O ano era 2003. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegava à Presidência da República pela primeira vez com um forte discurso de combate à fome e enfrentamento às desigualdades sociais no Brasil. Para começar, colocou em prática uma promessa que havia feito na campanha eleitoral e lançou o Programa Fome Zero, cujo objetivo era erradicar a fome no país. O estado escolhido para o lançamento: o Piauí.
A escolha tornou nacionalmente conhecida a pacata cidade de Guaribas, distante 600 km de Teresina, na região de São Raimundo Nonato. Uma outra cidade piauiense, Acauã, na região de Paulistana, também foi um dos símbolos do lançamento do programa.
Lula não chegou a visitar nenhuma das cidades, mas elas viraram símbolos do Fome Zero. Guaribas atraiu diversas reportagens de veículos de imprensa do país e, vez ou outra, ainda atrai quando o assunto é pobreza e programas assistenciais do governo.
Ao longo desses 20 anos, é inegável que muita coisa avançou no Piauí e nossos indicadores sociais e econômicos melhoraram. Muita coisa evoluiu. É bem verdade que todos os outros estados também avançaram e alguns até passaram do Piauí, mas há de reconhecer que não somos mais tão miseráveis como éramos no início do século. No entanto, ainda falta muito.
Nesta quinta-feira, 31 de agosto de 2023, duas décadas depois do Piauí ser destaque nacional como piloto do Fome Zero, Lula, agora em seu terceiro mandato, voltou ao estado para lançar o Plano Brasil Sem Fome, uma espécie de reedição daquele programa lançado lá em 2003. Novamente, o Piauí foi o escolhido por Lula para ser "vitrine" de um programa de combate à fome.
Há quem tenha orgulho dessa escolha, mas, quem parar para refletir, vai compreender que ela não traz nada que possa nos orgulhar. Duas décadas depois, o Piauí segue sendo a direção dos holofotes governamentais quando o assunto é a fome e a miséria. Isso mostra que, apesar dos discursos bonitos ao longo desse tempo, nós nunca conseguimos solidificar o combate à pobreza.
Lula em Teresina lançando o Plano Brasil Sem Fome
Muitos justificam que houve retrocesso nas políticas sociais nos últimos anos, o que teria "destruído" as conquistas. É uma justificativa frágil. Ainda que tenha existido retrocessos, eles não teriam condão de anular tudo o que se fez se as conquistas tivessem sido sólidas. Quando se muda de verdade a realidade social de um lugar, não é na primeira vulnerabilidade que ela vai se desfazer. Se a fome segue sendo uma chaga, é porque nunca tomamos distância segura dela.
Passados 20 anos, queríamos ver Lula ou qualquer outro presidente da República escolher o Piauí para lançar um grande programa nacional de desenvolvimento tecnológico e científico, participar da abertura de uma filial de multinacional ou lançar um grande plano de geração de emprego para as pessoas. Infelizmente, Lula vem, de novo, para lançar um programa contra a fome, a mais básica das necessidades humanas.
Não é o destaque que queríamos, mas vamos torcer para que, dessa vez, esse tipo de programa social tenha efeitos sólidos, eficazes e permanentes. Nós, piauienses que amamos essa terra, não queremos ver em 2043 o filme que vimos em 2003 e em 2023.