Gustavo Almeida

A incoerência política sob o manto do entendimento e do diálogo democrático

OPINIÃO: na política dos tempos atuais, o que vemos são incoerências gritantes, quase sempre movidas a interesses e disfarçadas com palavras bonitas.

22 de fevereiro de 2024 às 10:40
4 min de leitura

Mudanças de lado sempre existiram na política. Se aliar com quem antes divergia é natural não apenas no debate eleitoral, mas também nas nossas próprias vidas. Diferenças de opinião e de pensamento não podem, jamais, ser um empecilho para o estabelecimento de relações. Ter a capacidade de rever posicionamentos e atitudes deve ser visto como qualidade do ser humano, seja em qual segmento for.

No entanto, é preciso saber separar o que é capacidade de mudar e se reinventar, do que é incoerência, falsidade e desfaçatez. Na política dos tempos atuais, o que vemos são incoerências gritantes, quase sempre movidas a interesses e disfarçadas com palavras bonitas. Fala-se em entendimento, diálogo, consenso e democracia, quando, na verdade, o que existe são atitudes que ferem de morte o bom senso e a retidão.

Incoerência na política (Charge: Ivan Cabral)

O eleitor não se sente mais representado pelos políticos. Diferente de outrora, quando existiam homens públicos de posição firme, hoje o que se percebe é que a política virou tão somente um negócio. Os políticos, com algumas exceções, vendem a si mesmo e os seus princípios por poder, status, influência, dinheiro e outras coisas. Na prática, tratam o eleitor como mercadoria na campanha, mas também se comportam como mercadoria nas negociatas do poder. Nessa hora, a coerência e o eleitor que se f****.

Nos dias de hoje, o resultado de uma eleição diz pouca coisa sobre a representação que o eleitor vai ter em um parlamento. Se um grupo de oposição elege 10 deputados ou vereadores, já se sabe que antes mesmo da posse ou pouco depois dela muitos estarão do lado que combateram durante a campanha. O eleitor já não tem mais aquele prazer de dizer que apoia liderança do lado A ou do lado B, afinal, no dia seguinte o sujeito está no lado oposto ao do eleitor. Na política atual, o eleitor é sempre o "corno".

A promiscuidade chegou a um nível tão alto que aos poucos a política partidária vai perdendo a graça. Talvez não esteja perdendo para aqueles que se locupletam desse momento, mas para os sensatos, sim.

Na política existem acordos e "acordos"

A política deve ser como o futebol. Em um campeonato, os times devem se respeitar, obedecer as regras do jogo, mas a graça é a disputa. Corinthians e Palmeiras são rivais, disputam, mexem com emoções, acirram ânimos em determinados momentos. Para as torcidas, a graça é derrotar o rival. Se um clube se vender para o outro numa competição e entregar o título, não há sentido. O torcedor será traído.

O que temos visto na política é uma verdadeira degradação ética e moral. O sujeito combate um modelo de gestão hoje, mas amanhã se abraça a ele. São tempos também de homens públicos fracos de discurso, sem nenhuma capacidade de tocar um mandato ou projeto político sem que esteja agarrado a algum palácio. Alguns se julgam fortes e bons de voto, mas só escapam se tiverem encostados na "estrutura" de algum poder.

O pior de tudo isso é que ainda tentam fazer o eleitor engolir as justificativas mais fajutas possíveis. Adotam as mais absurdas incoerências sob o manto singelo do entendimento, do consenso e do diálogo. Palavras bonitas que, muitas vezes, são usadas para encobrir o que há de mais feio na política.

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