Niède Guidon morre aos 92 anos e deixa legado imensurável à arqueologia e à história do Brasil

Pesquisadora que transformou o Piauí em referência mundial da arqueologia faleceu nesta quarta (4), em São Raimundo Nonato

04 de junho de 2025 às 06:46

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Thiago Trindade

A arqueóloga Niède Guidon, um dos maiores nomes da ciência brasileira, morreu nesta quarta-feira (04), aos 92 anos, na região de São Raimundo Nonato, no interior do Piauí. Ela dedicou mais de cinco décadas à pesquisa, proteção e valorização da Serra da Capivara hoje reconhecida como um dos maiores sítios arqueológicos do planeta.

Arqueóloga Niède Guidon, um dos maiores nomes da ciência brasileira

Nascida em Jaú (SP), em 1933, Niède foi uma força transformadora na arqueologia brasileira. Formada em História Natural pela USP, com doutorado em arqueologia pré-histórica na França, ela chegou ao Piauí nos anos 1970 e nunca mais deixou a região. Foi lá que comandou escavações que desafiaram os paradigmas da ciência ocidental ao apresentar evidências de ocupação humana nas Américas há mais de 50 mil anos, o que contraria as teorias mais tradicionais sobre a chegada do homem ao continente.

Em 1986, criou a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), um dos maiores projetos de pesquisa e desenvolvimento humano do país. Através da fundação, Niède levou educação, saúde e emprego para comunidades do semiárido piauiense, enquanto lutava pela preservação dos mais de 1.200 sítios arqueológicos da Serra da Capivara. Seu trabalho foi reconhecido internacionalmente e, em 1991, o parque foi tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Mesmo enfrentando cortes de verbas, abandono político e desafios logísticos extremos, Guidon nunca abandonou o Piauí. Sua vida foi inteiramente dedicada à defesa da ciência, da cultura e da dignidade das populações do sertão. Recebeu títulos e homenagens em todo o mundo, incluindo o de Doutora Honoris Causa por várias universidades brasileiras e estrangeiras mas sempre voltou para sua trincheira no meio das caatingas do Sul do estado.

Niède Guidon faleceu em casa, cercada por amigos e colaboradores. A causa da morte não foi divulgada oficialmente. O velório ocorre na sede da FUMDHAM, no município onde construiu sua história.