Coluna Gustavo Almeida

Uma música para a Justiça Eleitoral

Desde o período da pré-campanha, temos assistido fartos exemplos de abusos contra a legislação eleitoral. E nada, absolutamente quase nada, acontece.

20 de setembro de 2024 às 10:10
4 min de leitura

Tô vendo tudo, tô vendo tudo. Mas, fico calado, faz de conta que sou mudo. Tô vendo tudo, tô vendo tudo. Mas, fico calado, faz de conta que sou mudo.

Esse é um trecho da música "O Meu País", de autoria de Orlando Tejo, Gilvan Chaves e Livardo Alves, muito famosa na interpretação do cantor Zé Ramalho. Ela reflete bem a percepção que se tem hoje sobre a atuação da Justiça Eleitoral no estado do Piauí. Desde o período da pré-campanha destas eleições municipais de 2024, temos assistido a fartos exemplos de abusos contra a legislação eleitoral. E nada, ou absolutamente quase nada, acontece para conter essa situação.

A compra de votos foi potencializada a uma escala jamais vista e o abuso de poder político e econômico rege a maioria das campanhas eleitorais, sobretudo aquelas ligadas a alguma estrutura de poder. O uso das máquinas públicas foi escancarado e não há limites - nem cerimônia - em praticá-lo da forma mais desavergonhada possível. As muitas provas e os infinitos indícios da criminalidade eleitoral reinante parecem não valer mais nada.

O arcabouço que integra a Justiça Eleitoral, ou seja, órgãos como a Procuradoria Regional Eleitoral, as zonas eleitorais e o próprio Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PI), não conseguem, pelo menos no Piauí, garantir o mínimo de lisura e equilíbrio às disputas eleitorais. Os discursos bonitos de "eleição é festa da democracia" e "voto livre e consciente" só existem nas entrevistas de algumas autoridades engravatadas.

Quando se vai para a prática, a realidade é bem diferente e qualquer pessoa minimamente instruída consegue perceber. As práticas ilegais todo mundo vê, porém, alguns não querem enxergar: compra de apoios políticos, pagamentos para eleitores irem a eventos, gasolina para motoristas participarem de carreatas, sorteios de brindes para eleitores, exigência de número do título e documentos de eleitores, pressão sobre servidores, criação de programas e/ou ações meramente eleitoreiras em períodos próximos às eleições e 'produção profissional' de fake news.

Essas são apenas algumas das práticas escancaradas nas disputas eleitorais pelo Piauí (obviamente não só aqui, mas este texto trata daqui). A ideia de que "eleição se compra" nunca esteve tão na moda como nos tempos atuais, no interior e na capital. Em muitos casos, os próprios políticos se gabam publicamente da "estrutura" que têm para ganhar uma eleição. Até em cidades de 4 mil habitantes, gasta-se 3 milhões para se ganhar uma eleição.

Porém, a Justiça Eleitoral, se contenta com as prestações de contas singelas e humildes a ela apresentadas. Já na capital, é até impossível mencionar valores, afinal, os milhões e a "estrutura" por aqui são coisa de outro planeta. A pobreza e a falta de instrução de parcela do eleitorado são prato cheio para políticos que publicamente dizem, curiosamente, defender a educação, mas amam eleitores de fácil manipulação que se deixam vender por qualquer quantia.

Diante dessa triste realidade, pouco ou quase nada há de se fazer. Os que poderiam (e deveriam) fazer alguma coisa talvez estejam por aí num gabinete espaçoso e gelado, quem sabe ouvindo uma boa música. Talvez ouvindo "O Meu País", de Zé Ramalho, afinal, é uma bela canção: "Tô vendo tudo, tô vendo tudo. Mas, fico calado, faz de conta que sou mudo".

A OPINIÃO DOS NOSSOS COLUNISTAS NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL LUPA1 E DEMAIS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO GRUPO LUPA1 .

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