O elo dos presídios: Tatiana Medeiros ligava de vídeo para líder de facção, de dentro da cadeia

Nos últimos três dias, Tatiana ganhou prisão domiciliar, perdeu o cargo para Leondidas Júnior e teve prints do celular apreendido revelados.

TERESINA/BRASÍLIA - Novas imagens obtidas do próprio celular encontrado na cela de Tatiana mostram conversas por vídeo da (agora) ex-vereadora e seu companheiro Alandilson. DETALHE: estando ambos presos um em Teresina e outro em Belo Horizonte. Sim, você leu corretamente. Segue o fio:

 
Há mais de 1.400 quilômetros de distância em linha reta, conversas de vídeo de dentro da cela. Imagens revelam mais um capítulo da novela do Caso Tatiana

Relatórios de investigação preliminares já anunciam que a chamada foi registrada dentro do quartel militar onde a parlamentar estava custodiada desde abril. A imagem logo acima já diz tudo.

Tatiana aparece com expressão neutra, e a comunicação entre ela e Alandilson pode ser classificada como “contínua e estratégica”. 

O aparelho era um iPhone 16 Pro Max, usado entre os dias 7 de abril e 20 de Maio, sem nunca ter sido descoberto pelas autoridades até então.

Além de Alandilson, Tatiana manteve contato telefônico com a mãe, uma tia, um tio, assessores e advogados. Tudo de dentro da prisão. Isso mesmo, uma estrutura paralela de comunicação operando livremente de dentro de uma cela militar.

 

Vídeo: Tatiana Medeiros deixa o Central de Monitoramento com tornozeleira eletrônica - Foto: Lupa1

Trilogia em três dias: Prisão domiciliar, posse relâmpago e iPhone revelado

A cronologia dos fatos não deixa espaço para ingenuidade: nesta terça-feira, 3 de junho, a Justiça Eleitoral converteu a prisão de Tatiana Medeiros (PSB) em prisão domiciliar. 

No dia seguinte pela manhã, 4 de junho, o suplente Leondidas Júnior (PSB) tomou posse oficialmente na Câmara Municipal de Teresina.  

Leondidas Júnior agora é o novo vereador de Teresina.

E tudo isso acontece justamente após 15 dias da prisão do celular que Tatiana fazia chamadas de vídeo com o chefe da facção Bonde dos 40, direto do quartel onde estava detida.

Foram mais de 1.500 mensagens, além de vídeos e ligações. Grande parte principalmente, com Alandilson Passos, apontado como líder da facção criminosa e neste momento preso em Minas Gerais.

Ambos estavam com celulares dentro das respectivas celas. Ambos se comunicavam. Ambos mantinham a engrenagem girando.

Uma chamada que não foi interceptada a tempo

Prints obtidos pela Lupa1 mostram claramente uma chamada de vídeo entre Tatiana e Alandilson. Embora a defesa da parlamentar ainda não tenha se manifestado publicamente sobre o conteúdo.

Foi justamente por uma extração de dados do celular que também houve prisão da vereadora, em abril.

Vale relembrar que a época (novembro de 2024), entre as mensagens encontradas, o seu ex-companheiro e acusado de ser líder de faccão, cobrava que eleitores apresentassem provas de que votaram em Tatiana Medeiros, como forma de fidelização do apoio político por parte do crime organizado.

Do quartel para casa: com tornozeleira e sem mandato

A decisão da juíza Júnia Maria Bezerra Fialho, da 1ª Zona Eleitoral de Teresina, determinou a permanência de Tatiana afastada do cargo de vereadora e impôs o uso de tornozeleira eletrônica.

A concessão do benefício foi assinada esta semana no dia 3 de junho, exatamente 60 dias após sua prisão, o prazo previsto para que o suplente pudesse ser convocado. E não falhou: na manhã seguinte, Leondidas Júnior foi empossado.

Essa coincidência milimétrica de datas chama atenção até dos mais céticos. Tatiana, mesmo afastada, seguiu até o último minuto com salário garantido até então, e só após o prazo-limite legal sua substituição se concretizou.

Já falamos disso — e seguimos conectando os pontos

Lupa 1 já havia alertado sobre a teia de poder, silêncio e blindagem que cercam Tatiana Medeiros. Em “Tatiana Medeiros: uma biografia de feridas, poder e silêncio”, mostramos na reportagem como sua trajetória política foi marcada por alianças de bastidor, influência nas periferias e redes de apoio suspeitas com influência de familiares. Depois, com a manutenção do salário mesmo após sua prisão, revelamos que a estrutura institucional seguia intacta, ainda que a parlamentar estivesse presa.

Agora, com a posse de Leondidas Junior (PSB) como vereador de Teresina, a tornozeleira no pé e o celular exposto na cela, o jogo vira. O enredo que parecia ter entrado em marcha lenta ganha nova velocidade e bem mais rápida que uma ligação de vídeo.

O Ponto de Ruptura

Nos últimos três dias, três fatos mudaram o eixo da crise: a prisão domiciliar foi decretada, o suplente Leondidas Júnior assumiu a vaga na Câmara, e foi revelado parte do conteúdo do celular de Tatiana Medeiros, encontrado em sua cela no dia 20 de maio.

Tatiana foi presa após ser flagrada em conexão direta com o crime organizado. Mas mesmo atrás das grades, usava um iPhone de última geração, fazia chamadas com quem a polícia afirma ser o chefão da facção Bonde dos 40 e mantinha o jogo político ativo até o dia em que foi transferida para casa, onde agora, ironicamente, está proibida de acessar a internet.

Alandilson, o outro elo dessa cadeia, fazia o mesmo de dentro de uma penitenciária em Minas Gerais.

O escândalo não está apenas no uso de celulares. Está na estrutura que permite, acoberta e protege isso. Que facilita a entrada de um iPhone num quartel e ainda garante o silêncio institucional em torno da permissividade.

Enquanto uma parte do Brasil apodrece atrás das grades comuns, outra continua legislando do sofá e articulando até mandatos parlamentares. A única coisa que não muda até aqui é a pulseira de ouro, a tornozeleira ou a gravata. O “colarinho branco”.

De fato o poder, esse… nunca perde o sinal. Até que a Polícia Federal bata na porta.