Duelo: Lula x Mercado financeiro
A briga está só começando.
O presidente Lula, em recente reunião com os reitores das universidades e institutos federais de educação, voltou a demonstrar seu desconforto com as reações e o modo de pensar do mercado financeiro. E levantou várias questões bem interessantes. Vamos explorar uma delas.
O governo federal tem uma dívida gigantesca. O valor é de aproximadamente R$ 6,0 trilhões. A evolução desta dívida é acompanhada permanentemente, tanto por órgãos públicos quanto pelo setor privado.
Seu aumento é interpretado como um sinal de descomprometimento da saúde das contas públicas e assusta o mercado financeiro, temeroso de um colapso que acabe prejudicando a todos, inclusive os chamados rentistas, isto é, pessoas e instituições que aplicam em títulos públicos.
A bronca do presidente é que o mercado sinaliza, a todo momento, que o governo federal deve fazer corte na saúde, educação, etc..... mas nunca falam na maior despesa do governo: os juros, através dos quais são remunerados aqueles rentistas.
Farinha pouca, meu pirão primeiro
Em outros termos: fazer economia é necessário, mas não naquilo que me remunera (dizem os rentistas). O assunto é tabu e durante a recente campanha eleitoral, o candidato Ciro Gomes foi o único que o explorou.
Para remunerar àqueles que emprestam recursos ao Governo Federal – os rentistas – paga-se uma taxa média anual, também conhecida como SELIC. Como ela se encontra atualmente em 13,75%, isto significa que o Brasil paga – somente com juros – algo em volta de R$ 800,0 bilhões anualmente.
Se assustou? Para efeito de comparação, este montante é mais de 10 vezes o PIB do Piauí. Em outras palavras, é como se tudo o que é produzido no Piauí durante 10 anos, tivesse que ser separado para pagar só 1 ano de juros do governo federal. Não é impressionante?
O presidente anda na bronca com o mercado financeiro e não tem poupado este enfrentamento. “Eu não vejo essa gente falar uma vez de dívida social”, disse Lula, lembrando que o importante é reparar uma dívida social de 500 anos. A briga promete. Quem viver, verá.