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1º de Maio: O Brasil que acorda cedo, trabalha muito e ainda espera por justiça

O Dia do Trabalhador, mais do que festa, ainda é motivo de luta

30 de abril de 2025 às 21:39
5 min de leitura

O Brasil do 1º de Maio de 2025 é o mesmo país onde mais de 40% da força de trabalho atua na informalidade, segundo a CUT, onde professores têm três empregos para completar a renda, motoristas de aplicativo rodam até 16 horas por dia, e trabalhadores da construção civil ainda sofrem com atrasos salariais, falta de equipamentos de segurança e contratos precários.

40% da força de trabalho do Brasil atua na informalidade / Reprodução

É também o país onde se celebra o Dia do Trabalhador com discursos oficiais, homenagens e feriado, mas onde grande parte da população sequer pode parar para comemorar. Para milhões, é mais um dia comum, com turnos em hospitais, entregas por aplicativos, plantões em padarias, ônibus, feiras e supermercados.

O feriado de 1º de Maio, que tem origem na greve operária de Chicago em 1886, marcada por repressão violenta e assassinatos de sindicalistas, foi institucionalizado no Brasil por Getúlio Vargas em 1925. Mas quase um século depois, a realidade do trabalhador brasileiro ainda se distancia dos direitos defendidos naquele momento histórico.

1º de Maio tem origem na greve operária de Chicago em 1886/ Reprodução

Jornada longa, salário curto

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do IBGE, mostra que o rendimento médio do trabalhador brasileiro está estagnado em R$ 2.950, com diferenças profundas entre regiões e setores. No Nordeste, por exemplo, a média cai para R$ 2.264. No setor da construção civil, essa média não ultrapassa os R$ 2.000, com longas jornadas e poucos direitos garantidos.

Ana Cláudia, empregada doméstica em Teresina, acorda às 4h30 da manhã. Pega dois ônibus até a casa onde trabalha, cuida de uma idosa, limpa, cozinha, e retorna para casa às 19h. “Não é luxo, é sobrevivência. Se eu parar, não como no outro dia”, diz, sem qualquer traço de autocomiseração.

Transporte coletivo é um desafio para quem precisa trabalhar /Mikeias di Mattos | Lupa 1

Do outro lado da cidade, Paulo, mototaxista e entregador de aplicativo, relata que as taxas cobradas pelas plataformas consomem quase metade do que ganha. “Tem dia que, de R$ 150 que eu faço, sobra R$ 60. Gasolina, manutenção, alimentação, tudo por minha conta”, conta ele, com o celular sempre no suporte e os olhos divididos entre o trânsito e o aplicativo.

Taxas cobradas pelas plataformas consomem quase metade dos ganhos / Reprodução

Uma CLT enfraquecida

A reforma trabalhista de 2017 flexibilizou direitos como jornada de trabalho, intervalo intrajornada e homologação sindical. À época, o argumento era de que a modernização geraria mais empregos. O que se viu, na prática, foi o crescimento da informalidade e a pulverização das garantias coletivas.

“Hoje, muitos trabalhadores sequer têm acesso à Justiça do Trabalho, porque foram levados a assinar contratos como se fossem empresários individuais. É o falso ‘empreendedorismo por necessidade’, que esconde precarização”, aponta trecho de um levantamento feito pela CUT.

Central Única dos Trabalhadores / Reprodução

Direitos ainda em disputa

Em 2025, o Brasil convive com uma pauta trabalhista que mistura avanços e retrocessos. O debate sobre regulação das plataformas digitais, a luta pela valorização do salário mínimo, a ampliação do direito à licença-paternidade e o combate ao assédio no ambiente de trabalho seguem na mesa, mas enfrentam resistência.

Na prática, o trabalhador brasileiro ainda espera por transporte público eficiente, segurança no trajeto e no local de trabalho, equipamentos de proteção adequados, valorização do salário e acesso justo à aposentadoria, em tempo hábil para o desfrute do benefício.

Tribunal Superior do Trabalho / Divulgação TST

O que o 1º de Maio ainda representa

Mais do que uma data comemorativa, o Dia do Trabalhador segue sendo símbolo de resistência. Para quem labuta sob o sol, para quem passa horas em frente a um computador, para quem ensina, constrói, planta, limpa ou salva vidas o trabalho é dignidade, mas ainda carece de reconhecimento.

Apesar dos desafios, trabalhadores brasileiros estão sempre com o sorriso no rosto / Agência Belém

Neste 1º de Maio, os números oficiais podem mostrar estabilidade no mercado de trabalho. Mas os relatos nas ruas, nas filas de transporte, nas marmitas frias e nos olhos cansados revelam outro Brasil. Um país que trabalha e que ainda espera por justiça e dignidade.

Homenagem do Redator


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