Gustavo Almeida

O Piauí do calçamento nunca será o Piauí do desenvolvimento

Estado precisa superar problemas históricos e para isso é preciso ousadia.

10 de novembro de 2021 às 16:52
5 min de leitura

Estamos em um ano pré-eleitoral. Nesse período, políticos governistas e de oposição percorrem os municípios do Piauí em pré-campanha aberta e escancarada para as eleições de 2022. Fazem visitas, reuniões, filiações, inauguram e reinauguram obras pequenas e distribuem bastante calçamento. Fazer pavimentação em paralelepípedo, o bom e velho calçamento, é a obra favorita e mais festejada da maioria da classe política do Piauí.

Gostam tanto que já fazem até placas de inauguração de calçamento de ruas nas pacatas cidades do interior. Está na hora daqueles que governam e daqueles que pretendem governar pensarem um pouco mais alto. O Piauí precisa ser grande, precisa evoluir, precisa ser encarado como um lugar que merece muito mais do que apenas obras de calçamento. Pavimentar ruas tem sua importância e ninguém nega, mas isso não pode ser o pilar governamental.

Não é a pavimentação de ruas que desenvolve um estado. O Piauí enfrenta problemas históricos que só vão ser superados com obras grandes, com projetos ousados e com o olhar de políticos que pensem em transformar de verdade. Muito mais importante do que calçar ruas, é tirar do papel a adutora do Sertão, uma ousada proposta gestada há vários anos e que prevê a exploração dos aquíferos subterrâneos do Vale do Gurgueia. A adutora pode levar água de qualidade para 600 mil piauienses em 51 municípios do semiárido.

Muito mais do que bater palminhas em inaugurações de calçamento, é aproveitar o grande potencial da ovinocaprinocultura do semiárido piauiense e transformar um dos maiores rebanhos do país em riqueza e geração de renda para o povo. Temos ainda o Parque Nacional da Serra da Capivara, que poderia ser a base para inserir o estado do Piauí nos grandes destinos turísticos do Brasil. Nada disso é feito!

Morador de Dom Inocêncio espera há anos por conclusão de adutora (Foto: Gustavo Almeida)

Nossos rios e as nossas grandes barragens poderiam ser utilizados para projetos de irrigação que garantissem geração de renda para as populações que vivem próximas. A adutora Padre Lira, cuja ordem de serviço foi assinada em 2013, nunca foi concluída, mesmo o Ministério da Integração Nacional já tendo liberado a quase totalidade dos recursos que deveriam ser empregados na obra. Mas enquanto o povo sofre com escassez de água em vários municípios, ecoam as palmas para obras de calçamento.

Essa crítica, que fique bem claro, não é direcionada apenas para quem está no governo, embora sejam esses, naturalmente, os que mais devem ser cobrados. A oposição e seus representantes também são incluídos aqui, até porque boa parte deles possui mandatos conferidos pelo povo. Não basta querer contrapor uma gestão fazendo semelhante a ela. Eles todos, oposição e situação, precisam propor ações para um Piauí grande, para um Piauí diferente.

Não se justifica que, em pleno ano de 2021, apenas cerca de 10% da população do Piauí disponha de saneamento básico. Não se justifica que, em 2020, segundo apontou o IBGE, o Piauí ainda fosse o terceiro estado do Brasil com maior número de jovens analfabetos e um dos primeiros do país no índice geral de analfabetismo. Não se supera esses indicadores negativos se o foco estiver voltado sempre para ações medianas.

Está na hora, também, da população do Piauí começar a acordar para essa realidade e analisar melhor o comportamento da sua classe política. Nós, eleitores, precisamos fazer essa autocrítica. Temos que passar a exigir obras que mudem realidades e cobrar ações ousadas. Enquanto o povo ajudar a bater palmas apenas para reformas de prédios públicos e obras de pavimentação, nossa classe política vai continuar pensando pequeno e o nosso estado seguir amargando indicadores nada atraentes.

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