A empresa Solatio recebeu autorização oficial do Governo do Piauí para dar início à construção de uma planta industrial voltada à produção de hidrogênio verde e amônia. O projeto será executado na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba e representa um investimento robusto de R$ 27 bilhões, com expectativa de geração de aproximadamente 3 mil postos de trabalho, entre diretos e indiretos.
O governador Rafael Fonteles anunciou o avanço da iniciativa nesta terça-feira (30), destacando a concessão da licença que permitirá o começo das obras.
“Hoje (30) saiu a licença de instalação da empresa Solatio, que será construída na ZPE de Parnaíba. Então, muito em breve irão iniciar as obras já de construção dessa indústria, que é uma construção longa, mas que vai acontecer e já vai gerar benefícios concretos, gerando emprego, gerando renda, gerando oportunidades”, declarou.
A futura instalação terá capacidade de produção de 3 gigawatts por ano e integra as diretrizes da Missão 5 do programa Nova Indústria Brasil (NIB), que visa fomentar a bioeconomia, acelerar a transição energética e garantir maior segurança no fornecimento de energia. O foco comercial da produção será voltado para o mercado internacional, especialmente Europa e Ásia, regiões com crescente demanda por combustíveis sustentáveis.
Para Ricardo Castelo, vice-presidente de Energias Renováveis da Investe Piauí, a conquista da licença representa um marco fundamental para o estado.
“Esse projeto, um dos maiores do Brasil, será instalado na ZPE de Parnaíba e gerará emprego e renda para a região. Esse é mais um importante marco e diferencial competitivo e comparativo do Piauí. É grande a importância da obtenção da licença, que marca o início das instalações desse projeto, coroando os esforços realizados pelo governo do Piauí, suas diversas secretarias e órgãos e, principalmente, pela Investe Piauí”, afirmou.
A autorização definitiva para a instalação da fábrica foi respaldada por resolução assinada em março deste ano pelo vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Além disso, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) já havia emitido a licença prévia necessária para a implantação da estrutura no litoral piauiense.
Com o novo empreendimento, o Piauí reforça sua posição estratégica no cenário nacional de energias limpas e se consolida como um dos protagonistas na produção de hidrogênio verde no Brasil.
Quem é a empresa Solatio
A Solatio Energia é uma das maiores empresas do setor de energias renováveis da América Latina, com sede no Brasil e forte atuação também na Espanha. Fundada por investidores espanhóis, a companhia é especializada no desenvolvimento de projetos de geração solar e, mais recentemente, vem expandindo sua atuação para novas fronteiras da transição energética, como a produção de hidrogênio verde e amônia verde.
Com um histórico de investimentos bilionários e projetos em diversos estados brasileiros, a Solatio se destaca pela implementação de usinas solares fotovoltaicas em larga escala e pela sua aposta em soluções sustentáveis de longo prazo. A empresa já firmou parcerias com governos estaduais e empresas internacionais para ampliar a geração de energia limpa e contribuir para a descarbonização da matriz energética global.
A iniciativa no Piauí representa mais um passo estratégico da Solatio na consolidação do Brasil como polo mundial de produção de hidrogênio verde , combustível apontado como essencial na luta contra as mudanças climáticas.
Análise Lupa 1
Por trás do otimismo do governo estadual, o projeto enfrenta diversos desafios. Em março, a Aneel barrou o pedido para conectar a usina à rede elétrica do país, apontando riscos de queda de energia e sobrecarga nas subestações da região, um sinal claro de que a infraestrutura local pode não estar pronta para um projeto desse porte. A decisão seguiu recomendação do ONS (Operador Nacional do Sistema), que apontou risco de colapso de tensão e sobrecarga nas subestações da região de Parnaíba.
A empresa Solatio afirmou que a situaçaõ já teria mudado com novos estudos técnicos e reforços previstos no sistema de transmissão. Um novo pedido de acesso foi protocolado e a expectativa, segundo o governo e a própria companhia, é de que o sinal verde venha nas próximas semanas.
O consumo de água é outro ponto preocupante. Segundo levantamento do portal O Corre Diário, a fábrica poderá utilizar até 91,2 milhões de litros de água por dia, o equivalente a cinco vezes o consumo diário de toda a cidade de Parnaíba. Essa estimativa levanta alerta entre ambientalistas, que cobram transparência sobre a origem dessa água e os possíveis impactos nos ecossistemas litorâneos e no abastecimento urbano.
Em resumo
O embraço junto a Aneel e as questões ambientais que ainda carecem de transparência revelam um ponto sensível que pode comprometer todo o projeto, qual seja, o avanço das energias renováveis depende também da atualização da infraestrutura elétrica brasileira, que em muitos casos segue defasada, inclusive com o uso de gambiarras, diante da velocidade dos investimentos privados.