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Renda dos médicos cai 12% em 10 anos e aumento de vagas gera debate

Expansão significativa dos cursos de medicina na última década tem gerado debates sobre a desvalorização médica.

24 de janeiro de 2025 às 17:30
3 min de leitura

Desde 1990, a quantidade de faculdades de medicina no Brasil quase quintuplicou. Somente nos últimos dez anos, foram colocadas em funcionamento 190 estabelecimentos de ensino médico. E essa realidade não é diferente aqui no Piauí.

“Estou formado há 3 meses e só consegui dar 3 plantões repassados por colegas até agora. Não tem vaga dentro de Teresina e no interior falta o básico pra trabalhar.” Não seria de se estranhar que a frase acima fosse dita por um profissional da saúde de áreas sabidamente mais saturadas, como fisioterapia ou enfermagem. Entretanto, a colocação foi feita por um médico recém formado da capital do Piauí. A máxima de que Medicina é a única profissão que garante emprego imediato ao formar-se virou ilusão.

A expansão significativa dos cursos de medicina na última década tem gerado debates sobre a desvalorização médica, especialmente em instituições privadas. No período de 2003 a 2022 as vagas nestas instituições saltaram de 7001 para 32080, um aumento de 358%. Com turmas enormes e mensalidades altas, as listas de chamada - antes disputadas vaga a vaga - agora alcançam os últimos colocados. Não é mais mérito algum passar em medicina: basta condição financeira para arcar com o pagamento mensal salgado.

Em contrapartida, o ensino médico não acompanha a enxurrada de estudantes de medicina que se acotovelam pelos hospitais e salas de aula. Ao final de 6 anos, os recém formados saem para o mercado de trabalho completamente despreparados e inseguros, colocando em risco especialmente a vida dos mais pobres, que estão à mercê do sistema de saúde. Os erros médicos, cada vez mais grosseiros, se acumulam.

Quando em seu ambiente de trabalho, é preciso ainda lidar com a falta de estrutura e de insumos básicos. É preciso coragem para assumir um plantão no interior do Piauí, em que urgências chegarão à porta e não há material mínimo para estabilização de pacientes graves. Insatisfeita, a população devolve sua frustração não aos políticos responsáveis pelos grandes desvios na saúde, mas ao profissional que exerce ali sua função. Antes admirado, hoje o profissional médico sofre ameaças em seu ambiente de trabalho. Notícias sobre agressões em hospitais são corriqueiras.

Buscando uma alternativa aos plantões caóticos, muitos aventuram-se nas redes sociais, visando lucrar em cima de procedimentos arriscados, sem evidência científica e muitas vezes desnecessários. O bom médico virou raridade.

Quantidade não é sinônimo de qualidade, e apesar de comparados ao “sal, que é branco, barato e se encontra em qualquer lugar”, é urgente a necessidade de reavaliação a respeito da rápida expansão do número de médicos e a qualidade de sua formação, pelo bem da população.

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