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Petrobras abandonou “Função Social” e está matando o brasileiro, diz especialista ao Lupa1

O DIEESE aponta que os investimentos são cerca de R$ 30 Bi a menos nos últimos 03 anos.

12 de novembro de 2022 às 16:51
11 min de leitura

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, nos 3 anos e meio do governo de Jair Bolsonaro, a Petrobras gerou cerca de R$252,8 bilhões em lucro líquido e pagou R$258,7 de dividendos aos seus acionistas. Ou seja, a empresa pagou 102,3% do lucro em dividendos, usando parte das reservas de lucro que tinha acumulado em períodos anteriores.

Deste total de dividendos, 43% foram para acionistas de fora do Brasil e outros 36,8% para a União (governo federal) e BNDES. Mas não foi sempre assim, de 2003 a 2013 a empresa sempre apresentou lucro e pagou dividendos, mas numa proporção bem menor, média de 34% do lucro, sendo o restante aplicado em investimentos na Estatal.

Plataforma de Extração de PetróleoReprodução da Web

Os Lucros Atuais

De acordo com “economistas influencers” apoiadores do atual presidente, a Petrobras é hoje um exemplo de lucratividade e como foram certeiras as ações adotadas pela equipe do governo.

No entanto, ninguém mostra que os lucros atuais resultam, principalmente, dos retornos dos investimentos feitos no pré-sal no período da gestão Lula (2003 a 2010), ou ainda por outros fatores, listados pela própria empresa, como a venda de ativos, redução de gastos com trabalhadores, aumento do preço do barril de petróleo e aumento dos preços de derivados no mercado interno que tanto penaliza a população brasileira.

“Ao conduzir a empresa por esse caminho, coisa que nenhuma outra petroleira faz, o governo está canibalizando a Petrobrás, comprometendo seu futuro. É bom lembrar que a Petrobrás de hoje é resultado das estratégias adotadas recentemente pela gestão da empresa, mas também reflexo de investimentos realizados no passado. Além disso, a produção de petróleo e gás natural não cresceu com governo Bolsonaro, e o aumento da dependência (cerca de 70% da produção total) em relação aos campos do pré-sal (descobertos pelos investimentos dos governos do PT) tem sido a salvação da Petrobrás”, diz nota da Federação Única dos Petroleiros.


Divisão atual dos Lucros

Como já apontado inicialmente, a Petrobrás acumulou entre 2019 e 2022 um total de R$252,8 bilhões em lucro líquido. E, ao mesmo tempo, pagou R$258,7 bilhões em dividendos aos seus acionistas, o que representa 102,3% do lucro. Mas a pergunta que não quer calar é: Quem fica com esses recursos?

Os lucros são divididos entre três grupos, sendo o primeiro o Grupo de Controle (União + BNDESPar), que ficou com 36,8% do bolo, cerca de R$95,2 bilhões; o segundo grupo é o de Investidores Estrangeiros, que recebeu 43,0% do bolo, cerca de R$111,2 bilhões; e ainda o terceiro grupo de Investidores Brasileiros que recebeu 20,2%, cerca de R$52,2 bilhões dos dividendos.

Divisão dos Lucros em Governos anteriores

Ao contrário do que muita gente propaga, não é verdade que nos governos do PT a Petrobras teve prejuízo. Prova disso é o valor dos dividendos entre os anos de 2003 a 2013 em que a empresa lucrou em média R$ 25,6 bilhões/ano.

A diferença na época estava na partilha dos dividendos entre os acionistas que se limitava em 34% do valor do Lucro Líquidos, cerca de R$ 8,6 bilhões por ano, o que permitia novos investimentos na empresa, possibilitando, entre outras coisas, o aumento da produção.

Investimentos

Latu sensu, os investimentos feitos em governos anteriores são, na verdade, os grandes responsáveis pelos resultados positivos de hoje.

Fora isso, os resultados atuais também acontecem em razão da venda de patrimônio, da redução de direitos de trabalhadores e ainda da sobrecarga de preços impostos aos brasileiros.

Além dos fatores anteriores, “a atual política de dividendos incentiva a redução dos investimentos, uma vez que a empresa pode distribuir até 60% do Fluxo de Caixa Livre descontado o investimento. Assim, quanto menor o investimento maior o dividendo”, aponta a Federação Única dos Petroleiros.

Refinaria de PetróleoReprodução da Web

Por que a Petrobras dá mais lucro agora?

Somado a tudo o que já fora dito anteriormente, outros fatores ajudam a explicar o aparente aumento nos lucros da Petrobras. Veja abaixo alguns deles:

Investimentos– A Petrobrás de hoje é resultado das estratégias adotadas recentemente pela gestão da empresa, mas também reflexo de investimentos realizados no passado. Os resultados positivos de hoje são reflexo dos investimentos realizados entre os anos de 2003 a 2013;

Produção de petróleo – A produção de petróleo e gás natural não cresceu com governo Bolsonaro, mas a dependência da empresa em relação aos campos do pré-sal (descobertos pelos investimentos dos governos do PT) tem sido a salvação da Petrobrás;

Reservas provadas – Para piorar, a Petrobrás da gestão Bolsonaro vem reduzindo as reservas provadas da empresa. Em estratégia clara de retirar petróleo em ritmo maior que a capacidade de descoberta de novas reservas;

Venda de ativos – Somente no governo Bolsonaro, entre janeiro de 2019 e outubro de 2022 foram vendidos 63 ativos (67% dos ativos vendidos nos últimos 10 anos);

Preços dos combustíveis – O PPI (Preço de Paridade de Importação), penalizando a população brasileira, é um dos motivos para o aumento dos lucros;

Trabalhadores – A Petrobrás vem reduzindo o número e as despesas com seus trabalhadores, ao mesmo tempo em que aumenta seus lucros.

Trabalhadores PetrobrasReprodução da Web

Quanto foi investido ao longo dos anos?

A Petrobras teve pico de investimentos no governo de Dilma Rousseff, no ano de 2013, quando 48,1% do lucro, cerca de U$$ 38,9 bilhões foram investidos, permitindo que a capacidade de produção aumentasse em mais de 37%.

Já nos quase 04 anos do governo de Jair Bolsonaro, apenas U$$ 9,2 bilhões foram investidos, reduzindo a capacidade de produção em 5,8%, segundo levantamento do DIEESE junto a Petrobras.

Como seria a Petrobras hoje sem os investimentos de ontem?

Como já dito, a Petrobras no governo de Jair Bolsonaro tem reduzido sua produção média diária de petróleo e gás natural. Entre janeiro de 2019 e setembro de 2022 a queda chegou a 5,8%. No governo Temer a produção caiu 0,7% e nos governos do PT (2003 a 2016) a produção aumentou 37%.

As vendas de campos produtores e redução dos investimentos explicam essa redução recente.

Por outro lado, os grandes volumes de investimentos, descoberta e capacidade de produção nos campos do pré-sal, realizado entre 2005 e 2014, tem salvado a Petrobrás de hoje.

A política de preços – PPI

Entre 2003 e 2016, até a implementação do Preço de Paridade de Importação (PPI), a gasolina, diesel e GLP subiram de preços nas refinarias bem abaixo do crescimento do salário mínimo e da inflação.

A partir de outubro de 2016, ainda no governo Temer/Pedro Parente, posteriormente intensificados no governo Bolsonaro, a Petrobrás passa a praticar uma nova política de preços para os derivados vendidos nas refinarias, o PPI. Assim, a empresa desconsidera a redução dos custos de produção de petróleo e de derivados e passa a utilizar como parâmetro o preço internacional, importado para o Brasil.

Assim, desde 2016 e intensificado por Bolsonaro em 2019, a variação dos preços nas refinarias da Petrobrás foram bem acima dos reajustes do salário mínimo e da inflação, dificultando sobremaneira a vida do consumidor nacional.


O diz o especialista sobre a situação?

Ouvido pelo Lupa1, o bancário aposentado e pesquisador do mercado financeiro, Marconi Lacerda, disse que não há problema algum com os lucros alcançados pela Petrobras, e sim a forma como os lucros alcançados.

“O lucro da Petrobras em si não é o problema. O problema é a forma como esse lucro está sendo obtido. A Petrobras faz, coisa que nenhuma outra empresa brasileira faz, que é cobrar do consumidor brasileiro como se tivesse comprando o produto do exterior”, disse Lacerda.

Marconi Lacerda - Bancário Aposentado e Pesquisador do Mercado FinanceiroArquivo Pessoal

Ainda de acordo com Marconi, a política de preços da Petrobras não faz o menor sentido.

“Qual o sentido que existe uma empresa nacional, em que 90% dos custos é nacional e ela cobrar do consumidor brasileiro como se ela tivesse comprado no exterior. Isso não faz nenhum sentido”, disse.

O pesquisador também ressaltou que a Estatal perdeu sua função social e está “matando o brasileiro”.

“Pela Constituição Federal as estatais tem que ter função social, porque senão não teria sentido ser estatal. Então ela tem que, além de atuar no mercado privado, tem que ter uma preocupação com o social e infelizmente essa preocupação ela abandonou e está matando o brasileiro”, concluiu.

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