Thiago Trindade

“Rolezinhos” em Teresina: um problema sem fim

Sem a união das forças de segurança, reunião de menores de idade em motocicletas se torna febre na cidade.

21 de outubro de 2021 às 00:51
7 min de leitura

Os “rolezinhos” já não são novidade para as autoridades do Brasil afora. Já por aqui, além de conhecida, ela também cresce como rastro de pólvora.

Para quem ainda não conhece, trata-se de uma aglomeração de jovens, em geral menores de idade (eis aqui um dos grandes problemas) que ocupam vias públicas para praticar o chamado “grau”: manobras arriscadas em motocicletas, causando transtornos e sensação de insegurança para os cidadãos.


Jovens põem em risco suas vidas e a de todos nós que utilizamos as vias públicas da nossa cidade.
Agora, junte a isso o uso de álcool, drogas e outras substâncias ilícitas. Uma mistura certa para tudo dar errado.

Sem equipamentos de proteção obrigatórios, como capacete, esses jovens, em bandos, empinam suas motos e fazem pirotecnias nas vias públicas e em pontos centrais de Teresina, principalmente na Ponte Estaiada, como forma de diversão, cometendo infração gravíssima segundo o código de trânsito brasileiro, além de colocar em risco eles e nós, cidadãos, que transitamos por nossas ruas e avenidas.

Na última sexta-feira (15) levei este assunto pela primeira vez ao Brasil Urgente Piauí. Poderia ter sido apenas mais uma reportagem das tantas que divulgamos por lá todos os dias. Mas não foi. No decorrer do fim de semana me deparei pesquisando na internet, com grupos de jovens com conta no Instagram, na cidade de Teresina que chegam a ter mais de 20 mil seguidores. Lá eles postam e organizam suas reuniões semanais que reúnem centenas de jovens.

Já cedo na segunda (18), convidei o coordenador municipal de segurança de Teresina, Coronel Nixon, para conversarmos sobre as possíveis soluções para este problema, ao vivo na TV Band. Me espantava ali, a falta de medo e a ousadia desses jovens até diante das viaturas da guarda municipal de Teresina. Nos vídeos que obtive, elas eram as únicas viaturas presentes nas imagens, tentando ali, em vão, repelir a ação de centenas de jovens.

Entrei em contato com algumas autoridades de segurança pública, tentando compreender todo o caso e também questionei alguns amigos da imprensa.

Concluí que hoje a polícia está ciente, que os órgãos de trânsito estão cientes, que a segurança pública da cidade está ciente. O que me parece é que falta integração e diálogo entre os responsáveis, para uma ação conjunta e efetiva.

Precisamos ir à fundo nessa questão, que é mais delicada do que parece: não podemos tratar os rolezinhos como algo de responsabilidade somente policial, já que os encontros são formados por menores de idade. Ainda que presos, estarão soltos no dia seguinte e com certeza, presentes no próximo “rolezinho”.

É essencial um plano de ação formado pela rede de proteção à criança e adolescente, que envolva o Conselho Tutelar, Promotoria da Infância e Juventude, Vara da Infância e Juventude do município e, também, a Polícia Civil e Militar, além claro, da STRANS e outros órgãos competentes.

Entenda: não estou defendendo atos ilícitos ou comportamentos irresponsáveis. A estes, cabe a justiça a penalização pelas suas infrações. Sabemos que as crianças e jovens têm seus direitos, direito à educação, a saúde e também ao lazer. E é isso que eles saem em busca: de lazer, de entretenimento.

Essas manobras realizadas, se feitas em ambiente seguro, com regulamentação e fiscalização, se tornariam aqui um esporte, que pasmem, tem até nome internacional: “wheeling”, febre entre os amantes de moto e adrenalina.


Fica aqui claro que os nossos jovens precisam é de acesso aos esportes, de lazer e cultura, âmbitos que deixam a desejar em nossa cidade há muitos anos.

Eles precisam de lazer seguro, sem colocar em risco suas vidas ou as vidas das outras pessoas. É aquela história: o seu direito acaba onde começa o meu. E o meu e o seu direito é de não sermos colocados em perigo por motos desgovernadas, pilotadas por menores de idade como se vivessem as margens da lei.

Precisamos de uma força-tarefa, com a presença do Conselho Tutelar, notificando também os pais desses menores.

Por falar nisso, aos pais que aqui me leem, fica o recado: tomem as rédeas na educação dos seus filhos. Citei acima que os jovens têm os seus direitos, mas principalmente, tem também os seus deveres. Judicialmente, todo pai é responsável por esses menores. Se preso, pode e deve ser chamado a responder pelo seu filho, por qualquer ato inconsequente por ele cometido. Está na lei.

Convoco aqui a mobilização do Ministério Público, da Vara da Infância e Juventude, o Conselho Tutelar, assim como as nossas polícias, cada um dentro da sua responsabilidade, para uma verdadeira união de forças. Não podemos deixar esses jovens soltos, em vias públicas, e mais ainda escancaradamente na Ponte Estaiada - nosso cartão postal, sem limites e sem responsabilidade, arriscando suas vidas e arriscando também a vida de nós, cidadãos.

Não dá para fingir que ninguém vê.
É preciso agir. Para ontem.

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