Base governista "heterogênea" favorece hegemonia eleitoral de Ciro Nogueira para o Senado em 2026

2026 poderá ser um retrato da crise de liderança e coesão em partidos que, mesmo no poder, lutam entre si por protagonismo

A menos de dois anos das eleições de 2026, o cenário político no Piauí começa a ganhar contornos cada vez mais reveladores e paradoxais. Enquanto a base governista estadual ensaia uma disputa interna para definir seus candidatos ao Senado, o nome de Ciro Nogueira (PP) avança como uma figura quase consensual entre prefeitos e vereadores, inclusive entre muitos que se dizem aliados do governo estadual.

 

Senador Ciro Nogueira, do PPFoto: Lupa1

A dualidade que se desenha nas preferências eleitorais municipais é indicativa de um comportamento pragmático e estratégico, típico de quem compreende a política local mais como sobrevivência do que fidelidade partidária. É nesse contexto que Ciro Nogueira, atual senador e presidente nacional do Progressistas, vai consolidando terreno, mesmo sendo apontado como figura-chave da direita bolsonarista há, inclusive, especulações de que poderá compor uma chapa nacional como vice de Jair Bolsonaro, ou numa chapa apoiada pelo ex-presidente.

Enquanto isso, do lado governista, ainda reina a indefinição. Marcelo Castro (MDB), senador em fim de mandato, e Júlio César (PSD), deputado federal, aparecem como os nomes mais prováveis da coalizão estadual. Contudo, o PT, partido do governador Rafael Fonteles, também reivindica uma das vagas para o Senado, alimentando disputas internas que enfraquecem a narrativa de unidade e dificultam a fidelização do eleitorado municipal.

 

Ciro Nogueia com Camila Barbosa (PT), prefeita de Lagoa do Piauí, em recente agenda em Brasília

Prefeitos e vereadores, atentos ao peso eleitoral de Ciro, já organizam articulações regionais com ele. A confirmação veio nesta quinta-feira (24), quando a Associação de Vereadores do Piauí anunciou a realização de encontros em várias regiões do estado, todos com a presença do senador do Progressistas. Trata-se de uma movimentação que não apenas sinaliza apoio, mas indica um reposicionamento tático de lideranças locais, muitas das quais dividirão seus votos entre a base governista e Ciro Nogueira, este, invariavelmente, sendo o "voto certo" ao Senado.

 

Ciro Nogueira e lideranças da oposição se reúnem com vereadores de todo o Piauí - Foto: Reprodução

O fato de não ser raro encontrar quem pretenda votar em Ciro e em um dos nomes da base de Rafael Fonteles, e quase nunca nos dois candidatos governistas, expõe um risco na estratégia da ala governista. A fragmentação da base não apenas dificulta a criação de uma chapa coesa, como também oferece ao adversário um campo vasto para captação de apoio transversal. Ciro, com sua capilaridade e habilidade em se apresentar como uma figura “respeitada dos dois lados” transforma essa fraqueza da base num trunfo pessoal.

 

Ciro Nogueira e Lécio Gustavo (MDB), prefeito de Alvorada do Gurguéia

A tendência é clara: se a base governista não resolver suas contradições internas e não apresentar ao eleitorado uma chapa senatorial com identidade e unidade, verá o seu segundo voto ao Senado, ou até mesmo o primeiro, ser entregue de bandeja a Ciro Nogueira.

Mais do que disputa política, o que se verá em 2026 poderá ser um retrato da crise de liderança e coesão em partidos que, mesmo no poder, lutam entre si por protagonismo.

 

Ciro Nogueira, Guilher Mais (PSD), prefeito de Wall Ferraz e Marlon Sousa (MDB), prefeito de Santa Rosa do Piauí