Enquanto várias cidades do Piauí sofrem com a estiagem prolongada e a falta d'água castiga comunidades inteiras, um contraste tem chamado à atenção da população e causa indignação. Apesar do decreto de estado de emergência reconhecido pelo Governo do Estado, que atinge dezenas de municípios piauienses por conta da seca severa, o mês de abril está sendo marcado por um verdadeiro festival de contradições: pelo menos 25 cidades que vivem oficialmente uma crise hídrica já realizaram ou anunciaram grandes eventos e shows em praça pública para o mês de abril, muitos deles com atrações de renome nacional e cachês elevados.
A situação repercutiu após o episódio protagonizado pelo prefeito de Fartura do Piauí, Orlando Costa. Durante uma entrevista emocionada, o gestor chegou a chorar ao relatar as dificuldades enfrentadas pela população local devido à seca. O apelo sensibilizou muitos, mas durou pouco. Logo veio à tona que a mesma prefeitura que clamava por ajuda e lamentava a estiagem estava prestes a realizar um mega show para celebrar o aniversário da cidade, com estrutura milionária.
A repercussão negativa foi imediata. Denúncias da imprensa e a atuação do Ministério Público pressionaram a gestão municipal, que acabou cancelando o evento. Ainda assim, a atitude expôs um padrão que se repete em outras regiões do estado: prefeitos que pedem socorro por causa da seca, mas não abrem mão de promover festas grandiosas, sempre sob a alegação de que os eventos serão realizados com emendas parlamentares.
25 cidades que vivem oficialmente uma crise hídrica e aniversariam em abril já realzaram o anunciaram grandes show
Emergência Constante
Na prática, o estado de emergência por causa da seca já se tornou quase permanente no Piauí. Apesar de um período chuvoso que dura, em média, apenas três meses ao longo do ano, a maior parte do território piauiense enfrenta longos meses de estiagem e escassez de água.
Os problemas provocados pela seca como a falta de água potável, prejuízos na agricultura e morte de rebanhos, não são nenhuma novidade para quem vive no sertão piauiense. Trata-se de uma realidade dura e histórica, conhecida por todos.
No entanto, mesmo diante desse cenário recorrente de sofrimento e necessidades básicas não atendidas, muitos municípios continuam a gastar verdadeiras fortunas com shows, festas e eventos que, em nada, contribuem para mudar a triste realidade de quem precisa de água para sobreviver.
Até quando?
Enquanto a estiagem continua a castigar o sertão piauiense, o Ministério Público promete fiscalizar de perto os gastos dos municípios que se encontram em estado de emergência. Mas o episódio já deixou uma reflexão necessária: até que ponto o sofrimento do povo é usado como retórica política, enquanto o dinheiro público continua a financiar festas que não condizem com a realidade de escassez vivida no interior do Piauí?