O Brasil do 1º de Maio de 2025 é o mesmo país onde mais de 40% da força de trabalho atua na informalidade, segundo a CUT, onde professores têm três empregos para completar a renda, motoristas de aplicativo rodam até 16 horas por dia, e trabalhadores da construção civil ainda sofrem com atrasos salariais, falta de equipamentos de segurança e contratos precários.
É também o país onde se celebra o Dia do Trabalhador com discursos oficiais, homenagens e feriado, mas onde grande parte da população sequer pode parar para comemorar. Para milhões, é mais um dia comum, com turnos em hospitais, entregas por aplicativos, plantões em padarias, ônibus, feiras e supermercados.
O feriado de 1º de Maio, que tem origem na greve operária de Chicago em 1886, marcada por repressão violenta e assassinatos de sindicalistas, foi institucionalizado no Brasil por Getúlio Vargas em 1925. Mas quase um século depois, a realidade do trabalhador brasileiro ainda se distancia dos direitos defendidos naquele momento histórico.
Jornada longa, salário curto
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do IBGE, mostra que o rendimento médio do trabalhador brasileiro está estagnado em R$ 2.950, com diferenças profundas entre regiões e setores. No Nordeste, por exemplo, a média cai para R$ 2.264. No setor da construção civil, essa média não ultrapassa os R$ 2.000, com longas jornadas e poucos direitos garantidos.
Ana Cláudia, empregada doméstica em Teresina, acorda às 4h30 da manhã. Pega dois ônibus até a casa onde trabalha, cuida de uma idosa, limpa, cozinha, e retorna para casa às 19h. “Não é luxo, é sobrevivência. Se eu parar, não como no outro dia”, diz, sem qualquer traço de autocomiseração.
Do outro lado da cidade, Paulo, mototaxista e entregador de aplicativo, relata que as taxas cobradas pelas plataformas consomem quase metade do que ganha. “Tem dia que, de R$ 150 que eu faço, sobra R$ 60. Gasolina, manutenção, alimentação, tudo por minha conta”, conta ele, com o celular sempre no suporte e os olhos divididos entre o trânsito e o aplicativo.
Uma CLT enfraquecida
A reforma trabalhista de 2017 flexibilizou direitos como jornada de trabalho, intervalo intrajornada e homologação sindical. À época, o argumento era de que a modernização geraria mais empregos. O que se viu, na prática, foi o crescimento da informalidade e a pulverização das garantias coletivas.
“Hoje, muitos trabalhadores sequer têm acesso à Justiça do Trabalho, porque foram levados a assinar contratos como se fossem empresários individuais. É o falso ‘empreendedorismo por necessidade’, que esconde precarização”, aponta trecho de um levantamento feito pela CUT.
Direitos ainda em disputa
Em 2025, o Brasil convive com uma pauta trabalhista que mistura avanços e retrocessos. O debate sobre regulação das plataformas digitais, a luta pela valorização do salário mínimo, a ampliação do direito à licença-paternidade e o combate ao assédio no ambiente de trabalho seguem na mesa, mas enfrentam resistência.
Na prática, o trabalhador brasileiro ainda espera por transporte público eficiente, segurança no trajeto e no local de trabalho, equipamentos de proteção adequados, valorização do salário e acesso justo à aposentadoria, em tempo hábil para o desfrute do benefício.
O que o 1º de Maio ainda representa
Mais do que uma data comemorativa, o Dia do Trabalhador segue sendo símbolo de resistência. Para quem labuta sob o sol, para quem passa horas em frente a um computador, para quem ensina, constrói, planta, limpa ou salva vidas o trabalho é dignidade, mas ainda carece de reconhecimento.
Neste 1º de Maio, os números oficiais podem mostrar estabilidade no mercado de trabalho. Mas os relatos nas ruas, nas filas de transporte, nas marmitas frias e nos olhos cansados revelam outro Brasil. Um país que trabalha e que ainda espera por justiça e dignidade.
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