A decisão da deputada estadual Bárbara Soares (Progressistas) de se aliar ao PT em Teresina é, sem dúvidas, o assunto mais falado na política da capital desde a última quarta-feira (18). Ao deixar o grupo político ao qual o pai dela, o ex-prefeito Firmino Filho (1963-2021), pertenceu ao longo de toda sua trajetória política, a deputada de primeiro mandato provocou as mais diversas reações. E não foram poucas.
Comparar a mudança de lado de Bárbara com as mudanças triviais que políticos normalmente fazem é ser desonesto ao analisar a questão ou não entender absolutamente nada de política. Contudo, embora a mudança da deputada seja bastante diferente, não há como deixar de dizer que Bárbara tem a liberdade de ir para o lado que ela quiser.
Cabe a ela decidir o rumo que quer tomar, bem como cabe a ela assimilar, sem vitimismo, as consequências da decisão.
No entanto, o que Bárbara não deveria jamais aceitar – nem apoiar – é a tentativa dos seus novos aliados de reescrever a história de Firmino Filho. Para defender Bárbara das críticas que vem sofrendo e amenizar a contradição pelo histórico de oposição que o pai sempre fez ao PT, lideranças petistas e segmentos da própria imprensa tentam passar a ideia de que Firmino Filho não era "tão adversário" do PT, usando como justificativa a cordialidade no trato administrativo que o ex-prefeito sempre adotou, para todos os adversários, ao longo de sua trajetória.
Há, também, uma tentativa de construir a narrativa de que o PT não combatia Firmino, sendo que os petistas foram, ao longo das últimas décadas, os principais adversários e críticos das gestões tucanas na capital. O partido, que até ontem classificava as gestões do PSDB como "30 anos de atraso", agora, enfim, reconhece o legado positivo das administrações que sempre combateu.
Nas últimas duas décadas, a política do Piauí teve duas forças dominantes: Wellington Dias, o PT e seus aliados em nível estadual, e Firmino Filho, o PSDB e seus aliados em Teresina, a maior cidade do Estado. Wellington e o PT nunca conseguiram chegar à Prefeitura de Teresina, embora tentem desde a década de 1980. Por outro lado, Firmino e o PSDB nunca chegaram ao Governo do Estado, embora os tucanos tenham tentado várias vezes desde a década de 1990.
Firmino Filho governou Teresina quatro vezes, sempre tendo o PT como partido de oposição
Ao aceitar a construção de uma narrativa que tenta colocar Firmino como alguém que não era um legítimo adversário do PT, Bárbara e seu entorno reduzem a importância política que o tucano exerceu ao longo de quase três décadas na cena política da capital e do Piauí, sendo o representante mais destacado de uma das duas forças dominantes nesse período. Em 1998, PSDB e PT ficaram no mesmo palanque no Piauí, mas a exceção, nem de longe, serve de justificativa para relativizar os embates que antecederam e que sucederam aquela aliança isolada.
Não se pode, também, analisar a rivalidade histórica de Firmino e PT fazendo comparativos com o radicalismo e a beligerância que tomaram conta da política brasileira nos últimos anos na disputa insana entre lulopetismo e bolsonarismo. É desonesto querer analisar essa ou aquela rivalidade de outrora tendo como base o radicalismo atual.
A deputada Bárbara, na condição de agente política que é, certamente conseguiria encontrar diversas formas de justificar a mudança de lado. Políticos lançam mão dos mais diversos argumentos sobre suas decisões e não haveria razão para ser diferente com ela. O que não dá é buscar um novo caminho deixando que terceiros, por conveniência, tentem reescrever a história do seu pai, um agente público que foi tão grande e tão marcante na nossa história recente.
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| Cutucada em Marcelo
Carmelita Castro (Reprodução/Rádio Serra da Capivara)
A prefeita de São Raimundo Nonato, Carmelita Castro (PT), voltou a alfinetar o senador Marcelo Castro (MDB). Em entrevista à Rádio Serra da Capivara na sexta-feira (20), ela contestou as afirmações do senador de que seu grupo rompeu com a gestão municipal porque foi excluído pela prefeita das discussões sobre 2024.
"Alguns que tão se queixando é porque quiseram sair, porque já estavam com vontade de sair. Não adianta falar 'ah me descartaram, não tem vaga pra mim'. Formiga quando quer se perder, cria asas", falou.
| Sábado movimentado
Pablo foi lançado pelo MDB (Reprodução/Instagram)
O fim de semana foi bastante movimentado na cena política de Picos. O MDB lançou oficialmente no sábado (21) a pré-candidatura do deputado estadual Pablo Santos a prefeito da cidade. O evento reuniu as principais lideranças do MDB, entre elas o senador Marcelo Castro e o vice-governador Themístocles Filho.
O evento de Pablo Santos reuniu deputados de outros partidos, entre eles o novato Thales Coelho (Progressistas). Embora seja do mesmo partido do atual prefeito Gil Paraibano, que vai buscar a reeleição, Thales apoiará Pablo. Ele tá num pé e noutro para se chegar no governador Rafael Fonteles (PT) e vê no apoio a Pablo uma boa ponte.
| Jeová vai intensificar
Jeová Alencar (Foto: Eduardo Amorim/Lupa1)
O deputado estadual Jeová Alencar (Republicanos) tem negado na imprensa as informações de que haveria um acordo entre ele e o ex-prefeito Sílvio Mendes para composição de uma chapa majoritária com os dois nas eleições de 2024. No entanto, o que Jeová não faz muita questão de negar nas conversas de bastidores é que ele ainda tem em mente uma candidatura a prefeito da capital, que se daria a partir de uma esperada - e trabalhada - desistência do prefeito Dr. Pessoa.
Com a saída de Bárbara do páreo, a chama da candidatura ao Palácio da Cidade ficou ainda mais acesa em Jeová. Vale lembrar que Jeová foi o campeão de votos para deputado estadual em Teresina. Enquanto ele teve quase 29 mil votos na capital, Bárbara teve pouco mais de 21 mil.