Opinião: apostar alto no "voto casado" é menosprezar capacidade de escolha do eleitor
Se recorrermos à história, não faltam exemplos de que voto majoritário é uma coisa e voto proporcional é outra coisa.
Desde que as eleições municipais em Teresina foram definidas em 1º turno, muitos são os argumentos levantados para justificar o resultado que emergiu das urnas. Do lado do deputado estadual Fábio Novo (PT), derrotado no pleito, o principal argumento de boa parte dos aliados é que nem todos os candidatos a vereador do grupo "casaram os votos" com o candidato majoritário. Por outro lado, esses mesmos afirmam que os vereadores aliados do prefeito Dr. Pessoa (PRD) casaram os votos com o prefeito eleito Silvio Mendes (União Brasil).
Não há como negar que existe uma parcela considerável do eleitorado que se deixa levar pela ação de políticos e de lideranças de bairro na hora de decidir o voto. As razões para isso são diversas: pobreza, falta de instrução, dependência financeira ou alguma outra vulnerabilidade. Contudo, é muita presunção achar que candidatos a vereador são capazes de "casar o voto" conforme o interesse. Não, não é assim!
Em Teresina, capital com quase 1 milhão de habitantes, está concentrada parte significativa do eleitorado mais abastado, mais instruído e mais independente. É a cidade do Piauí que tem o maior número de pessoas empregadas no setor privado e de concursados no público. Essa parcela, via de regra, tem discernimento para escolher em quem votar para prefeito, independentemente do vereador da sua predileção.
No caso da vitória de Silvio Mendes, há ainda que se considerar que se trata de um político que já administrou a cidade por dois mandatos, saiu bem avaliado e é conhecido dos teresinenses. É mais um fator com potencial de levar o eleitor a escolhê-lo para prefeito, ainda que tenha optado por um candidato a vereador de outro palanque.
A queixa de que os vereadores aliados de Dr. Pessoa teriam casado os votos com Silvio Mendes na reta final da campanha também não se sustenta, embora alguns tenham, de fato, se aproximado dele sem declarar.
Todas as pesquisas mostravam que o prefeito Dr. Pessoa tinha rejeição acima de 80% e intenções de voto que não passavam de 4%. Contudo, vários dos candidatos a vereador aliados dele apareciam entre os mais citados na disputa pela Câmara Municipal. Ou seja, as próprias pesquisas apontavam que muita gente tinha intenção de votar nos vereadores do grupo do prefeito, mas jamais de votar em Dr. Pessoa. E um pedido ou exigência dos vereadores não mudaria essa realidade.
A história mostra
Se formos recorrer à história, não faltam exemplos de que voto majoritário é uma coisa e voto proporcional é outra coisa. Nas eleições de 2002, os candidatos a deputado estadual que apoiavam Hugo Napoleão (PFL) somaram muito mais votos que os candidatos do palanque de Wellington Dias (PT). O grupo de Hugo elegeu a esmagadora maioria dos deputados na Assembleia, mas quem venceu para governador foi Wellington.
Esse é apenas um entre tantos e tantos exemplos que podem ser apontados. Se tamanho de palanque proporcional significasse vitória do candidato majoritário, muitos políticos em desvantagem nesse quesito sequer teriam registrado suas candidaturas e vencido eleições ao longo da história em Teresina, no Piauí e pelo Brasil afora.
A bem da verdade, apostar alto na eficácia do tal "voto casado" é subestimar a capacidade de escolha do eleitor.
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