Pela pauta média: descer o braço no ladrão e escárnio ao político é moral

As vezes é preciso ter consciência da desgraça para que se saiba reagir.

Por José Ribas - Jornalista 

O cidadão comum sofre assalto de todas as formas. Na rua, um criminoso o aborda com uma faca ou um revólver e exige seu dinheiro, seu celular, seu carro – às vezes, sua vida. São mais de 60 mil homicídios por ano.

 

DORÉ, Gustave (1832-1883) An Angel Appears to Balaam (Num 23:15-35), (detail, inv.)

No palácio de governo, um burocrata aumenta impostos, cria mais taxas, suga cada centavo que poderia ir para a educação dos filhos, para a compra de remédios, para a construção de uma vida digna. São 5 meses do ano só para pagar impostos e taxas.

Nos tribunais, juízes interpretam a lei de modo a proteger bandidos e punir cidadãos honestos que ousam reagir. Na política, um deputado desvia dinheiro da saúde enquanto finge se importar com os pobres. São ladrões, todos eles, de diferentes tipos, mas com o mesmo efeito: escravizam quem trabalha, humilham quem tenta viver com dignidade, destroem qualquer esperança de justiça.

Padre Antônio Vieira em seu ‘Sermão do Bom Ladrão’, resume bem a história:

“Se o Rei da Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome”.

Se diante disso, merecedores do mesmo nome, por qual razão nos dizem para sermos civilizados e tratar com deferência quem nos rouba por ser este ladrão um “excelentíssimo”?

Quiçá, para aceitarmos e para não reagirmos. Para deixarmos os criminosos em paz e, se possível, pedirmos desculpas por termos algo que eles querem roubar, seja meu dinheiro dos tributos ou a moto que ainda faltam 28 prestações.

Não, chega!

Mais do que nunca, o cidadão comum precisa se revoltar. Não negociar com bandidos, seja o vagabundo armado na esquina, seja o político engravatado que desvia o dinheiro do hospital. A violência não deve ser romantizada, mas a covardia também não pode ser normalizada. Se um criminoso te assalta, ele deve temer pela própria vida, pois está atacando alguém que não lhe deve nada, que não aceita ser tratado como gado. E se um político rouba dinheiro da merenda escolar, do hospital, do transporte público, ele deve ser tratado com o mesmo desprezo e raiva que se trata qualquer ladrão que invade sua casa. Pois são a mesma coisa – e, em alguns casos, o criminoso de colarinho branco é ainda pior, porque sua destruição é sistêmica, enraizada e impune.

A ideia de que devemos tratar qualquer pessoa com respeito incondicional é um delírio moderno. Respeito se conquista, não se exige. Um homem honesto, um trabalhador, um pai de família merece respeito. Um corrupto, um ladrão, um estuprador, um assassino, não. O ato de xingar criminosos e pessoas vis não é uma questão de grosseria gratuita, mas de demarcação moral.

Quando um político desvia dinheiro da saúde, ele condena pessoas à morte. Ele merece ser tratado com desprezo, merece ser vaiado na rua, merece ser exposto como um verme social. Fingir civilidade com quem mata é permitir um salvo conduto moral para o próprio homicídio, é dá-lhe um verniz de legitimidade que ele não tem.

E, enquanto isso acontece, a direita e a esquerda se perdem em pautas secundárias.

A direita precisa parar de perder tempo com obsessões sexuais e começar a se preocupar com a realidade jurídica do país. O cidadão médio não está acordando de madrugada temendo um casal gay andando de mãos dadas na rua – ele está preocupado se conseguirá pagar suas contas, se seu filho terá uma escola decente, se ele será assaltado indo para o trabalho. A direita deveria estar ocupada em garantir com seus deputados e senadores de redes sociais que leis protejam a legítima defesa, que alguns juízes deixem de ser cúmplices do crime organizado e que se punidos não sejam aposentados com R$ 45 mil, mas presos, que a carga tributária deixe de ser um assalto institucionalizado.

A esquerda, por outro lado, precisa parar de insistir num identitarismo linguístico que só afasta o proletariado. O trabalhador que pega transporte coletivo lotado, que tem medo de levar um tiro no ponto de ônibus, que vê seu bairro ser dominado pelo tráfico, não está preocupado com qual pronome deve usar para um homem de saia ou se um filme tem representatividade suficiente. Ele quer segurança. Quer que o Estado funcione para protegê-lo, não para justificar sua miséria com teorias sociológicas de gabinete. O discurso da esquerda deveria estar focado no combate ao crime, na moralização do serviço público, na reconstrução de laços comunitários e na defesa do trabalhador real – e não do militante profissional.

Vivemos um tempo de crise social profunda, onde qualquer distração é uma concessão ao colapso. O mundo real não é feito de debates universitários, nem de frases de efeito para ganhar likes no Twitter. O mundo real tem crime, tem corrupção, tem miséria, tem sofrimento. E, no meio do fogo cruzado, não há mitada nem lacrada que nos salve. Todo mundo é vítima.

A única saída é encarar a realidade com firmeza e revolta. Parar de se iludir com teorias acadêmicas e posturas educadas diante da desgraça. Ou nos defendemos, ou seremos devorados. O que está em jogo não é um debate, mas nossa própria sobrevivência.