TERESINA/BRASÍLIA - Novas imagens obtidas do próprio celular encontrado na cela de Tatiana mostram conversas por vídeo da (agora) ex-vereadora e seu companheiro Alandilson. DETALHE: estando ambos presos um em Teresina e outro em Belo Horizonte. Sim, você leu corretamente. Segue o fio:
Relatórios de investigação preliminares já anunciam que a chamada foi registrada dentro do quartel militar onde a parlamentar estava custodiada desde abril. A imagem logo acima já diz tudo.
Tatiana aparece com expressão neutra, e a comunicação entre ela e Alandilson pode ser classificada como “contínua e estratégica”.
O aparelho era um iPhone 16 Pro Max, usado entre os dias 7 de abril e 20 de Maio, sem nunca ter sido descoberto pelas autoridades até então.
Além de Alandilson, Tatiana manteve contato telefônico com a mãe, uma tia, um tio, assessores e advogados. Tudo de dentro da prisão. Isso mesmo, uma estrutura paralela de comunicação operando livremente de dentro de uma cela militar.
Trilogia em três dias: Prisão domiciliar, posse relâmpago e iPhone revelado
A cronologia dos fatos não deixa espaço para ingenuidade: nesta terça-feira, 3 de junho, a Justiça Eleitoral converteu a prisão de Tatiana Medeiros (PSB) em prisão domiciliar.
No dia seguinte pela manhã, 4 de junho, o suplente Leondidas Júnior (PSB) tomou posse oficialmente na Câmara Municipal de Teresina.
Leondidas Júnior agora é o novo vereador de Teresina.
Uma chamada que não foi interceptada a tempo
Prints obtidos pela Lupa1 mostram claramente uma chamada de vídeo entre Tatiana e Alandilson. Embora a defesa da parlamentar ainda não tenha se manifestado publicamente sobre o conteúdo.
Foi justamente por uma extração de dados do celular que também houve prisão da vereadora, em abril.
Vale relembrar que a época (novembro de 2024), entre as mensagens encontradas, o seu ex-companheiro e acusado de ser líder de faccão, cobrava que eleitores apresentassem provas de que votaram em Tatiana Medeiros, como forma de fidelização do apoio político por parte do crime organizado.
Do quartel para casa: com tornozeleira e sem mandato
A decisão da juíza Júnia Maria Bezerra Fialho, da 1ª Zona Eleitoral de Teresina, determinou a permanência de Tatiana afastada do cargo de vereadora e impôs o uso de tornozeleira eletrônica.
A concessão do benefício foi assinada esta semana no dia 3 de junho, exatamente 60 dias após sua prisão, o prazo previsto para que o suplente pudesse ser convocado. E não falhou: na manhã seguinte, Leondidas Júnior foi empossado.
Essa coincidência milimétrica de datas chama atenção até dos mais céticos. Tatiana, mesmo afastada, seguiu até o último minuto com salário garantido até então, e só após o prazo-limite legal sua substituição se concretizou.
Já falamos disso — e seguimos conectando os pontos
Lupa 1 já havia alertado sobre a teia de poder, silêncio e blindagem que cercam Tatiana Medeiros. Em “Tatiana Medeiros: uma biografia de feridas, poder e silêncio”, mostramos na reportagem como sua trajetória política foi marcada por alianças de bastidor, influência nas periferias e redes de apoio suspeitas com influência de familiares. Depois, com a manutenção do salário mesmo após sua prisão, revelamos que a estrutura institucional seguia intacta, ainda que a parlamentar estivesse presa.
Agora, com a posse de Leondidas Junior (PSB) como vereador de Teresina, a tornozeleira no pé e o celular exposto na cela, o jogo vira. O enredo que parecia ter entrado em marcha lenta ganha nova velocidade e bem mais rápida que uma ligação de vídeo.
O Ponto de Ruptura
Nos últimos três dias, três fatos mudaram o eixo da crise: a prisão domiciliar foi decretada, o suplente Leondidas Júnior assumiu a vaga na Câmara, e foi revelado parte do conteúdo do celular de Tatiana Medeiros, encontrado em sua cela no dia 20 de maio.
Tatiana foi presa após ser flagrada em conexão direta com o crime organizado. Mas mesmo atrás das grades, usava um iPhone de última geração, fazia chamadas com quem a polícia afirma ser o chefão da facção Bonde dos 40 e mantinha o jogo político ativo até o dia em que foi transferida para casa, onde agora, ironicamente, está proibida de acessar a internet.
Alandilson, o outro elo dessa cadeia, fazia o mesmo de dentro de uma penitenciária em Minas Gerais.
O escândalo não está apenas no uso de celulares. Está na estrutura que permite, acoberta e protege isso. Que facilita a entrada de um iPhone num quartel e ainda garante o silêncio institucional em torno da permissividade.
Enquanto uma parte do Brasil apodrece atrás das grades comuns, outra continua legislando do sofá e articulando até mandatos parlamentares. A única coisa que não muda até aqui é a pulseira de ouro, a tornozeleira ou a gravata. O “colarinho branco”.
De fato o poder, esse… nunca perde o sinal. Até que a Polícia Federal bata na porta.