No Piauí, onde a oposição institucional costuma operar em tom morno e a imprensa frequentemente se acomoda, é um jornalista quem tem ocupado, com barulho, o espaço que partidos e parlamentares deixaram vazio. José Ribas Neto, é hoje uma das figuras mais visíveis e ao mesmo tempo mais divisivas da cena política não partidária do estado.
Sem cargo, sem mandato e sem afiliação partidária e segundo ele, sem dinheiro, seu nome circula com frequência em bastidores de gabinetes e grupos políticos.
Direto, sarcástico e provocador
O motivo é simples, as suas matérias e vídeos incomodam e ferem reputações. Com estilo direto, sarcástico e, muitas vezes, provocador, Ribas firmou um tipo de jornalismo que flerta com a militância, mas se ancora em documentos, dados e furos que desafiam o silêncio predominante da mídia que ele acusa de não ser jornalística, mas de assessoria.
Sua trajetória passou pelo site O Piauiense, onde dividia o holofote com Petrus Evelyn. Juntos, formaram uma dupla dinâmica, onde em tom humorístico ao estilo CQC, fazia matérias investigativas sobre poder público e política. Mas foi ao assumir o comando do Portal AZ, após a saída judicial de Arimatéia Azevedo, que Ribas Neto alçou a um protagonismo.
Desde então, fez do site uma plataforma de embates públicos, denúncias e embaraços para autoridades e processos e até investiu contra os faccionados em matérias que causaram certo risco a sua vida.
Alguns resultados são inegáveis. Em 2024, reportagens assinadas por ele ajudaram a impedir, segundo o próprio Tribunal de Contas, desvios de R$ 400 milhões em contratos na Prefeitura de Teresina e gerou o bloqueio das contas das prefeitura.
Também contribuiu para pautar discussões internas no Ministério Público e expôs contradições de figuras públicas muito influentes.
Mas o jornalista também acumula críticas e eu resolvi ouvi-lo e provocá-lo, numa rápida entrevista, com exclusividade.
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Seu tom frontal e, por vezes, debochado, levanta questionamentos sobre os limites entre jornalismo e opinião. Para uns, é um contraponto necessário à imprensa local. Para outros, um personagem inflado pela própria retórica, que confunde denúncia com performance e age como um showman da informação, bem ao estilo dos anos 90 de Donizetti Adalto.
Ribas não esconde sua inspiração, não em Donizetti, mas em Olavo de Carvalho, o polêmico escritor e ex-guru do bolsonarismo.
Em sua casa, isolada da zona urbana, vive cercado por livros sobre política, economia e gestão de crise.
O cenário é quase de trincheira intelectual. Durante a entrevista, falou de política com naturalidade, mas sempre com a ironia à espreita.
Ele vai falando e vou colhendo “cortes” de suas falas.
“Se você não entende o sistema, só vira um doidinho gritando para convertido. Eu prefiro desmontá-lo com argumentos”.
Resume suas críticas ao que ele chama de nova esquerda oligarca.
Apoiador da direita e também… crítico da direita
Apesar de alinhado a pautas conservadoras e crítico feroz aos governos, notadamente os de esquerda, Ribas também não poupa o campo político com o qual teoricamente se identifica.
Sobre o PL no Piauí, partido de Jair Bolsonaro, foi direto:
“É um ajuntamento desorganizado. Esses 406 mil votos do Bolsonaro em 2022 foram mais contra o PT do que a favor de qualquer estrutura da direita. Hoje, com honestidade, o que dá para fazer no Piauí é eleger um único deputado estadual da “direita”. O resto é delírio ou vaidade.”
Crítico da fragmentação da oposição e do que chama de “egoísmo eleitoral”, também questiona a ausência de reação dos parlamentares diante de denúncias sérias.
“Mostramos absurdos, documentos, áudios, provas… e nada. Nenhuma CPI, nenhuma nota. A oposição institucional está em coma. Só aparece em ano eleitoral, com sorrisos falsos e promessas ensaiadas.”
E quanto a uma eventual candidatura?
Eu perguntei e ele foi taxativo no não.
“Ser candidato seria rebaixar o que faço.” E completa com uma frase que mistura cinismo e autodepreciação: “Fazer jornalismo no Piauí é como ser uma mulher bonita no Maranhão, não precisa muito, basta não ser como o resto”
Ribas não é candidato, mas podemos dizer que ele já elegeu. Em 2024, declarou voto e apoio público à então candidata Samantha Cavalca, do Progressistas. Resultado: primeira suplente, assumiu cadeira na Câmara, mas ele nega qualquer responsabilidade sobre sua eleição.
“Olha, dizem por aí que fui um dos responsáveis diretos pela eleição da Samantha, que levei votos para ela, que minha atuação nas redes pesou. Pode até ser que tenha ajudado, mas eu duvido muito”.
Crítico e controverso. Necessário?
O fato é que José Ribas Neto tornou-se, queira-se ou não, uma peça do tabuleiro político piauiense. Sua figura transita entre o jornalista, o influenciador e o provocador. Para alguns, é um necessário ponto de tensão num estado onde a crítica virou exceção. Para outros, um justiceiro midiático que joga para sua própria plateia.
O que é inegável é que sua atuação deixou de ser apenas jornalística e passou a ser também simbólica, agora também representa uma oposição fora das instituições, formada por denúncia, descontentamento popular e a busca às vezes difusa, às vezes explícita por rupturas.
Num estado onde boa parte dos veículos de imprensa prefere o silêncio à exposição, ele optou pelo ruído. E, pelo menos por enquanto, é esse ruído que vem pautando o debate.