Grupo Cacique, do Piauí, vende operação e entra no jogo bilionário da Ipiranga

Transação envolve operação estratégica no Piauí, Maranhão, Tocantins; valor exato é sigiloso, mas integra plano de R$ 2,5 bilhões do Grupo Ultra

O que vale uma empresa do Piauí aos olhos de uma das maiores potências do setor de combustíveis do Brasil? Se depender do Grupo Ultra, dono da rede Ipiranga, a resposta está em bilhões de reais.

Marcos Lutz na liderança dos conselhos da Ultrapar e dos negócios e Rodrigo Pizzinatto, Diretor Presidente da Ultrapar. Grupo já é consolidado no país e abre os olhos para o Piauí através do Grupo Cacique.

A empresa anunciou um ambicioso plano de investimento de R$ 2,54 bilhões para 2025, e uma das ações centrais desse plano é justamente a compra de parte da operação do Grupo Cacique, sediado em Teresina. O foco é o segmento de distribuição direta de combustíveis — conhecido no setor como TRR (Transportador Revendedor Retalhista) — nos estados do Piauí, Maranhão, Tocantins, Bahia e Pará.

Uma fatia bilionária do Nordeste

Embora o valor específico pago pela operação com o Grupo Cacique não tenha sido divulgado, o negócio faz parte de uma estratégia concreta: só para este ano, o Ultra destinou R$ 688 milhões para expansão no setor, principalmente no embandeiramento de postos, ampliação da logística e entrada definitiva no TRR. Outros R$ 678 milhões serão aplicados apenas em manutenção das operações já existentes.

Sede do Grupo Cacique em Teresina, no Piauí. O foco agora é na distribuição direta de combustíveis.

Especialistas do mercado estimam que uma aquisição regional de médio porte como essa possa envolver cifras na casa das centenas de milhões de reais, dada a estrutura logística, frota, bases operacionais e carteira de clientes envolvida.

Nova empresa, nova ofensiva

O acordo firmado entre Ultra e Cacique prevê a criação de uma nova companhia, com controle de 60% da Ipiranga e 40% do Grupo Cacique, que seguirá capitalizando a operação. A nova empresa absorverá os ativos de TRR nos cinco estados (PI, MA, BA e PA), mas também já mira expansão para Goiás e Mato Grosso.

Matopiba: onde o Brasil cresce

O negócio é estratégico. O foco está no MATOPIBA — sigla que representa os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — que hoje é a região que mais cresce no agronegócio brasileiro. 

Já presente nas feiras, Grupo Cacique criou a "Cacique no Agro" para atender as demandas diretas do setor. Essa capilaridade que chamou a atenção do Grupo Ultra.

Tratores, colheitadeiras, caminhões e grandes lavouras precisam de abastecimento direto. Quem domina o TRR nessa área, domina uma fatia crescente da economia nacional.

Concorrência local: quem também está na disputa

O Grupo Cacique não reina sozinho no Matopiba. No Piauí e nos estados vizinhos, o Grupo Moreira também vem se consolidando como força regional no TRR. 

Onde tem crescimento, tem concorrência. Grupo Moreira também é atuante na região e uma fusão com concorrentes não pode ser descartada no futuro breve.

Com base em cidades-chave como Uruçuí, Balsas e Porto Nacional, a empresa aposta em logística ágil e atendimento direto ao agronegócio — exatamente o mesmo território onde o Ultra agora quer pisar.

É um mercado disputado. Moreira já abastece tratores, caminhões e grandes fazendas há anos. A entrada da Ipiranga com o Cacique muda o jogo — mas a disputa está só começando.

TRR: o canal que abastece o Brasil que trabalha

TRR pode soar técnico, mas é simples: é o serviço que leva combustível diretamente ao consumidor final, especialmente empresas, fazendas, grandes obras e frotas, sem depender da estrutura de postos. 

Atendimento no local, com tanques próprios e pós-venda foram as apostas da Cacique. E é isso o que interessa na fusão.

O Grupo Cacique já era um dos principais players nisso na região. Com a força de capital e logística do Ultra, a escala muda de patamar.

O Ponto de Ruptura

Não é só uma venda. É um reposicionamento geopolítico no setor de combustíveis. Um grupo fundado no Piauí, com raízes familiares, se torna parceiro de um dos maiores conglomerados do Brasil. E essa escolha não foi por acaso: o crescimento real hoje está no Norte e Nordeste. Está no Matopiba. Está no Piauí.

Em um mercado em guerra, onde marcas como Petronas, Texaco, Larco e SIM disputam cada litro, vencer depende de território, velocidade e presença. E nesse cenário, o Cacique mostrou que quem planta na beira do Parnaíba pode, sim, colher no centro da mesa.