Teresina está de joelhos: ônibus quebrados, promessas furadas e passageiros invisíveis

Crise no transporte público de Teresina escancara falhas de gestão, abandono das periferias e omissão política diante do colapso do sistema.

Um abismo pago todos os dias com suor por quem acorda cedo, enfrenta sol, espera horas no ponto e chega atrasado — quando chega.

O fim da última greve dos rodoviários trouxe de volta os ônibus às ruas de Teresina, mas segue não devolvendo a dignidade ao transporte público da capital.

O que temos hoje é um sistema à beira da falência, mantido à força por uma tarifa congelada em R$ 4 desde 2019 e uma tarifa técnica que, segundo o próprio SETUT, já ultrapassaria os R$ 11.

Quando chegam ao destino estão sempre lotados, inseguros e desconfortáveis - Foto: Mobilize Brasil

Os consórcios Poty, Urbanus, Theresina e Transcol administram as linhas em cada região da cidade. Mas administrar o quê, exatamente? Um sistema fragmentado, terminais desativados, ônibus quebrados e linhas reduzidas sem qualquer planejamento técnico visível.

A promessa do “Inthegra”, lançada com pompa e verba em 2016, virou escombro urbano e sinônimo de fracasso de gestão pública. O que era para integrar, segregou. O que era para facilitar, afastou ainda mais o povo do centro.

Enquanto isso, o Metrô de Teresina — que poderia ser parte da solução — é uma ideia boa, mal executada. Transporta cerca de 15 mil usuários por dia, quando poderia ter um papel estrutural. A modernização anunciada não é suficiente. Falta conexão com os ônibus, falta tarifa unificada, falta vontade política.

E quem paga por isso?

A diarista que mora no Mocambinho e depende de dois ônibus para chegar a um emprego no bairro São Cristóvão. O estoquista do Parque Brasil que perde horas em deslocamento.O estudante da zona Sudeste que precisa caminhar quilômetros porque a linha sumiu. 

Em 2019, Teresina tinha 4,5 milhões de passageiros/mês. Hoje, mal passa de 2,5 milhões. O colapso está em curso — e fingir normalidade é criminoso.

Vereadores e deputados com base na capital: até quando esse silêncio?

O sistema desaba e não se vê uma frente parlamentar de crise.  

Onde estão os deputados estaduais que foram bem votados em Teresina? Onde estão os vereadores que prometeram “ouvir o povo”?

A cidade pede, grita, implora por soluções. momento é de responsabilidade coletiva.

 O transporte público não é um problema só do Executivo. É uma urgência de saúde urbana, de desenvolvimento social, de justiça.

O que fazer, para ontem:

  1. Retomar e reestruturar o Inthegra, com fiscalização de verdade.
  2. Vincular subsídios a metas de desempenho e transparência.
  3. Investir em tecnologia e integração modal real: metrô, ônibus, bicicletas.
  4. Criar audiências públicas com usuários das zonas mais afetadas.
  5. Mobilizar bancada federal por emendas estruturantes.

O pior transporte público do Brasil — e os números comprovam

Um levantamento feito pelo Mobilize Brasil revelou, com dados do IBGE, que Teresina tem o pior sistema de transporte público entre todas as capitais brasileiras. O dado é assustador: somente 11% da população da capital utiliza ônibus ou metrô como principal meio de deslocamento — o menor índice entre todas as capitais.

E mais: Teresina é também a única entre as grandes cidades brasileiras onde há mais deslocamentos feitos a pé do que de ônibus. A mensagem é clara — o sistema colapsou a ponto de ser abandonado. A população simplesmente desistiu dele.

Isso não é uma percepção, é um fato medido. Em uma cidade onde o transporte público é visto como último recurso, o Estado falhou. A prefeitura falhou. 

E os representantes políticos, ao se calarem, falham também.

Não estamos falando apenas de mobilidade, mas de exclusão urbana. Quem mora longe, quem depende do ônibus, é penalizado duas vezes: pela distância e pela ausência do Estado. Cidades que já foram crise, hoje são exemplo: Curitiba, Bogotá, Medellín: todas essas cidades, em contextos adversos, conseguiram transformar seus sistemas com decisões corajosas, planejamento e vontade política. Por que Teresina precisa continuar sendo a cidade do improviso?

O Ponto de Ruptura

É hora de trocar o discurso de que “não tem solução” pela construção de um pacto real pela mobilidade urbana. Quem não se mexer agora — político ou empresário — estará assinando o atestado de morte do transporte público na capital do Piauí.

E dessa vez, sem volta.