Tony Trindade

O vai e vem sem pudor de traidores e traídos

08 de fevereiro de 2022 às 10:04
3 min de leitura

É possível ver, sem dificuldade, bem perto de nós, exemplos de como a política é mesmo para quem tem vocação. Eu não me refiro a vocação ao trabalho, capacidade intelectual, sensibilidade aos reais problemas da população, desprendimento, empatia e generosidade, que são pressupostos indispensáveis ao bom político.

Essa vocação a qual me refiro está ligada a outra característica que me parece ser indispensável à sobrevivência nesse meio selvagem (a política) e não menos necessária aos que desejam ascender a postos cada vez mais altos: a capacidade de perdoar.

Políticos traquejados, experientes e bem sucedidos, por essas bandas, são políticos que perdoam, sem mágoas, que superam as diferenças e convivem bem com quem já traiu muito, outrora, inclusive a ele.

Perdoar é um ato divino. Na política a traição é ingrediente indispensável, diria mais que natural. E o perdão vem na mesma proporção. Chega a ser comovente a capacidade de perdoar de alguns. Eu poderia anotar aqui dezenas de casos recentes, mas tomaria todo o espaço das letras.

Vale, porém, dizer que esse perdão não é o que Cristo nos ensina. A traição é obra do diabo, bem sabemos, mas perdoar, por interesse, também.

O perdão que impera na política não é uma obra do coração. É cerebral. Mais que isso: é interesseiro e oportunista. Se é pra vencer, se é pra ser vitorioso numa disputa, junta-se as “escovas de dentes” com quem traiu, mesmo sabendo que o ato pode se repetir. O pacto é sempre justificado como uma medida pelo “bem do povo”, ganhando ar de gesto altruísta.

Estamos em ano eleitoral e o vai-e-vem sem pudor já começou. Passe seu olhar por partidos e coligações que já se formam e não terá dificuldade em encontrar dezenas de casos que se encaixam nessa narrativa.

O perdão, repito, é um ato sublime, mas o verdadeiro perdão nunca quer nada em troca. Portanto, em nada parece com o perdão político, que sempre busca o ganho secundário. O perdão da política é mesmo pra quem tem “sangue de barata” e não mede esforços para atingir o objetivo desejado. Normalmente, vencer uma eleição.

Depois da eleição, A depender do resultado, mais perdões ou mais traições.

A velha frase: “A política ama a traição, mas abomina o traidor” merece ressalvas, pois muitos traidores prosperam por uma vida inteira, ainda que tenham que conviver com a pecha.

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