Gustavo Almeida

Liberdade para usar e abusar do poder favorece ‘postes’ em disputas eleitorais

As táticas para colocar a máquina pública a serviço de um candidato são manjadas, mas o Poder Judiciário faz pouco ou quase nada.

16 de abril de 2024 às 10:58
3 min de leitura

Na política, o termo "poste" é comumente usado para se referir a nomes inexperientes ou com pouca experiência que são lançados em eleições por lideranças tradicionais. Nomes que ganham a indicação para suceder quem está no poder em detrimento de líderes de políticos que realmente têm voto no grupo. Em muitos casos, sobretudo no interior, o poste é um parente de quem está no poder e não quer entregar este poder nem mesmo a um aliado político.

Esse hábito de lançar postes em disputas eleitorais ganhou força no Brasil nos últimos anos. Uma provável razão para isso é a libertinagem que os gestores públicos encontram para usar a abusar da máquina pública nas campanhas eleitorais. Com a estrutura do poder em mãos e a omissão da Justiça Eleitoral diante de tantas irregularidades, muitos políticos se sentem confiantes em colocar qualquer poste numa disputa eleitoral e torná-lo competitivo.

As táticas para abusar do poder e usar a máquina pública a serviço de um candidato são manjadas, mas o Poder Judiciário faz pouco ou quase nada diante de uma realidade que qualquer pessoa consegue ver. Cria-se programas eleitoreiros para promoção de candidatos, coloca-se a estrutura de mídia governamental a serviço do candidato e compram apoios com a estrutura pública, seja com cargos ou vantagens no poder.

A facilidade para emplacar os "postes" também se dá pela dependência que muitas lideranças políticas têm do poder. Com benesses de toda ordem, aceitam, muitas vezes a contragosto, a indicação de qualquer neófito por parte do chefe político maior. No interior, por exemplo, é comum vereadores nunca chegarem ao cargo de prefeito, pois, mesmo possuindo relevância política local, não têm autonomia e se sujeitam a apoiar qualquer nome.

Uma evidência de que o abuso do poder e a omissão do Judiciário favorecem o surgimento dos postes é que esse tipo de candidato quase sempre é ligado a algum grupo situacionista. Raramente são de oposição. Sem máquinas a seu favor, oposicionistas são sempre levados a escolher nomes que já apresentaram algum tipo de potencial eleitoral e que são conhecidos da população.

O regramento eleitoral brasileiro prevê que as disputas eleitorais devem acontecer com paridade de armas entre candidatos, garantindo o equilíbrio de forças. Uma regra linda no texto e utópica na prática.

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