendeu um mandato, mas vai rendendo uma "pontinha" no governo estadual.

| Interação de pré-candidatos

Paulo Márcio e Sílvio Mendes (Fotos: Lupa1)

O pré-candidato a prefeito de Teresina Paulo Márcio (MDB) fez postagem ontem (22) mostrando problemas decorrentes da falta de cuidados com o complexo da Ponte Estaiada. O também pré-candidato Sílvio Mendes comentou concordando e elencou o que chamou de "algumas curiosidades" sobre a ponte, inaugurada no 2º mandato dele como prefeito. Sílvio disse que a ponte foi idealizada na segunda gestão de Firmino Filho e executada, até a conclusão, na dele.

Alfinetou

Paulo Márcio respondeu, mas alfinetando o ex-gestor. Em síntese, usou a interação para dizer que, assim como a ponte, que foi projetada ainda na gestão de Firmino Filho, Sílvio só tem trajetória política por causa do falecido ex-prefeito. O tom de Sílvio foi um, o de Paulo, outro.

| Era só o que faltava

Câmara de Teresina (Foto: Marcelo Cardoso/Semcom)

A Câmara de Teresina aprovou uso de R$ 50 milhões de um empréstimo tomado pela prefeitura no pagamento de salários atrasados dos trabalhadores terceirizados. Usar dinheiro de empréstimo para despesas correntes, como é o caso, beira a loucura. Mesmo assim, a maioria dos vereadores votou a favor sem nenhum questionamento.

Eis o motivo

Não é de se admirar que os vereadores tenham apoiado usar dinheiro de empréstimo para despesas correntes, afinal, o amontoado de terceirizados que abarrotam os órgãos da gestão municipal são indicados pelos pelos senhores parlamentares municipais.

Siga nas redes sociais

Veja também

Dê sua opinião

Canal LupaTV

Veja todas