O país que aceitou se contentar com notas de repúdio

Mais grave crise da nossa história recente é realçada pela inoperância.

17 de janeiro de 2021 às 08:24

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O Brasil vive um momento extremamente difícil. Não apenas pela pandemia do novo coronavírus, embora seja esta, indiscutivelmente, a nossa maior tragédia atual. De aspirante a potência econômica, regredimos para um país em crise constante, com alto nível de desemprego, instabilidade política, preços nas alturas e pouca moral internacional. A pandemia, que atinge o mundo inteiro e não perdoou nem mesmo as maiores potências, veio para degringolar um Brasil que já estava fora dos trilhos.

Enquanto milhares de brasileiros morreram na pandemia e outros milhares sofriam (e sofrem) a dor da perda, assistimos a um descompasso quase inacreditável na condução da crise sanitária. Misturou-se fanatismo e cegueira política com questão de saúde pública. Teve gente contestando a ciência e seguindo a opinião de agentes públicos de conhecimento sabidamente tacanho. Teve gente indo às ruas atacar as instituições democráticas enquanto especialistas em saúde pediam distanciamento social.

Os efeitos da pandemia são graves por si só, mas no Brasil enfrentamos, além deles, outros males. Aqui também somos obrigados a enfrentar o obscurantismo, a incompetência, a falta de compaixão, a falsa fé e a politização praticada, em grande parte, por figuras que não sabem a diferença entre estadista e “caçador de conversa”. Dizem que é nas crises que surgem os grandes líderes. No Brasil, tem ocorrido o contrário. Foi na crise que conhecemos os medíocres.

Diante de tantos absurdos, vimos (e continuamos vendo) instituições essenciais para o país não fazerem nada de efetivo para frear o avanço do ódio, da omissão e da incompetência no enfrentamento dos problemas nacionais. Foram, aos poucos, deixando imperar no Brasil as atitudes de quem não tem grandeza, nem altivez, nem seriedade e muito menos liderança. Para cada absurdo diário, apenas uma nota de repúdio, uma manifestação com palavras e adjetivos bonitos, mas sem eficácia prática nenhuma.

Chegamos em 2021 e vemos um país sem perspectivas. O gás nas alturas, a moeda desvalorizada, a gasolina custando mais de R$ 5 em cidades do interior, a pandemia matando, gente morrendo por falta de cilindros de oxigênio, empresas fechando. Enquanto isso, alguns frívolas nas redes sociais defendendo a insensatez, arrotando ignorância e tentando o tempo inteiro manter um debate baseado na divisão política do país.

Em meio a tudo isso, o máximo que temos de respostas a esse momento de inoperância e insensatez política são, quase sempre, notinhas de repúdio. De nota em nota, o país vai descendo a ladeira, como se fosse um caminhão velho sem freio e ainda por cima sem motorista ao volante. Na república das notas de repúdio, já não há ordem e nem progresso.